Se o Presidente dos Estados Unidos aplicar mesmo, como vem ameaçando há semanas, 100% de tarifas às exportações chinesas e indianas, ou mesmo ao Brasil e à Indonésia, para os EUA se estes gigantes da economia mundial continuarem a comprar petróleo e gás russos, isso pode virar-se contra ele.
Isto, porque os mercados estão a admitir como possível que a Índia venha a ceder - no caso da China não - à pressão norte-americana e deixe de comprar energia russa, o que leva a uma redução de crude em circulação, o que resulta sempre num aumento do seu valor.
Ora, se tal vier a suceder, Donald Trump ganha um trunfo para lidar com a Rússia, na sua procura de cedências no Kremlin para um acordo de paz na Ucrânia, mas perde terreno na sua batalha interna contra a inflação.
E essa "guerra" interna é, provavelmente, mais importante para os seus interesses políticos - porque a economia está a passar por um período nebuloso e a inflação, a par do desemprego, é a parte em pior estado -, o que garante que Trump também não pode estender por muito tempo esta forma de pressionar Moscovo.
Mas no que importa para o negócio global do petróleo, e para os interesses imediatos da economia angolana, bem como de outros exportadores petrodependentes, a possibilidade de a Índia fechar a torneira russa está a ajudar o barril a recuperar de perdas relevantes nestes dias de incerteza.
Depois de quase duas semanas a perder valor, o Brent, a relevância maior para as ramas exportadas por Angola, está esta quarta-feira, 06, a subir quase 1,7%, para, perto das 12:40, os 68,71 USD, ainda abaixo dos 70 USD mas com tendência de subida.
Nesse período de perda chegou mesmo a consolidar por várias sessões abaixo dos 70 USD, a margem de segurança para as contas nacionais e o valor usado para elaborar o OGE 2025, onde ainda está, na verdade, mas com tudo a indicar que saia do buraco ainda esta sessão, ou na quinta-feira.
Esse cenário não verá a luz do dia, todavia, se a conversa que o enviado especial de Trump a Moscovo, Steve Witkoff, com Vladimir Putin, preencher as expectativas do Presidente dos EUA que deu mesmo até sexta-feira, 08, para russos e ucranianos aceitem terminar a guerra.
Essa possibilidade escorre por uma margem muito estreita e o mais provável é que esbarre em impossibilidades de um e do outro lado nas cedências que tal exigiria, desde logo a questão dos territórios em disputa (ver links em baixo).
E é por isso que os mercados estão a dar como mais seguro apostar no cenário em que os EUA avançam mesmo para as sanções e que a Índia venha a soçobrar, diluindo a quantidade da matéria-prima a fluir nos mercados internacionais.
Mas, como sempre, adivinhar é um exercício ainda por provar como possível, mesmo que muito do agrado dos analistas dos mercados, e, por isso, o melhor é esperar que os factos coincidam com o tempo das decisões políticas em Washington, Moscovo, Kiev, Nova Deli e Pequim... Ou não!