Sendo a Rússia um dos maiores produtores de crude do mundo, mais de 8,5 milhões de barris por dia (mbpd) e também de gás, e sendo a União Europeia um dos seus maiores clientes, obtendo da Rússia mais de 40% do total do gás consumido anualmente, alguns países é 100%, ou mais de 30% do petróleo, esta decisão de Bruxelas, se vier a ser tomada, vai mudar de forma radical o sector.
A grande questão é onde vai a União Europeia buscar o gás e o petróleo que actualmente importa da Rússia num prazo curto?
Essa resposta, espera-se que venha a ser dada quando os responsáveis europeus, já esta semana, onde vão estar reunidos ao mais alto nível, com a presença pressionante do Presidente dos EUA, Joe Biden, apresentarem a sua decisão sobre as compras do crude e gás russos, mas sabe-se que, por exemplo, a Alemanha, a maior economia europeia, está em negociações avançadas com o Qatar para o efeito.
Face a esta possibilidade, os mercados reagiram de imediato e já esta segunda-feira, 21, estavam, perto das 11:30, a comercializar o barril de Brent, que define o valor médio das ramas exportadas por Angola, a 112 USD, mais 3,72% que no fecho de sexta-feira, enquanto o WTI de Nova Iorque chegava aos 108,33 USD, mais 3,93%.
Ataques a instalações petrolíferas sauditas pelos rebeldes Houthi, do Iémen, estão igualmente a pressionar o barril em alta.
Mas ainda mais relevante para se perceber as dificuldades que a União Europeia vai ter em substituir as importações russas é o facto de a OPEP+, a organização que desde 2017 agrega os 13 países da OPEP e 10 independentes, incluindo a Rússia, estar com dificuldades em cumprir mesmo as metas que fazem parte do programa de recuperação da produção retirada durante a crise da Covid-19, em 2020.
Segundo as agências especializadas, a OPEP+ ficou, em Fevereiro, mais de 1 mbpd abaxo dos objectivos do programa que passa por acrescentar mensalmente 400 mil barris por dia à produção.
Angola é um dos países que não estão a conseguir com regularidade cumprir as metas da organização devido à queda persistente da sua produção que já vem sedo observada desde 2014, devido, entre outros factores, ao desinvestimento das "majors" na pesquisa e produção devido à queda dos preços nos últimos anos, o que não foi invertido ainda com a recente alta nos mercados.
O impasse na guerra
A esta situação global soma-se o stand by aparenta nas negociações de paz no conflito na Ucrânia.
Este somatório de falta de avanços nas negociações com o anúncio, na quinta-feira da semana passada, da Agência Internacional de Energia (AIE), de que os mercados petrolíferos podem ficam sem 3 milhões de barris por dia (mbpd) provenientes da Rússia já em Abril, estão a contribuir também para inverter a tendência de baixa no valor da matéria-prima que se verificava nos últimos dias.
Esta é já a quinta semana de forte sobe e desce nos mercados do sector petrolífero, sendo o ritmo incerto marcado pela operação militar russa na Ucrânia e os seus reflexos na economia mundial, desde logo um aumento impactante nos combustíveis e nos alimentos, uma inflação galopante e a incerteza quanto ao evoluir da situação no terreno.
A isto acrescenta-se o pacote de sanções à Rússia, o mais denso jamais aplicado a um país por parte dos estados e organizações ocidentais, que, embora tenham tido o cuidado de não abranger o fornecimento da energia russa, gás e crude, está a levar a uma convulsão da economia russa e que pode, no limite, levar a que Moscovo retalie com o corte do fornecimento destas matérias-primas à Europa, que é delas fortemente dependente.
Angola é um dos países que mais está a beneficiar deste período de ganhos no sector petrolífero e o Governo de João Lourenço tem - ou tinha - uma última oportunidade para investir na diversificação da economia com o rendimento extra do petróleo e num tempo histórico em que o mundo caminha a passos largos para a transição energética, libertando-se dos combustíveis fósseis, como único caminho de se defender da catástrofe climática que se adivinha.
Este sobe e desce nos mercados é de extrema importância para Angola, País que tem uma forte dependência das exportações de crude, que representa 95% das suas exportações, mais de 35% do PIB e perto de 60% dos custos com o funcionamento diário do Estado.
Contexto da guerra na Ucrânia
A 24 de Fevereiro, depois de semanas de impaciente expectativa, as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS.
Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de KIev da soberania russa da Península da Crimeia, integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.
Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1992, com o colapso da União Soviética.
Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país.
Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, em mais de 60%.
Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios...
Milhares de mortos e feridos e mais de 3 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.