Esta semana, com começo a 20 de Outubro, pode ser a terceira de perdas consecutivas, com o barril de Brent, a referência principal para as exportações angolanas, a atingir valores recorde negativos.
Este momento é particularmente sério porque, com excepção de dois dias no início de Maio deste ano, em que o barril de Brent esteve a valer praticamente o mesmo que nesta segunda-feira, 20, perto das 12:00, hora de Luanda, é preciso regressar no tempo a Fevereiro de 2021 para dar com o crude a valer tão pouco.
E tão pouco são os 60,66 USD, uma perda superior a 1% face a sexta-feira, o que atira o barril de Brent para 10 USD abaixo do valor médio anual usado por Angola para elaborar o seu OGE 2025, o que, por si, pode criar problemas suplementares.
Por detrás deste péssimo momento para os países mais dependentes da matéria-prima e com economias mais débeis, como é o caso de Angola, está a renovada crise entre as duas maiores economias mundiais e maiores consumidores de crude planetários.
Depois de alguma acalmia na tempestade tarifária entre EUA e China, com encontros negociais nos últimos meses, por estes dias a fúria tarifária de Donald Trump voltou com o norte-americano a dizer que a China tem de ressarcir os EUA dos "triliões de dólares que roubou aos Estados Unidos".
E, para isso, apontou aos 157% de tarifas a aplicar já em Novembro, embora tenha sublinhado que uma reunião agendada para a Coreia do Sul, nas próximas semanas, com o Presidente chinês, Xi Jinping, possa trazer alguma luz a este túnel que parece não ter fundo...
Tudo, porque Pequim já fez saber que, como sucedeu há alguns meses, responderá a Trump com medidas-espelho, não apenas aplicando tarifas de montante similar, como afunilará ainda mais as exportações de "terras raras" para os EUA ou para países intermediários que depois as podem fazer chegar aos EUA.
Isto parece, segundo os especialistas, o assunto mais relevante no imediato, porque a indústria militar norte-americana não tem alternativa aos metais raros que só a China possui, ou possui a tecnologia para a sua refinação, e mesmo nas restantes indústrias 2.0, como nos chips, aviação ou automóvel, sem o fornecimento chinês, a entropia está garantida.
Além disso, Washington e Pequim estão numa batalha naval como não se via há décadas, devido ao transporte marítimo, claramente dominado hoje por navios Made in China, que Trump quer reverter, aplicando taxas adicionais a todos os petroleiros e cargueiros que atracarem nos portos dos EUA com esta proveniência, independentemente do pavilhão que ostentarem...
Porém, não é apenas a letargia económica global que um confronto destes dois titãs pode gerar que está por detrás do descalabro nos mercados petrolíferos, também a Agência Internacional de Energia (AIE) veio agora divulgar, no seu último relatório, que o mundo está a forjar uma situação de excesso de oferta, especialmente devido aos aumentos mensais da produção da OPEP+.
E, como avança a Reuters, a OMC já veio avisar que se a guerra comercial EUA-China não for travada, a economia mundial vai dar um trombo de 7% nos próximos tempos.
Com uma dependência tão vincada das exportações de crude, Angola, como, de resto, outras dezenas de países em todo o mundo, este momento...
... é mais uma razão para Angola não perder os mercados de vista
O actual cenário internacional tende a manter os preços abaixo do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD, embora sem que seja possível perspectivar o que será o advir breve devido aos por demais conhecidos imponderáveis.
Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, uma das razões por que abandonou a OPEP em 2023, actualmente abaixo de 1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.

