Nas últimas semanas, mesmo meses, sucessivos relatórios da OPEP+ e da Agência Internacional de Energia (AIE) têm mostrado que o mundo se prepara para um período de excesso de petróleo nos mercados, apesar dos cortes expressivos do "cartel".

A OPEP+ está em redobrados esforços desde 2017 para manter os preços equilibrados, na linguagem do "cartel" mas em alta, na forma como esse esforço chega aos consumidores finais, respondendo aos interesses dos produtores/exportadores, como Angola...

Os cortes actuais na produção da organização que junta estrategicamente sauditas e russos retiraram mais de 3,6 milhões de barris por dia de circulação, o que permitiu, no contexto da pandemia, evitar o descalabro neste negócio global, o que se manteve até agora...

Manteve mas essa capacidade pode estar a esgotar-se devido, segundo os analistas, a um conjunto de factores que, em simultâneo, fazem a tempestade perfeita, que são o surgimento de novos produtores, como a Guiana, na América do Sul, ou novas descobertas impactantes, como no Brasil ou na Namíbia, ou a ameaça de Donald Trump de "drill, baby, drill"...

... a crescente influência da pressão mundial para a transição dos combustíveis fósseis para as energias verdes como arma de combate às alterações climáticas, e, por fim mas não por último, a perspectiva de que os conflitos no Médio Oriente e na Ucrânia estão à beira de um lento mas seguro fim negociado...

E nem as costumeiras fontes anónimas citadas pelas agências de notícias a partir de dentro da OPEP+ de que a reunião do próximo dia 05, nova data depois do adiamento da reunião que estava prevista para este Domingo, 01, vai consubstanciar um novo protelamento da decisão de repor parcialmente a produção, está a evitar um fade out semanal negativo...

Para já, no imediato, foi o acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah que despoletou esta sangria nos preços, que sangram as finanças dos países exportadores mais dependentes, que são, entre outros, todos os africanos, incluindo Angola...

É neste cenário que o barril de Brent, a referência maior para as ramas exportadas por Angola, estava, nesta sexta-feira, 29, perto das 12:20, hora de Luanda, a valer 72,76 USD, menos 0,70 % que no fecho da sessão anterior...

Como Luanda olha para este cenário global?

O actual cenário internacional, de alívio das tensões, tende a manter os preços em baixa, mesmo que com algumas oscilações, o que é sempre uma má notícia para as economias petrodependentes, como é o caso da angolana.

Preços estes que se afastam a grande velocidade dos quer foram atingidos no pico deste ano de 2024, que aconteceu em Abril, quando chegou perto dos 92 USD por barril, ou mesmo, mais recentemente, em Outubro, onde esteve nos 80 USD.

E Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial.

No entanto, apesar do OGE nacional ainda em vigor ter como referência de valor médio no barril os 65 USD, o documento elaborado para 2025 subiu essa media para os 70 USD, o que deixa as contas nacionais a balancear se a descida se mantiver.

O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.