Depois de sete meses com a produção sempre a subir no seio da OPEP+, especialmente entre Julho e Setembro, com mais de 500 mil barris por dia em média, o cartel acaba de anunciar que o programa de reposição de produção será suspenso a partir de Janeiro do próximo ano.
E isso não foi ignorado pelos mercados, porque um dos problemas mais sérios despoletados por este programa, claramente em contra-mão com os interesses dos membros da OPEP+, organização que integra os Países Exportadores (OPEP) e um grupo liderado pela Rússia, era a criação cada vez mais clara de um excesso de oferta num mundo em recolhimento económico imposto em grande medida pela guerra de tarifas de Donald Trump.
Para já, pelo menos para 2026, a OPEP+ está disponível para agir novamente no reequilíbrio dos mercados, até porque o objectivo maior deste plano de aumento das quotas era tirar "gás" à indústria do fracking norte-americana, o que foi conseguido devido ao seu breakeven substancialmente mais elevado que a indústria tradicional e ameaçado que está pela actual proximidade dos preços aos 60 USD.
A par da suspensão dos aumentos para Janeiro, para Dezembro o aumento voltou a ser, tal como fora em Outubro e Novembro, modesto, de apenas 137 mil bpd, o que soma factores de pressão sobre os preços em alta, sendo que a "má notícia" para os exportadores com economias mais débeis, como a angolana, é que a partir de Março de 2026, o cartel admite voltar a reajustar as quotas, não vá o fracking disparar de novo nos EUA...
Além destes passos em volta no universo pouco poético do crude, no conflito entre russos e ucranianos, a indústria petrolífera de Moscovo está particularmente sob ataque de Kiev nas últimas semanas, o que deixa igualmente em suspenso uma eventual quebra na, apesar de fortemente sancionada, poderosa e influente indústria petrolífera russa, com problemas acessórios igualmente relevantes com as ameaças de Washington sobre os seus maiores clientes, chineses e indianos, de onde chegam notícias dúbias sobre um alegado recuo nas encomendas de energia russa...
Há ainda outro facto que pode emergir como um furacão devastador para o equilíbrio nos mercados, que é, a somar as ameaças permanentes sobre o Irão, e depois de a Venezuela ter sido enfiada na lista das ameaças de intervenção de Donald Trump, o norte-americano voltou-se agora para a Nigéria, o que deixa na ponta da baioneta de Washington três gigantes do petróleo.
Se o Irão é um dos grandes produtores do Médio Oriente, com potencial superior a 5 mbpd, as sanções esmagam essa pretensão há décadas, o mesmo acontecendo com a Venezuela, que é hoje um pequeno produtor apesar de ter as maiores reservas do mundo, com mais de 300 mil milhões de barris, e a Nigéria é o maior produtor africano e tem uma das 10 maiores reservas mundiais, perto dos 40 mil milhões de barris...
Que efeito poderá ter nos mercados esta ameaça de Washington sobre três gigantes do petróleo mundial, dependerá de as ameaças serem ou não concretizadas, mas há uma coisa que todos os analista sabem: os mercados não agem só com certezas... por vezes o pânico emerge de simples rumores e neste caso já se está bem para lá dos simples "mujimbos".
Mujimbos que podem impactar fortemente a economia angolana, devido, especialmente, à sua vulnerabilidade face ao sobe e desce nos mercados petrolíferos e à sua forte dependência das exportações desta matéria-prima, mesmo que em redução ano após ano, tendo mesmo chegado já a ser ultrapassada pelo sector não-petrolífero nas receitas do Estado no OGE para 2026.
De acordo com a proposta do Orçamento Geral do Estado para 2026, pela primeira vez espera-se que as receitas não petrolíferas, mais de 10 mil milhões de dólares, ultrapassem as receitas provenientes do petróleo, cerca de 7 mil milhões USD.
Para o que conta de facto e no imediato, esta segunda-feira, 03, perto das 10:30, hora de Luanda, o barril de Brent, a referência principal para as ramas exportadas por Angola, estava a valer 64,52 USD, uma descida de 0,39% face ao fecho da sessão de sexta-feira, o que mostra que os mercados ainda estão a digerir o volumoso caudal de notícias que podem ter influência nos seus gráficos...

