O Brasil está a procurar recuperar o tempo perdido pela Presidência de Jair Bolsonaro no relacionamento com África e Lula da Silva quer fazer coincidir o seu regresso ao Palácio do Planalto com a volta do seu país ao enorme centro de negócios que o continente foi sempre para o gigante sul-americano.

E a visita a Angola, de 25 a 26 deste mês, nas próximas 5ª e 6ª feira, é a confirmação das intenções de Lula da Silva, que, mesmo no período que mediou a saída do poder até ao seu regresso, especialmente nos anos de chumbo do extremista Bolsonaro, sempre deixou claro não perceber o erro que estava a ser o abandono político, diplomático e comercial a que o Brasil estava a "condenar" o continente africano.

Isto, porque o seu tempo de Governo, como 35º Presidente brasileiro, de 2003 a 2010, coincidiu com uma acelerada entrada das grandes empresas brasileiras em África, onde Angola foi um exemplo cimeiro, desde logo através das suas construtoras e grandes exportadoras de alimentos, com o apoio vigoroso do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES)...

Primeiro, timidamente, com Dilma Rousseff, e depois, de forma acelerada, com Bolsonaro, o Brasil desistiu de África, mas Lula nunca aceitou esse facto, prometendo, mesmo a sua campanha, que iria reverter esse processo. E é o que está a fazer.

Tendo aproveitado a sua presença na 15ª Cimeira dos BRICS, na África do Sul, para enfatizar a sua decisão estratégica de fazer a maior economia sul-americana regressar a África, através das suas empresas, investidores e cooperação política... porque, frisou, "o Brasil e os países africanos partilham objectivos comuns de acaba com as disparidades no acesso à riqueza, de género e de raça".

Lula, que visitou mais de 20 países africanos durante os seus dois primeiros mandatos, disse ainda em Joanesburgo que o seu país e a generalidade dos países africanos comungam de uma mesma visão" sobre o futuro, o que é o ponto de partida ideal para a reconsolidação dos laços com os parceiros do continente, como "continuação de um passado que une" o Brasil e os africanos em geral.

Mas avisou que o seu objectivo não é apenas regressar, é garantir que este regresso não ficará dependente da vontade política de um futuro Chefe de Estado, o que só será possível com o entrelaçar das economias em questão, a brasileira e as africanas, porque "nunca deveríamos ter permitido este abandono".

"Nunca deveríamos ter saído de África, um continente que oferece vastas oportunidades e tem um potencial inigualável de crescimento", disse Lula, acrescentando que esse novo trajecto comum terá na plataforma BRICS - uma organização que agrega, alem do Brasil, a China, a Índia, a Rússia e a África do Sul - um suporte suplementar, que exponencia as possibilidades para todos os envolvidos.

No que toca a Angola, cujas relações bilaterais são históricas - o Brasil foi o primeiro país a reconhecer a independência angolana -, os objectivos são claros e bem conhecidos de ambos os Governos. Enquanto Angola quer ver os investidores brasileiros a apostar na sua economia, especialmente no sector exportador, como o da agro-indústria, o Brasil, além disso, tem no mercado angolano um manancial por explorar para os seus principais exportadores.

Além disso, a cooperação nas áreas da saúde, cultural, educação, agricultura são terrenos férteis para acrescentar músculo à já muito relevante parceria estratégica que liga Luanda a Brasília, que, recorde-se, foi abalada não só pela opção estratégica de Bolsonaro, mas também aos escândalos de corrupção que fragilizaram estes laços, especialmente com foco na área da construção, como foi o caso da Odebrecht, ou do próporio destino dos dinheiros do BNDES. (Ver links abaixo nesta página)