Na Itália, as pessoas só podem deixar as zonas de residência por motivos de força maior, são aconselhadas a ficar em casa e a reduzir as saídas ao mínimo. A imagem que o jornal "La República" estampou na primeira página, de uma enfermeira de 40 anos que adormeceu exausta sobre o teclado de um computador, revela bem o fracasso das autoridades em lidar com o assunto.

É bem visível a incapacidade, a impreparação que muitos países europeus estão a ter para lidar com o Coronavírus em áreas cruciais como a economia, saúde, comércio, turismo e segurança. Como é viver num país que está todo ele em quarentena?

Ruas desertas, espaços públicos vazios, escolas e universidades encerradas (na quarta-feira, 11, Madrid fechou todas as creches, escolas e universidades. Em Portugal, escolas e universidades também já foram encerradas), jogos de futebol à porta fechada e jogadores proibidos de se cumprimentarem entre si, concertos cancelados e vários eventos mundiais adiados.

Em Portugal, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa decidiu ficar em quarentena após ter mantido contacto com uma criança suspeita de estar infectada pelo Coronavírus e que participou com os colegas de escola numa actividade cultural no Palácio de Belém. Já fez o teste e o resultado foi negativo, mas por agora, nada de selfies, beijos, apertos de mãos e abraços em público.

Parece surreal, mas esta semana foi anunciado que a ministra da Saúde do Reino Unido teve resultado positivo no teste do Coronavirus. Alteram-se rotinas e hábitos sociais, a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) sugeriu novas formas de cumprimento, indicando a vénia tailandesa como um dos melhores comportamentos numa situação de pandemia. Temeu-se que o próprio Papa Francisco pudesse estar infectado, depois de ter surgido a espirrar na Praça de São Pedro. A Igreja Católica já terá tomado medidas de prudência nas celebrações e espaços litúrgicos. O gesto da paz, o momento em que os fiéis se cumprimentam durante a missa, está a ser evitado enquanto durar a epidemia. Alguns países debatem-se com questões legais para limitar a mobilidade ou liberdade de circulação dos seus cidadãos (em Portugal, a Constituição da República não permite limitar a liberdade dos cidadãos por questões de saúde). O que acontece na Itália (o Governo colocar o país inteiro em quarentena) só poderá acontecer em Portugal se for declarado o estado de sítio ou de emergência. Em Angola, o ministro das Relações Exteriores, Manuel Augusto, restringiu "o movimento para o exterior do país dos Directores dos Órgãos Executivos Centrais Internos e demais funcionários" e suspendeu todas as deslocações em serviço "dos Chefes das Missões Diplomáticas e Consulares de Angola e restante pessoal diplomático", numa circular divulgada esta semana. A OMS está a pressionar o Governo e pretende fazer visitas aos centros de quarentena de Calumbo e da Barra do Kwanza para constatar in loco o seu funcionamento. No Namibe, o pânico esteve instalado com o anúncio da chegada de um cruzeiro no dia 26 deste mês, e houve, por isso, promessas de manifestações populares caso os turistas decidissem sair do navio para um passeio pela cidade de Moçâmedes. As autoridades locais tranquilizaram a população garantindo que o navio não atracaria no Porto do Namibe.

As pessoas têm medo de sair de casa e, em muitos países, o teletrabalho passou a ser a solução (e até mesmo uma obrigação), para quem está em quarentena ou num regime de "reclusão" imposto pelas actuais circunstâncias. "O medo é um vírus e a sua vacina é a informação", alertou o virologista italiano Roberto Burioni. A informação é ainda a melhor vacina contra os medos e os alarmismos. É que no meio disto tudo surgem as notícias falsas e as redes sociais com informações virais e sensacionalistas que influenciam negativamente o comportamento humano. Mitos, tabus, estigmas e preconceitos (inicialmente, houve um surto mundial de sinofobia).

É preciso que se faça um grande trabalho informativo e pedagógico em torno do Coronavírus. É preciso debater, é preciso comunicar, é preciso informar, é preciso clarificar, é preciso explicar. O Novo Jornal, em nome do interesse público, da nobre e complexa missão de informar tem dedicado o seu "Especial Informação" a destacar o Coronavírus e nesta edição, além do impacto e consequências económicas, trazemos também depoimentos de cidadãos angolanos residentes na Itália, Reino Unido e França. É nosso entendimento que a informação pode ser uma vacina eficaz neste combate.

E principalmente agora que a OMS declarou o Covid-19 como pandemia... não tarda, e a quarenta entrará "em cena" em quase todos os países.