"(...) Neste âmbito, importa salientar o papel reservado à juventude, a única força motriz capaz de vencer todos os desafios. É importante que se aprofunde a qualidade da sua educação, no plano técnico e cultural, para que a sua formação específica não deixe de levar em conta o contributo dos grandes homens das diferentes culturas e civilizações, que ao longo dos séculos nos ajudaram a compreender e a amar o mundo e os nossos semelhantes. É com esperança no empenho dessa juventude que mantenho o optimismo e continuo a acreditar que podemos legar um mundo melhor aos nossos descendentes", disse o Presidente João Lourenço, no seu discurso na Assembleia Geral da ONU, no dia 24 de Setembro de 2019. A inclusão da juventude nos discursos e nas políticas do Executivo é importante e crucial, João Lourenço sabe disso e ao longo destes quase três anos de governação procura deixar isso vincado nos seus discursos em território nacional e no estrangeiro. A inclusão de quadros jovens com funções relevantes no seu executivo, nos quadros da Cidade Alta ou até mesmo no seu partido (MPLA) é um sinal bastante revelador de uma estratégia de governação que passa pela juventude através da renovação geracional em curso.

A aproximação de João Lourenço à juventude não é inocente, não é natural ou ingénua, ele sabe que, se o fizer através de uma forma de comunicar bem conhecida e apreciada por eles, faz toda a diferença e isso pode ser uma forma de deixar a sua marca em termos de governação. João Lourenço sente a necessidade de mobilizar os jovens para as grandes causas e de caminhar com eles em busca de soluções práticas e objectivas.

João Lourenço sabe que o tempo pode não ser um bom aliado, que as resistências dentro e fora do MPLA existem e persistem, que 2022 está próximo e até lá é preciso renovar o discurso e os autores. O discurso de combate ao nepotismo, a impunidade e a corrupção começa a estar gasto e ele sabe que não resistirá até 2022. Por isso precisa de começar a mexer as peças do seu "tabuleiro de xadrez" e ensaiar novas jogadas. O MPLA precisa de ter uma nova forma de abordar certos factos e situações da vida política, económica, social e cultural.

O MPLA precisa de estabelecer uma nova relação com os seus militantes e com os eleitores, precisa de alargar a discussão para temas como a democracia, liberdade de expressão e disciplina interna, precisa de alargar o diálogo e criar espaços para debater o contraditório.

O "MPLA real" precisa de ir ao encontro de um "MPLA virtual" que nasce e cresce todos os dias nas redes sociais e que tem sido uma alternativa ou espaço de excelência para militantes (na sua maioria jovens), manifestarem o seu descontentamento ou discordância em relação às actuais lideranças e políticas do partido. João Lourenço sabe disso e percebe que tanto os seus camaradas de partido ou membros do seu executivo precisam de começar a olhar para o cidadão não apenas como a garantia de um voto e da manutenção no poder; é preciso olhar, falar e ouvir o cidadão 365 dias ao ano e não apenas antes e durante as eleições e depois esquecer-se dele. É preciso deixar de lado a chamada "mentalidade de trincheira": quem não é por nós é contra nós. Que quem não concorda connosco deve automaticamente receber o rótulo de inimigo.

É preciso que o principal e mais importante compromisso dos políticos e governantes seja com o país e com os cidadãos. É isso que esta "nova governação juvenil", ainda bastante activa, cheia de ideias e sem vícios e arrogância, precisa transmitir e materializar.

Os ministros são auxiliares do titular do Poder Executivo (TPE), a missão primária deles é auxiliar o TPE a materializar o programa de governo sufragado nas eleições. O que se exige aos auxiliares do TPE é que consigam interpretar correctamente o programa e ajudar na sua materialização/cumprimento. Quando se é muito jovem e se entra na política não se tem noção do cinismo, das manobras, das intrigas e bloqueios que por lá grassam e em abundância. Portanto, o sucesso desta "nova governação juvenil" vai depender essencialmente do apoio, das aberturas, da protecção e orientação do TPE.

Vai depender muito do quanto estarão "amarrados" ou condicionados à uma maquina partidária muito burocrática, controladora e com grande influência nas chamadas decisões finais, vai depender muito de como irão perceber que devem governar para o país e não para o partido, apesar de estarem a materializar um programa de governo todo ele "temperado e cozinhado" no seio do partido. E aí João Lourenço pode fazer toda a diferença, pode marcar posição e começar a preparar o legado. Porque amanhã, tal como o seu antecessor, João Lourenço será julgado não necessariamente pelo que fez mas sim por aquilo que não fez, ou melhor, por aquilo que não deixou.

Por isso, tal como a mulher no aeroporto Humberto Delgado, eu também "só vim saudar". E parece que o futuro está a começar agora. Parece ou, pelo menos, fica a ideia. Como disse George Bernard Shaw: "As ideias são como as pulgas, saltam de uns para outros, mas não picam todos". Eu "só vim saudar" o PR João Lourenço e a "nova governação juvenil". Eu "só vim saudar"...