A este cenário de jogo da corda, com duas forças equivalentes a puxar pelas duas extremidades, junta-se uma inesperada fragilidade do Dólar, deixando o petróleo num sobe e desce quase descontrolado mas numa faixa muito estreita de apenas alguns cêntimos.
Isso é especialmente visível no Brent de Londres, nesta manhã de quinta-feira, 20, onde passou do verde para o vermelho e voltou ao verde, estando agora, perto das 11:50, hora de Luanda, de novo negativo, a perder 0,10%, para os 70,74 USD, embora sem sair de uma margem a partir dos 71,15 USD com que começou a negociar.
Em pano de fundo está um mundo em rebuliço, com o cisalhamento dos "ventos" que chegam do Médio Oriente, onde depois dos ataques dos EUA que sofreram esta semana, os Houthis do Iémen ameaçam agora com ataques aos navios que demandam o Canal do Suez a partir do Índico.
O que pode levar os grandes petroleiros que o usam levando para o ocidente cerca 2 milhões de barris por dia a terem de usar a rota longa do Cabo para chegar à Europa e às Américas, e 15% do comércio mundial, de forma a evitar ataques, o que encareceria o barril.
Além deste cenário, na Ucrânia, russos e norte-americanos e ucranianos podem chegar em breve a acordo para um cessar-fogo, que ode conduzir a um alívio nas sanções à Rússia, actualmente sob fortes sanções que restringem as suas exportações e petróleo, de que é um dos maiores produtores mundiais.
Faz ainda parte desse cisalhamento que deixa os mercados da energia de pantanas o sobe e desce permanente dos indicadores sobre a economia chinesa, o maior importador global, cuja marca identitária nos últimos anos tem sido de incerteza apesar dos estímulos à economia anunciados por Pequim.
E é assim que se chega a um tempo em que a fasquia dos 70 USD, de substantiva relevância para Angola, devido a ser esse o valor médio usado pelo Governo de Luanda para elaborar o OGE 2025, está permanentemente sob ameaça...
E isso cria um nervoso evidente entre a equipa económica do Presidente João Lourenço porque, como sucedeu há duas semanas, se se mantiver por um período longo abaixo desse limiar, uma revisão do documento reitor das contas nacionais pode surgir como inevitável.
A OPEP+ é + um problema
E tudo isto, aliado ao facto já anunciado de que a OPEP+ vai retomar parcialmente a produção, aumentando 138 mil barris por dia já em Abril, começando um percurso longo mas, crê-se, sólido, de regresso à produção normal, actualmente quase 6 mbpd abaixo do "normal", deu-se início a um novo risco, o do excesso de produção.
E foi precisamente isso que levou a Goldman Sachs a divulgar um comunicado onde os seus analistas apontam para um corte no valor da matéria-prima.
Tudo somado, a gigante casa financeira norte-americana aponta para um ano de 2025 carregado de crude que a economia planetária não vai consumir, pressionando, naturalmente, os preços em baixo, admitindo mesmo uma queda acentuada do preço.
E para piorar as expectativas, a Agência Internacional de Energia (AIE) veio, quase em simultâneo, sublinhar que a produção actual passa em 600 mil barris por dia a procura, reduzindo significativamente a procura ao longo de 2025, o que encaixa nos dados referenciados pelos "super traders", que também estão a fazer soar as campainhas de alarme.
"A indústria está a extrair petróleo em excesso", avisam os analistas, embora alguns admitam que a manipulação dos dados é sempre possível e que este momento aparentemente de risco para o sector, pode bem ser resultado da pressão pública e notória dos EUA sobre os países exportadores, especialmente os sauditas e os russos.
É que ninguém ignora que Donald Trump tem feito tudo para baixar o valor do crude de forma a combater a inflação nos EUA e ajudar a melhorar os indicadores, como prometeu antes do seu regresso ao poder, a 20 de Janeiro deste ano.
É que, inesperadamente, considerando apenas factores de mercado, este momento, com aumento relevante entre os países da OPEP+, organização que junta os Países Exportadores (OPEP) e a Rússia ao lado de outros mais pequenos produtores, e também nos países fora da OPEP+, não fora previsto pelos oráculos mais experimentados.
Como Luanda olha para este cenário global?
O actual cenário internacional tende a empurrar os preços para muito próximo, ou mesmo abaixo, do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD.
Preços estes que, apesar de ainda estarem na margem positiva de proximidade desse valor, estão, assim, muito próximos da linha em que os alarmes começam a disparar em Luanda.
Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial.
No entanto, porque o OGE nacional elaborado para 2025 apostou nos 70 USD, o actual valor já deixa as contas nacionais mais periclitantes e mais expostas a qualquer desequilíbrio internacional.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.