A Associação dos Moto-taxistas e Transportadores de Angola (AMOTRANG) tem o registo de 30 mil associados em Luanda e fala em mais de um milhão de motos que circulam ilegalmente no País, sendo que os bairros periféricos e os musseques de Luanda são o palco principal dos que se dedicam a esta actividade de forma ilegal na província.

São jovens, na sua maioria desempregados, que mesmo antes de o sol raiar, já estão em cima da sua moto-táxi em busca de clientes, em cada vez maior número no centro da cidade, cobrando aos passageiros entre 500, por exemplo, entre o 1º de Maio e os Congolesnes, a 7.000 kwanzas, que é o custo do transporte entre a Mutamba e a centralidade do Kilamba.

São funcionários públicos, na sua maioria administrativos, homens de negócios, estudantes universitários, quem diariamente mais procura os serviços dos moto-táxistas que operam no centro da cidade de Luanda.

No casco urbano, as rotas mais utilizadas são: Aeroporto - Mutamba, que custa 1.500 kzs, Maculusso - Mutamba, 1000 kzs; Maianga - Ilha de Luanda 2.500 kz; 1º de Maio - Marginal de Luanda, 2.500; Congolenses - 1º de Maio, 500 Kz; 1º de Maio - Cazenga, 1.000 kwanzas; Hospital Américo Boa Vida - Mutamba, 1000 kz.

Do Cassenda ao Largo da Maianga, o valor ronda os 1.000 Kz, enquanto do 1º de Maio à Vila de Viana a viagem custa 4.000, os mesmos preços que são cobrados para a viagem entre a Sagrada Família e o Talatona e do Zé Pirão ao Benfica.

Já do largo da Mutamba às centralidades do Kilamba e do Cequele os preços variam entre 6.000 e 8.000 kz.

Quem opta por um moto-táxi do centro da cidade para outros pontos de Luanda, os 'kupapatas', ou motoqueiros como também são conhecidos, garantem rapidez para chegar a qualquer local de Luanda, atravessam o trânsito compacto que deixa os nervos à flor da pele dos automobilistas como se nada fosse com eles, o que leva a que sejam cada vez mais aqueles que preferem deixar o carro em casa para "voarem" para o trabalho sob o assento de uma... Keweseki.

E, porque são cada vez mais os clientes que se apresentam de fato e gravata, os motoqueiros não estão com meias medidas e "aceleram" o preço, que pode traduzir-se por, por exemplo, mais 500 kwanzas numa deslocação que usualmente custa 2 ou 3 mil.

Mas isso não parece constituir um problema para este tipo de clientes, porque, como explicou um moto-taxista ao NJOnline, "para estas pessoas, o mais importante não é o que pagam, é o tempo que demoram a chegar. 200, 300 ou mesmo 500 kwanzas a mais não os afecta, mas 5 ou 10 minutos a menos é decisivo".

"Aparência é documento, kota", disse sorridente, ao NJOnline o jovem Arlindo Mateus, ex-militar das FAA e agora moto-taxista que não deixa a velocidade de entrega do cliente ao destino em mãos alheias.

"As pessoas, quando nos procuram, já sabem que vamos levá-las ao destino o mais rápido possível, para honrarem os seus compromissos", explicou o antigo logístico das Forças Armadas Angolanas, que trabalha por conta própria após conseguir comprar a sua motorizada com as poupanças de vários meses, antes de ter sido desmobilizado.

Já nas zonas suburbanas, bairros e musseques, os preços são medidos na rota dos candongueiros, (150 a 200 kwanzas), outros alegam que não há limite de preços, pois, muitas vezes, a conversa entre o cliente e o prestador de serviço é que dita o valor a ser pago.

Os motoqueiros, ou "Kupapatas" trabalham na sua maioria por conta própria, e transportam em média entre 10 a 30 pessoas por dia, os lucros variam consoante a clientela e quem trabalha na cidade pode levar para casa 15 ou 25 mil kwanzas. Já os das zonas suburbanas levam em média para casa entre 5.000 a 8.000.

Um trampolim para subir na vida

João Afonso Chita, moto-taxista há cinco cinco anos, é outros dos contractados pelo NJOnline que referiu que muitos dos clientes têm viaturas próprias mas preferem andar na cidade com os moto-taxistas divido aos engarrafamentos

"Fugimos dos engarrafamentos que há na baixa, conhecemos as ruas e isso ajuda-nos a chegar mais cedo ao destino", explicou o motoqueiro, lembrando que "não é fácil trabalhar como moto-taxista na cidade porque é obrigatório conhecer todos os cantos".

Como qualquer actividade, embora tenha vantagem que consiste em o passageiro chegar rapidamente ao destino e circular nas zonas de difícil acesso, o serviço de moto-táxi apresenta riscos relativos à segurança no transporte e à falta de capacetes.

Quando a Polícia os interpela, têm de ter carta ou licença de condução, em função da cilindragem da motorizada, licença de táxi e seguro. Sem estes requisitos preenchidos, a maka é grande e é por isso que "nenhum moto-taxista trabalha na cidade sem documentação. Aqui a polícia está sempre em cima", garante o motoqueiro João Chita,.

"Eu consigo, sustentar a minha família, com essa actividade, eu vivo graças à moto e tudo que eu tenho hoje foi feito mesmo nesse serviço que presto à sociedade de Luanda, mas tenho pensamento de que amanhã irei conseguir um emprego fixo e deixar essa actividade que é cansativa", disse Nelson Kiloba, ex- funcionário da Empresa Nacional de Pontes de Angola (ENPA), que exercesse está actividade há 4 anos.

O antigo maquinista na ENPA explicou que muitos jovens, hoje, "estão a exercer esta actividade porque não há empregos".

Um milhão de motos que circulam ilegalmente no País.

Em declarações ao NJOnline, o presidente da Associação dos Moto-taxistas e Transportadores de Angola (AMOTRANG), Bento Rafael, referiu que há no País cerca de 600 mil motos inscritos legalmente na associação, desde número, 30 mil estão em Luanda e que há mais de milhão de motos ilegais em Angola.

"Esta actividade representa um perigo à vida humana quando o moto-taxista desconhece o código de estrada", disse Bento Rafael, presidente da AMOTRANG, chamando a atenção para o facto de ser essencial cumprir as regras para minimizar o risco.

Bento Rafael alertou que antes de se conduzir uma motorizada, deve passar-se por uma formação, por isso é que a AMOTRANG tem salas de aulas espalhadas pelo País para contribuir no esforço de redução dos acidentes.

Para criar ambiente harmonioso na actividade dos motoqueiros, que começou nas províncias de Benguela e do Huambo, a associação dos motoqueiros tem realizado acções de formação a nível de Angola, nas línguas faladas em cada região, tendo em conta o baixo nível de escolarização de muitos operadores.

A actividade, refere o responsável da AMOTRANG, devia ser subdividida em classes - uma que poderia circular nas vias primárias, os já formados, e outra a circular nas vias secundárias e terciárias, até que receba uma formação e que demonstrasse evolução.

"Não há licença para os serviços de moto-táxi, em Angola, devido à inexistência de legislação sobre o exercício desta actividade, mas os agentes da Polícia prendem as motorizadas e aplicam multas, situação que nos inquieta", lamentou.

Dissolvente para o mal-estar social que o desemprego provoca

O responsável apela às autoridades competentes para olharem mais a esta actividade, reafirmando a sua existência em função da falta de emprego e porque cada um dos jovens que utiliza a sua moto para exercer de forma responsável esta actividade é menos uma pessoa que está pressionada pela falta de emprego.

"Não queremos tirar o pão dos jovens, porque esse aumento significativo de moto-taxistas em Luanda, e também no resto do País, tem a ver com a falta de emprego, mas precisamos regular o exercício desta actividade profissional", argumentou.

O responsável disse ao NJOnline que já escreveu para a Assembleia Nacional, no sentido dos representantes do povo criarem uma legislação para o efeito, mais nunca obteve resposta.

Quanto aos preços praticados em Luanda, Bento Rafeal disse que só será possível proceder à sua recuperação quando um dia o País tiver normas que ditam o exercício da actividade. Para já, os prestadores deste serviço não estão a incorrer em nenhum crime quando ocorrem diferenças nos valores cobrados por um determinado percurso.

"Por enquanto, as pessoas no terreno podem discutir os valores. Nada é definitivo, tudo depende da negociação entre as partes, passageiro e moto-taxista", explicou.

Com mais de 10 anos de actividade, a AMOTRANG, com sede em Luanda, conta com um total de 600 mil associados em todo o País, com a província de Luanda a liderar com cerca de 30 mil filiados.