(...) entender que só através de um processo sério e transversal a todos - muito para além dos interesses partidários - será possível a consolidação de um grau de independência económica que nos permita não estar subjugados a nenhum bloco político nem a interesses neocoloniais que vêm de todo o lado, como está mais do que visto.

Entre comícios e banhos de multidão, perfeitamente comuns e legítimos em momentos de preparação para eleições, há-de haver o outro lado da moeda, o qual não obriga à utilização da verborreia, do discurso fácil e da conversa, numa linguagem mais ou menos popular. Que, se pode conquistar votos, não tem, no plano das grandes decisões nacionais, o carácter obrigatório de chamar à liça quadros de competência comprovada, que têm opiniões abalizadas a todos os níveis das várias áreas em que assenta a economia angolana. Ouvi-los, pedir e receber as suas opiniões, recolher o quanto já foi feito no plano científico seja na agricultura, na indústria, nas pescas, na construção, na administração local, na saúde e no ensino, na educação e na cultura cívica.

Contrariando o mais possível a ideia sempre redutora de só dar ouvidos aos que pertencem ao nosso círculo de interesses, partido político ou outras quaisquer formas de organização que nada mais façam do que ser "as vozes dos donos", partindo do pressuposto mais do que provado de que nos vão dizer o que nos interessa ouvir.

Vão mentir, trapacear, enganar, deixando com relativa facilidade o rigor das análises sustentadas e socorrer-se do discurso cansado e prejudicial de sempre para o país, enganando os que, do ponto de vista político, decidem as grandes definições das políticas nacionais de desenvolvimento, que, com alguma estranha ingenuidade e sem justificações que sejam plausíveis, as "consomem" como certas, parecendo mostrar que gostam de ser constantemente enganados.

Gostaríamos imenso de assistir a encontros de todos os potenciais candidatos com associações profissionais, económicas, socioculturais, sem estigmas nem separações por causa das pertenças políticas. Ouvirem, lerem e estudarem com a devida atenção que, por exemplo, a comunidade científica tem para dizer, sem ninguém estar preso às vendas dos interesses exclusivamente partidários, antes abrindo as contribuições contra o grave momento que vivemos a todos, mesmo aos que, fora de moda, são apenas patriotas, amam a sua Terra e não manifestam grande interesse em entrar nas lógicas dos partidos políticos.

A política de exclusão de vozes competentes, sérias e conhecedoras - apenas porque algures, a meio do caminho, há sempre uma legião de intermediários, de intriguistas, de mentirosos, sem lugares à disposição se se encontrarem num meio intelectual de certo nível, onde não podem praticar a política do "se não é por nós é contra nós" - apenas aprofunda a separação entre a realidade objectiva e a que é vendida aos que governam por ouvir dizer.

Quantos quadros não estão afastados de vários centros de decisão por discordarem de várias estratégias até agora adoptadas e por não lhes ser permitido opinar e justificar as suas próprias escolhas?

Quantos especialistas nas mais diversas matérias não estão de boca calada por recearem a permanente política dos funcionários intermediários de qualquer nível que bloqueiam sistematicamente quem quer participar, quem quer ter uma voz activa e, não pertencendo a nenhuma força político-partidária, se vê ostracizado, silenciado, sem espaço para poder opinar e intervir?

A existência de Angola é bem mais importante do que todos os interesses de grupo, familiares, partidários ou de solidariedade militante, seja de quem for.

Queira-se ou não, temos, como sempre tivemos, gente que pensa, que estuda, que escreve, que lê, que investiga e que tem de ter o direito de intervir sem que seja obrigada a integrar-se seja em que estrutura for.

Quem os ouvir, quem os compreender e quem souber beber da experiência destes terá meio caminho andado para uma vitória eleitoral folgada. Inclusiva e abrangente, aprofundando de verdade a unidade nacional.