Depois da já famosa histórica queda para valores negativos no WTI de Novas Iorque, em Abril de 2020, e de valores irrisórios no Brent, de Londres, o barril de crude começou um lento mas regular processo de recuperação que, ao fim de quase um ano, ainda não chegou próximo dos valores pré-pandémicos.
Mas estava a fazer esse caminho - especialmente desde Outubro de 2020 - impulsionado pelas promessas de vacinas salvadoras, agora cumpridas mas que tardam em fazer o efeito desejado, e pela estratégia de cortes adoptada pela OPEP+, a agremiação de exportadores que colocou no mesmo caminho a OPEP e a Rússia à frente de um grupo de 10 países não-alinhados.
Até que já hoje, segunda-feira, 18, os gráficos do Brent vendido em Londres e no WTI de Nova Iorque começaram a mostrar cedências nas muralhas anti-pessimismo erguidas pelo "cartel" alargado por causa do avanço perigoso do Sars CoV-2, que parece estar a sobrepor-se ao optimismo gerado pelo surgimento das vacinas e até dos cortes inesperadamente graúdos entre os produtores da OPEP+, inclusive o 1 milhão de barris por dia (mbpd) extra que a Arábia Saudita cortou por auto-iniciativa.
Por detrás deste novo período de menor optimismo está o ressurgimento da Covid-19, com novos e severos confinamentos na Europa, EUA e até na China, mas também no resto do mundo, como é disso exemplo Angola, que acaba de cortas as ligações aéreas com Portugal, Brasil e África do Sul para evitar a nova variante do coronavírus responsável pelo ressurgimento do medo generalizado.
Ao emergir como cada vez mais evidente que a infecção parece estar a não recuar de forma sólida, o receio de que se verifique um novo recuo no consumo de energia está a retirar "fogo" aos mercados petrolíferos e isso é hoje evidente com o Brent, nos contratos para Março, estava a valer, perto das 10:00 de Luanda, 54,69 USD, menos 0,73% que no fecho da sessão de sexta-feira, enquanto em Nova Iorque, o WTI estava a valer 52,12, menos 0,57% que no fecho da anterior sessão.
Isto, quando ainda a 12 de Janeiro, há uma semana, o barril de Brent estava a bater nos 57 USD e o WTI nos 54 a 14 deste mês, valores recorde de 11 meses.
Todavia, o dia poderá melhorar significativamente, e isso ficou em evidência nos gráficos respectivos destas duas referências globais para o sector, depois de a China, o maior importador de crude do mudo e a segunda maior economia planetária, ter divulgado dados positivos sobre a evolução da sua economia, mostrando que está a crescer mais que o esperado desde o impacto mais sério da pandemia.
A ameaça, agora, como fica patente nos despachos das agências de notícias e se pode ler nos sites da especialidade, é que a indústria norte-americana do fracking, ou xisto, que consiste na injecção de água e químicos a alta pressão no subsolo, fazendo explodir a rocha sugando o gás e o crude nela contido, está a regressar ao activo depois de ter praticamente reduzido a zero a sua produção devido ao seu elevado breakeven em confronto com os baixos preços praticados ao longo de 2020 devido aos efeitos nefastos da pandemia.
A indústria do fracking, em média, precisa do barril acima USD para ser economicamente viável, tendo em conta que o barril ali extraído custa, à partida, acima de 50 USD, enquanto na indústria tradicional, onshore e offshore, o valor oscila muito abaixo disso, dos menos de 10 no Médio Oriente aos cerca de 24 noutras regiões mais dependentes da exploração em águas profundas.
Mas este retorno parece contido, porque, como sublinha hoje uma fonte da Reuters, pelo menos metade desta indústria continua a não arriscar a retoma da produção devido à sua inviabilidade económica por enquanto.
Os grandes riscos são três
O primeiro, é que os países não estão a vacinar as suas populações tão rápido como inicialmente se esperava, o que vai levar a que a procura não acelere tanto como se premeditava. O segundo é a possibilidade de o fracking norte-americano poder baralhar as contas porque esta indústria alternativa está de novo a aumentar fortemente a produção na expectativa de melhores dias pós-pandémicos. E em terceiro a possibilidade, muito provável, de que o dólar volte a ganhar valor contra as moedas concorrentes, o que vai influenciar negativamente o valor do crude.
Face a este cenário, embora tudo esteja dependente de factores incertos, admitir que o barril possa chegar em breve aos 60 USD deixou de ser tão certo como o era ainda há uma semana, embora tudo vá depender do avanço das campanhas de vacinação.
Isto, porque, para já, os países europeus e os EUA estão a preparar, alguns já em pleno acto, fortes confinamentos, semelhantes aos que foram implementados o início da pandemia, entre Março e Maio de 2020, que geraram, recorde-se, as maiores quebras no valor da matéria-prima em décadas, chegando mesmo ao recorde histórico de menos 40 USD no WTI de Nova Iorque.
Para Angola nem tudo é mau, mas...
Este cenário de crescimento mais moderado agora, ou até a oscilar em baixa no valor do crude, deixa um pouco mais longe a expectativa de um regresso aproximado ao passado, e bastante mais longe o patamar alcançado a partir de 2008, com o barril, como exemplo, a chegar aos 147 USD no Verão desse mesmo ano, permitindo um boom económico como nnca visto.
A produção actual está abaixo dos 1,3 mbpd e em constante declínio devido ao desinvestimento das "majors" a operar no offshore nacional, especialmente a partir de 2014, quando se verificou uma quebra abrupta do valor do barril, que passou de mais de 120 USD para menos de 30 dois anos depois, em 2016.
Apesar das mudanças substanciais na legislação referente ao sector e às alterações profundas nesta indústria decisiva para o País, a produção demora a arrancar para os patamares mais próximos daqueles que se viram no passado.
Para já, com o barril da matéria-prima nos 54 USD, o Executivo de João Lourenço conta com uma folga de 23 USD em cima dos 31 USD que foi o valor usado como referência para a elaboração do OGE 2021, o que permite encarar com maior optimismo esta saída esperada da crise mundial, apesar dos fortes constrangimentos que a economia nacional enfrenta.
O crude é ainda responsável por mais de 94% das exportações angolanas, mais de 50% do PIB e representa 60% das receitas do Executivo para poder gerir as necessidades da governação, o que, face a uma lenta e demorada diversificação da economia nacional, se traduz numa mais optimista entrada no novo ano e nova década do século XXI.