A escrita matemática tem estado na base de várias publicações em livros e artigos científicos de investigadores de todo o mundo. O Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente, depois de acolher as recomendações dos membros participantes na primeira Conferência Internacional Sobre Educação Matemática em Angola, realizada em 2019 na província da Lunda-Norte, elevou-a a património.
A elevação dos Sona a património cultural imaterial vem publicada em Diário da República de 20 de Abril, consultado pelo Novo Jornal esta terça-feira, 26.
Carlos Yoba, o reitor da Universidade Lueji A' Nkonde, disse ao Novo Jornal que a universidade, num esforço conjunto com o governo da Lunda-Norte, conseguiu junto do Ministério da Cultura elevar os Sona a património cultural.
"Os Sona é um conjunto de figuras geométricas que as populações, fundamentalmente da zona do leste de Angola, fazem recurso para as suas comunicações no âmbito cultural e social. Serve, no campo da matemática, para ajudar os estudantes a fazer cálculos a todos os níveis. No processo de aprendizagem são jogos matemáticos que os mais velhos utilizam na região para transmitir conhecimentos e experiência. Daí o seu impacto no processo da aprendizagem", explicou.
O estudo dos Sona, segundo Carlos Yoba, transcende as fronteiras nacionais e esta escrita é investigada por especialistas africanos, europeus e americanos que entram directamente em contacto com os povos.
"Estamos de parabéns por conseguir elevar este material cultural tchokwe a património cultural imaterial nacional. Isso resguarda e conserva a nossa originalidade", contou, acrescentando que "sempre houve muito interesse por parte dos estrangeiros em aprofundar os Sona. E nós estávamos um pouco adormecidos e quase perdíamos a originalidade".
O reitor da Universidade Lueji A' Nkonde considera ser urgente a inserção dos Sona no currículo do ensino da Matemática em Angola, porque garante uma formação multicultural para todas as franjas.
"Os investigadores concluíram durante a conferência que aspectos culturais bem compreendidos podem influenciar positivamente no processo de ensino e aprendizagem, daí que devem ser valorizados".
Os Sona eram usados para comunicação dos ancestrais da Lunda-Norte, em forma de gravuras em paredes de casas, árvores e na areia das aldeias para serem decifradas pelos demais membros da comunidade.
De difícil decifração, as gravuras encontram-se actualmente no Museu do Dundo e em livros que retratam a culturas bantu, mas já foram retratadas na longa-metragem "Os deuses da água", numa co-produção entre a Argentina e Angola, em 2013.
Sona (plural de lusona), termo que serve para designar a escrita em geral (letras, figuras e desenhos), são a combinação de pontos e traços feitos na areia. Trata-se de uma cultura dos Cokwe e de povos relacionados como os Luchazi e Ngangela, que vivem no leste de Angola e em zonas vizinhas, na Zâmbia e na República Democrática do Congo. Os sona são uma forma de manifestação cultural com grande valor para a Matemática.
Jorge Dias Veloso, o promotor da primeira Conferência Internacional Sobre Educação Matemática em Angola, disse ao Novo Jornal que o conhecimento dos Sona tem passado de geração em geração pela via oral, o que tem contribuído para a redução significativa dos conhecedores desta arte.
No entanto, prossegue, o departamento de Matemática, da Escola Superior Pedagógica da Lunda-Norte, da Universidade Lueji A' Nkonde, trabalha com os seus estudantes no sentido de levar ao conhecimento da sociedade o grande valor desta arte.
O Novo Jornal soube, junto das autoridades governamentais da Lunda-Norte, que está ser preparado um grande acto para dar a conhecer às populações e aos estudantes a elevação dos Sona a Património Cultural Imaterial Nacional.