Este trio é um pilar fundamental da Nova Ordem Mundial que, com o apoio incondicional do Irão e da, entre outros, Coreia do Norte, querem substituir as regras de gestão global criadas hegemonicamente pelos EUA depois da II Guerra Mundial.

Esse esforço nem é escamoteado nem camuflado, porque Xi Jinping, Vladimir Putin e Narendra Modi estão abertamente empenhados em retirar aos norte-americanos e europeus ocidentais a hegemonia na definição das regras com que o mundo é gerido actualmente.

Esse caminho começou a ser feito entre russos e chineses há cerca de uma década, desafiando claramente o poder global dos EUA que, numa declaração ruidosa do ex-Presidente Joe Biden, já aceitou que as coisas estão a mudar e o curso da História já não pode ser travado...

Por detrás deste xadrez perigoso, mas por ora controlado, porque em Washington ninguém esconde que mais tarde ou mais cedo, os EUA e a China vão ter de medir forças no Índo-Pacífico, e que estas "jogadas" diplomáticas são as partes a organizar as suas trincheiras globais, está o galopante crescimento económico, a crescente influência política e diplomática e o acelerado aumento do seu poder militar da China.

Com o deflagrar da guerra na Ucrânia, o eixo sino-russo, a que a Índia, depois de anos de impasse, optou agora, claramente, por se juntar, numa reacção ao castigo tarifário de Trump contra Nova Deli devido à sua incessante compra de crude russo, com que os americanos dizem que Putin está a financiar o conflito, deram passos decisivos num plano que já estava em curso como ficou provado aqui.

Depois da reunião de Domingo e Segunda-feira, 01, em Tianjin, na China, da Organização para a Cooperação de Xangai (CSO, na sigla em inglês), onde Xi recebeu quase duas dezenas de líderes mundias, com destaque para Narendra Modi e Vladimir Putin, foi em Pequim, esta quarta-feira, 03, que o mundo abriu a boca de espanto.

Com os Presidentes russo e norte-coreano ao seu lado, além de vários outros líderes der todo o mundo, Xi Jinping mostrou ao mundo, em imagens directas e indiferidas para todo o mundo, uma gigantesca parada militar para celebrar o 80ª aniversário do fim da II Guerra Mundial para a China, que aconteceu com a rendição e expulsão do Japão.

Tradicionalmente, estas paradas são sempre à medida da grandeza do gigante asiático, mas, desta feita, foi mais que isso, foi o momento que Pequim escolheu para mostrar aos Estados Unidos da América e aos seus aliados do Ocidente Alargado, que inclui Europa e Austrália, Nova Zelândia, Japão e Coreia do Sul, as suas armas e sistemas de armas além de outro complexo equipamento militar.

Os especialistas abriram a boca de espanto com os novos drones de vigilância aérea, recolha de dados e de ataque de longo alcance, e subaquáticos, os sistemas de misseis hipersónicos e balísticos nucleares com capacidade de atravessar o Planeta de lês a lês, e ainda os sistemas laser de longo e médio alcance, que fazem da China, claramente, uma potência militar pelo menos equivalente a americanos e russos, sendo que com estes últimos têm uma parceria "sólida como uma rocha", como Putin e Xi não se cansam de reafirmar...

A tudo isto, em Washington, Donald Trump não resistiu e reagiu com uma entrada na sua rede social Truth Social, deixando claro que estava a acompanhar o que se estava a passar na Praça Tiananmen, na capital chinesa, lembrando os muitos soldados americanos que morreram para ajudar a China a ter a sua "vitória e glória".

Escreveu que espera que esses militares norte-americanos que combateram o Japão na II Guerra Mundial sejam "devidamente honrados e lembrados" pela China face à sua "bravura e sacrifício".

Mas foi logo a seguir que Trump mostrou o seu mau humor com o que estava a ver em Tiananmen, onde Xi e Putin e Jong-un mostravam o que os une, que é, claramente, mostrar aos EUA que podem ser um adversário inultrapassável ou parceiros mutuamente benéficos, recorrendo mesmo à ironia para o efeito.

Desejou "um grande dia de celebração" da vitória chinesa sobre o Japão, pediu-lhe que desse os seus "cumprimentos a Vladimir Putin e Kim Jong-un enquanto conspiram contra os Estados Unidos da América".

Isto, apesar de Xi Jinping, através do seu Ministério dos Negócios Estrangeiros, ter anunciado que Trump foi convidado para estar presente na Parada Militar dos 80 anos da Vitória, tendo este optado por não se fazer presente, sendo que o Presidente chinês agradeceu, sem especificar, a "toos aqueles que ajudaram a China a derrotar o invasor", o Japão.

Mas o que fica é que em Washington se crê efectivamente que a China e a Rússia estão a conspirar há anos para derrubar a hegemonia global norte-americana, que é um facto indesmentível, mas que está por provar que não seja séria a afirmação sino-russa de que o objectivo não é retirar chão aos EUA mas sim construir uma Nova Ordem Mundial baseada na parceria global entre iguais...

Numa primeira reacção a estas palavras amarguradas de Donald Trump, que, recorde-se, esteve a 08 de Agosto reunido com Putin em Anchorage, no Alasca, num momento histórico que abriu novas possibilidade de paz na Ucrânia mas que os europeus ocidentais estão empenhados em boicotar, o Kremlin negou qualquer "conspiração".

"Não há aqui nenhuma conspiração, posso garantir isso a todos e ainda que todos conhecem o papel (insubstituível) de Donald Trump e da sua Administração na actual política internacional", assegurou Yuri Ushakov, o principal conselheiro de Putin para a política externa russa.

Este momento é importante porque acontece num contexto em que os EUA, através dos decretos de Trump, declararam guerras tarifárias a vários países em todo o mundo, sendo que atingiram com esse "castigo" económico especialmente a Índia, devido ao seu contínuo negócios com o crude russo, com 50% de tarifas nas exportações do outro gigante asiático para a "América".

E a Índia passou, devido a essa imprudência, como lhe chamou Narendra Modi, claramente para o lado de russos e chineses, a ponto de, quase de um dia para o outro, ter conseguido resolver o que parecia ser insolúvel há décadas, que é o conflito de territórios nos Himalaias entre Pequim e Nova Deli, a par de avanços gigantes, sempre com Moscovo como mediador, entre a Índia e o Paquistão, cujas quezílias históricas têm igualmente como húmus questões territoriais.

Provavelmente este é um momento de relevância histórica ainda por perceber na sua real dimensão, porque, além de poder afastar de novo Washington de Moscovo, pode influir directamente nos esforços de paz para a Ucrânia, voltando a colocar os EUA nas mãos dos falcões de guerra alemães, britânicos e franceses, que, enterrados em crises económicas graves, podem estar a ver numa guerra a solução para um beco sem aparente saída.

Isso mesmo ficou claro nas declarações de Xi Jinping na parada militar em Pequin, anunciado que este é o "momento em que o mundo enfrenta o desafio de escolher a paz ou a guerra".

"Hoje a Humanidade está de novo confrontada com a obrigação de escolher entre a paz e a guerra, o diálogo e o confronto, cenário de ganhos mútuos ou de soma zero para todos", afirmou Xi perante a mais imponente para militar de sempre e bem reveladora de que a China esta a preparar todos os cenários, sublinhando no mesmo ensejo que o seu país "nunca se deixará intimidar por ninguém, por nenhum tipo de bully", numa óbvia referência aos EUA.

Para esta semana está prevista mais uma reunião dos países da NATO em Paris, onde Trump, segundo os media europeus, poderá estar presente, e onde se espera que, além de um reforço da retórica agressiva para com Moscovo, sejam igualmente enviados recados amargos para Pequim.

E sobre isso, Putin escolheu este cenário de separação de águas global para voltar a dizer que a Rússia não vai aceitar qualquer plano de paz para a Ucrânia que possa comprometer a segurança da Federação Russa, no qual não pode sequer pensar-se em haver forças ocidentais na Ucrânia, embora tenha sublinhado que as garantias de segurança exigidas por Kiev deverão ser tidas em conta.

E acrescentou que Moscovo não se opõe à entrada da Ucrânia na União Europeia mas de forma alguma tal poderá acontecer com a NATO, embora esta "jogada" possa ter como pano de fundo a certeza que o chefe do Kremlin tem de que Kiev nunca entrará para o bloco europeu porque os próprios Estados-membros, pelo menos alguns deles, se vão opor a essa possibilidade indefinidamente devido às consequências que isso teria para as suas economias e sociedades.