Este valor recorde de mais de 10 meses deve-se a uma decisão da OPEP+, a organização que junta a Organização dos Países Exportadores (OPEP) e um grupo de não-alinhados liderado pela Rússia, juntos desde 2017 para encontrar solução que equilibrem os mercados, de manter a produção limitada aos valores actuais para Fevereiro.
Por detrás da aposta da OPEP+ em não mexer com a produção está a resistência da pandemia do novo coronavírus às medidas globais de controlo e ao arranque das campanhas de vacinação que começam a chegar a todos os cantos do mundo, menos para já, o continente africano, à excepção de alguns países que optaram por seguir caminhos independentes da estratégia da União Africana, como a África do Sul e o Egipto, nomeadamente depois de ter sido descoberto uma estirpe do Sars CoV-2, mais agressiva na sua transmissibilidade.
Actualmente, recorde-se, a OPEP+, que agrega 23 produtores, com destaque para os gigantes Rússia e a Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Irão, Iraque, Venezuela, Lígia, Nigéria e Angola, está a produzir, desde 01 de Janeiro, mais 500 mil barris por dia, em cima da fasquia dos 7,7 milhões de barris por dia (mbpd que estava até aqui a ser subtraída à produção global do "cartel" como método de controlo dos preços fustigados pela crise pandémica.
Inicialmente, a decisão do grupo era de acrescentar mensalmente 500 mil barris por dia até alcançar os 5,7 mbpd que estavam acordados para este mês de Janeiro mas as contas sobre o início do fim da pandemia da Covid-19 não saíram como planeado e a estratégia de regresso aos valores normais de produção teve de ser revista nas últimas reuniões do "cartel" em Dezembro último.
Assim, com esta decisão, embora ainda não confirmada oficialmente, de não acrescentar produção em Fevereiro, sob a expectativa de que mais tarde a Covid-19 venha a ceder às campanhas de vacinação massivas, está a gerar uma onde de optimismo nos mercados que levou já hoje, na primeira sessão do ano, o barril de Brent a chegar aos 53,08 USD, em Londres, perto das 09:40, hora de Luanda, uma subida vertiginosa de mais de 3% face à derradeira sessão de 2020.
Também em Nova Iorque, onde o WTI local mede o sobe e desce do valor do crude na maior economia do mundo, o barril chegou hoje, à mesma hora, aos 49,62 USD, mais 2,10% que na anterior sessão, batendo, tal como em Londres, um recorde de mais de 10 meses.
Como pano de fundo para esta recuperação está ainda um enfraquecimento da moeda norte-americana, com o dólar a valer hoje menos contra as outras moedas globais, como o Euro e o Iene japonês, e ainda a constatação de que os investidores que actuam globalmente estão já a posicionar-se de forma a ganhar vantagens para quando, como se prevê, a economia planetária sair do pântano em que se encontra desde o início de 2020, esmagada pela pandemia.
Este cenário, segundo Mohammad Barkindo, secretário-geral da OPEP, organização que tem Angola a presidir à sua Conferência de Ministros neste período rotativo, permite sublinhar que as perspectivas da organização é que a procura cresça 5,9 mbpd para 95,9 mbpd ao longo deste ano, diminuindo os riscos associados à crise global pandémica.
Citado pela Reuters, Barkindo acrescentou que se começa agora a "sair de um ano de fortes cortes no investimento, brutais perdas de emprego e a maior destruição na procura de crude da história desta indústria".
A informação sobre a decisão da OPEP+ para manter a produção em Fevereiro saiu de fontes da organização antes da reunião ministerial prevista para hoje, por videoconferência, onde os países que integram a organização vão decidir o que fazer, estando previsto que tal suceda todos os meses, nos primeiros dias.
Recorde-se que este cenário, a verificar-se, como tudo aponta que venha a suceder, é um momento extraordinário para Angola, apesar de os valores em questão não se compararem com aqueles que, no passado, a partir de 2008, levou o País a ser o maior produtor africano durante largos meses, com cerca de 1,8 mbpd, e a viver uma bonança difícil de repetir, com o barril, como exemplo, a chegar aos 147 USD no Verão desse mesmo ano.
A produção actual está abaixo dos 1,3 mbpd e em constante declínio devido ao desinvestimento das "majors" a operar no offshore nacional, especialmente a partir de 2014, quando se verificou uma quebra abrupta do valor do barril, que passou de mais de 120 USD para menos de 30 dois anos depois, em 2016.
Apesar das mudanças substanciais na legislação referente ao sector e às alterações profundas nesta indústria decisiva para o País, a produção demora a arrancar para os patamares mais próximos daqueles que se viram no passado.
Para já, com o barril da matéria-prima nos 53 USD, o Executivo de João Lourenço conta com uma folga de 20 USD em cima dos 33 USD que foi o valor usado como referência para a elaboração do OGE 2021, o que permite encarar com maior optimismo esta saída esperada da crise mundial, apesar dos fortes constrangimentos que a economia nacional enfrenta.
O crude é ainda responsável por mais de 94% das exportações angolanas, mais de 50% do PIB e representa 60% das receitas do Executivo para poder gerir as necessidades da governação, o que, face a uma lenta e demorada diversificação da economia nacional, se traduz numa mais optimista entrada no novo ano e nova década do século XXI.