Esta perda de valor chegou a ser dramática na segunda-feira, com os mercados a registarem quedas monumentais, tendo mesmo descido abaixo da fasquia dos 55 USD, para os 44,26 USD, em Londres ao final do dia, sendo este o mais pesado dano colateral da pandemia de coronavírus que afecta a China.
Só ontem, segunda-feira, 03, o barril de Brent perdeu mais de 4%, atingindo um valor negativo recorde de 13 meses, impulsionado por um misto de pânico por causa da letalidade galopante do coronavírus que já fez mais de 420 mortos em mais de 20 mil contágios confirmados em todo o mundo, e de efeito directo da diminuição do consumo de crude refinado na 2ª maior economia do mundo e o maior importador planetário da matéria-prima.
Com as companhias aéreas praticamente todas no chão em território chinês, com as deslocações internas, seja de comboio, autocarro ou carro a níveis mínimos, com milhões de pessoas trancadas em casa para evitar a propagação do vírus de Wuhan, a cidade chinesa onde foi inicialmente descoberto o vírus, em Dezembro, a economia do gigante asiático começa a dar sinais de grave arrefecimento, o que se revela desde logo pela forte diminuição do consumo de crude.
A maioria das receitas do Estado angolano provém da exportação de crude e se o seu valor cair em Londres abaixo dos 55 USD, e se se mantiver abaixo desta fasquia por algum tempo, o mais certo é que o OGE tenha de ser revisto de forma a readequar as despesas à baixa de receitas.
E esse marco está hoje a apenas 2 cêntimos de dólar com os analistas a admitirem que este declínio não devera esmorecer em breve, apesar das contramedidas que estão a ser ponderadas pela Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e pela OPEP, que junta ao membros do "cartel", um grupo de produtores liderados pela Rússia, nomeadamente a extensão do plano de cortes em vigor e o aumento do número de barris colocados fora de circulação para equilibrar os mercados.
Os analistas revezam-se em prognósticos para o que vai ser o comportamento do barril de petróleo nos mercados internacionais, mas um ponto coerente em todas as análises é que, a par do efeito da diminuição do consumo na China, e por causa da crise na China, está ainda a crescer o efeito da desconfiança, o que pode levar a um esmagamento ainda mais relevante do preço da matéria-prima.
Segundo refere a Reuters, citado um analista da S&P Global Platts Analytics, a procura por petróleo deverá cair 200 mil barris nas próximas semanas, o que confere com as estimativas admitidas pelos ministros da OPEP+, que apontam para um corte na produção em torno dos 200 mil barris, para 1,9 mbpd e por mais tempo, provavelmente até ao fim do ano.
Todavia, estes cálculos poderão ser desmentidos pela realidade se se confirmar - e tudo indica que sim - que a actual pandemia de coronavírus que emergiu na cidade chinesa de Wuhan é mais mortífera que a de Síndrome Respiratório Agudo Grave (SARS) de 2003, fazendo com que o mundo consuma menos entre 700 mil e 800 mil bpd do que o previsto.
Para já, as centenas de milhões de chineses que deveriam voltar ao trabalho após as férias do Ano Novo, na sua maior parte vão continuar em casa por indicação do Governo central ou das províncias mais afectadas, o que resulta num impacto tremendo na economia interna e externa, podendo mesmo reduzir de forma significativa a capacidade exportadora do maior importador de crude do mundo.
Por exemplo, a província de Hubei, da qual Wuhan, cidade de 11 milhões de habitantes e onde o efeito do coronavírus é mais devastador, é a capital, vai prolongar por tempo indefinido as "férias", mas as províncias consideradas chave para a economia chinesa, devido ao acentuado carácter exportador, como Guangdong e Zhejiang, vão manter-se "encerradas" e até Pequim e Xangai continuarão nesta situação pelo menos até ao fim da próxima semana.
E o efeito nas principais bolsas chinesas não se fez esperar, aumentando ainda mais o receio de pânico generalizado, com Xangai e Shenzhen a abrirem hoje com uma queda superior a 10 %, o que levou o Governo de Pequim a anunciar uma injecção de mais de 170 mil milhões USD na economia para estancar esta degradação e evitar a secura de liquidez.
Face a este cenário de melindre para todo o mundo, e enquanto a ciência busca uma solução em laboratório para "matar" este coronavírus, a esperança oficial, como o atesta a agência Xinhua, com o fim do Inverno, esta epidemia vai começar a esvanecer e a libertar a economia de novo para retomar o trilho anterior, onde o acordo inicial com os EUA estava a gerar uma nova dinâmica com o fim à vista da guerra comercial entre os dois gigantes planetários.