O resultado foi o esperado, a perda acentuada de valor do barril nesta segunda-feira, 05, na abertura dos mercados, com um "bónus" oferecido pela Goldman Sachs, que já divulgou a revisão das expectativas para este ano, apontando agora para apenas 60 USD de preço médio.
O oráculo do gigante da finança norte-americana coloca mesmo o valor médio para o ano de 2025 muito próximo do preço que o barril de Brent apresentava esta segunda-feira, 05, perto das 11:15, hora de Luanda, nos 60,59 USD, uma queda de 1,21% face ao fecho anterior.
Por detrás desta má notícia para Angola, que tem o seu OGE 2025 elaborado na expectativa de 70 USD de preço médio por barril, estão as notícias deste fim-de-semana referentes à decisão da OPEP+ acelerar a reposição da produção enxaguada nos últimos anos.
Para já, a seguir aos perto de 131 mil bpd acrescentados no início de Abril, somam-se os 411 mil bpd já em Maio, e para Junho vão aparecer mais 411 mil nos mercados, aproximando o total em apenas três meses dos 60 mil bpd, esvanecendo fortemente o efeito dos cortes.
No entanto, estes números, sendo suficientes para impactar fortemente os mercados, estão muito longe dos mais de 6 mbpd que foram eliminados artificialmente desde a pandemia da Covid 19, mas não alivia os mercados do efeito surpresa pela decisão da OPEP+.
Isto, porque o "cartel" avança com estas medidas num momento em que outros perigos ameaçam os mercados petrolíferos, desde logo a guerra das tarifas declarada pelo Presidente dos EUA ao mundo, primeiro, e agora apenas à China, mas com efeitos igualmente dramáticos porque geram dúvidas sobre o futuro das duas maiores economias planetárias.
E não se trata de efeitos limitados a 2025, porque se a Goldman Sachs espreme o seu Outlook para 2025 para os 60 USD de valor médio para o barril de Brent, para o ano seguinte essa redução é ainda mais dramática, apontando agora esta casa financeira para os 56 USD em 2026.
Mas é da OPEP+, organização que junta desde 2017 os Países Exportadores (OPEP) à Rússia e mais outros desalinhados, que chegam, via Reuters, as piores notícias, apontando a agência britânica para uma reposição total dos cortes até final de Outubro, se os membros não cumprirem as regras de compliance com as suas quotas de produção.
Com este cenário pela frente, são as economias mais dependentes das exportações da matéria-prima, como é o caso de Angola, que mais sofrem, sendo também Angola um bom exemplo ter já o barril a valer 10 USD abaixo do preço usado para elaborar o seu OGE25.
Razão pela qual, como o Novo Jornal referia na passada semana, alguns economistas dizem já, contrariando a ministra das Finanças, que a equipa económica do Presidente João Lourenço terá em breve de começar a trabalhar na revisão deste documento-maestro das contas nacionais.
Como Luanda olha para este cenário global?
O actual cenário internacional, que não era tão dramático há anos, desde a pandemia da Covid 19, tende a manter os preços cada vez mais longe do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD.
Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.