Angola vai continuar, pelo menos mais por quatro anos, a fazer parte dos Países Menos Avançados (PMA), depois de o governo admitir esta semana que a "derrocada do preço do petróleo no mercado impede o país de entrar para o grupo de países considerados pelas Nações Unidas como de Rendimento Médio (PRM). O processo deverá ser reaberto apenas em 2020.

Em Fevereiro deste ano, a Assembleia--Geral das Nações Unidas havia adoptado uma resolução sobre a graduação de Angola após um período de transição de cinco anos. Angola passava a ser o segundo país africano de expressão de portuguesa, a par de Cabo Verde, a atingir esse estatuto, o que na ocasião Ismael Martins, o embaixador de Angola junto das Nações Unidas, definiu como "um desafio para a nação angolana".

Bem feitas as contas, o Governo decidiu recuar devido à actual situação que o país enfrenta. Uma decisão que instiga a crítica dos partidos da oposição com assento parlamentar, que consideram a "justificação é infundada", quando José Severino, o presidente da Associação Industrial de Angola (AIA), fala numa medida coerente.

Político fala em gestão desastrosa

O vice-presidente da UNITA, Raul Danda, duvida que a queda do preço do barril de petróleo justifique de todo o que considera uma "gestão desastrosa do executivo". Danda afirma que o problema não está necessariamente no preço do crude, mas na forma como o MPLA gere o país, afirmando que com o governo do MPLA dificilmente "sairemos do grupo de Países Menos Avançados".

"O Governo tem que deixar de ser despesista e gastar dinheiro descontroladamente, abandonar orçamentos sem equilíbrio e falsos e olhar pra frente", defendeu numa reacção à Voz da América.

Raul Danda aponta que não faz sentido continuar a falar-se em diversificação da economia, quando sectores como a agricultura, pescas e indústria extractiva continuam a ser vistos como se não fossem importantes.

Manuel Fernandes, da CASA-CE, defende que nem mesmo em 2020 Angola conseguirá do grupo dos PMA. "Só será possível termos outra classificação quando o cidadão que em Angola é considerado pobre tiver acesso a todas as refeições. No entanto, a maioria dos angolanos ainda vive com menos de três dólares dia, assim não se pode falar num país a caminho do rendimento médio. Continuamos a ser uma economia atrasada", frisou Manuel Fernandes.

Medida acertada

Opinião contrária tem o presidente da Associação Industrial de Angola (AIA) e membro do Conselho da República, José Severino, que considera a medida do Governo acertada por não haver outra saída ante o actual preço do petróleo.

"A queda do preço do petróleo justifica a medida, não vejo outra alternativa para o executivo nesta questão de observação internacional. O Governo decidiu assim por poder contar com alguns fundos internacionais e ter uma margem de manobra maior no seu relacionamento com o FMI e o Banco Mundial", justificou Severino.