Por detrás desta queda do valor da matéria-prima que sustenta boa parte da economia nacional está, como tem sido costume ao longo dos últimos meses, a política errática do Presidente dos EUA para as tarifas alfandegárias.
Desta feita, por causa da ameaça de aplicar tarifas de 100% sobre os países que mantiverem, a partir da próxima semana, negócios com a Rússia, especialmente se continuarem a comprar o seu petróleo e gás a preço de saldo devido às sanções aplicadas pela União Europeia e os EUA.
Os visados principais são a China e a Índia, os dois gigantes asiáticos que são o sustentáculo das exportações de energia russas, com Donald Trump a visar com especial ênfase a Índia, o alvo mais frágil, visto que a China já fez saber que ignora as ameaças da Casa Branca.
Aparentemente, Narendra Modi, o primeiro-ministro indiano, também já insinuou que não vai ceder à pressão de Washington, mas os analistas duvidam da firmeza possível em Nova Deli devido às ligações robustas económicas entre a Índia e os Estados Unidos da América.
E é por isso que Trump visa com maior vigor a Índia porque sabe que é o elo mais fraco, embora os mesmos analistas admitam que existe o risco para o Presidente norte-americano de o tiro lhe sair pela culatra ao empurrar em definitivo Modi para os braços dos BRICS e afastar-se do ocidente...
Além desta crise tarifaria gerada por Trump, que tem ainda outro gigante, o Brasil, como alvo, embora Lula da Silva tenha já posto as cartas na mesa ao dizer que não teme as ameaças do norte-americano, o barril está igualmente a ser castigado pela já consolidada política de recuperação da produção pela OPEP+.
Isto, porque o bloco cartelizado liderado pelos sauditas e pelos russos mantém desde Maio um acrescento mensal diário à sua produção colectiva, estando agora previsto para Setembro mais 547 mil bpd, depois de nestes últimos meses esse aumento ter sido já de 411 mil bpd, aumentado o desequilíbrio nos mercados onde a procura começa a ser ultrapassada pela oferta.
Tudo junto leva a que o Brent esteja agora, porto das 12:10, hora de Luanda, nesta terça-feira, 05, a perder mais de 1%, para os 68, 02 USD, com uma ameaçadora coerência que vem do início do mês, ou mesmo antes, desde 30 de Julho, com uma perda continuada e, aparentemente, para já, imparável.
Mas este cenário pode sofrer uma alteração radical se em Nova Deli Narendra Modi ceder à pressão de Donald Trump e parar de comprar o petróleo russo, o que seria uma machadada séria na economia de Moscovo mas igualmente um novo fôlego para os mercados que teriam um gigante a voltar às compras regulares... e mais caras nos mercados internacionais.
Outro risco são os sinais de agravamento da qualidade da economia norte-americana, a maior do mundo e o maior consumidor de crude em todo o Planeta, com a inflação a crescer, o desemprego a aumentar e a produção em queda, mesmo que Trump diga que são manobras internas dos seus inimigos políticos para o prejudicar e que a economia está robusta e florescente.
Alias, o JP Morgan voltou a disparar dardos de pânico sobre a economia dos Estados Unidos ao admitir que o risco de recessão é agora muito grande, sendo que na China estão igualmente em curso transformações que podem redefinir o "core" da economia do gigante asiático e segunda maior economia global.
Luanda não perde de vista o sobe e desce dos mercados
O actual cenário internacional tende a manter os preços abaixo do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD, embora sem que seja possível perspectivar o que será o advir breve devido aos imponderáveis no conflito tarifário de Donald Trump com China, Índia e Brasil...
Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo, que pode ser obrigado em breve a avançar para uma revisão do OGE.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.