Depois do "desembarque falhado" no Alasca, pelo menos para aqueles que esperavam que o encontro entre Donald Trump e Vladimir Putin seria a solução final para o conflito no leste europeu, é nas "praias" de Washington que a Armada europeia vai procurar conquistar a América para as suas "trincheiras" anti-Rússia.

Volodymyr Zelensky leva com ele a líder da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o chanceler alemão, Friedrich Merz, o Presidente francês, Emmanuel Macron, e os primeiro-ministros britânico, Keir Starmer, e a italiana Giorgia Meloni, a já famosa "coligação da vontade" que visa recuperar a Casa Branca para a sua causa que é não ceder nada de relevante aos russos na mesa das negociações para acabar com a guerra na Ucrânia.

Zelensky, que já está em Washington nas primeiras horas da manha desta segunda-feira, 18, hora de Luanda, estando a reunião com Trump agendada para a tarde, vai procurar, com a ajuda dos aliados europeus, convencer o Presidente dos EUA a, mais uma vez, dar o dito por não dito, no que toca aos compromissos assumidos com Vladimir Putin no Alasca.

Sobre esses compromissos pouco se sabe, excepto aquilo, pouco, que foi dito pelas duas comitivas, e o muito que se especulou no "day after", tanto por analistas como por Governos dos países que não estiveram em Anchorage com Trump e Putin, que é, no essencial, que os russos estão disponíveis para ceder o mínimo de forma a obter ganhos máximos.

Ou seja, Vladimir Putin abdicará, plausivelmente, da geografia de Kherson e Zaporizhia que ainda não conquistou, entre 15% a 25% destas duas regiões formalmente anexadas em 2022, por troca com os territórios os russos têm em regiões fora das anexações, em Sumy, Dnipropetrovsk e Kharkiv, pelo que lhes falta conquistar em Donetsk, no Donbass, e abdicar oficialmente de todo o Donbass, das áreas que controla em Zaporizhia e Kherson, e a Crimeia.

Além destas "conquistas", Moscovo quer ainda garantir, embora esteja disponível para negociar, que não haverá tropas ocidentais na Ucrânia, e que Kiev desista formal e irreversivelmente da adesão à NATO, embora no que diga respeito à União Europeia, tudo esteja ainda por definir.

O que Zelensky pensa, tem sofrido ligeiras variações, mas, no essencial, procura garantir que a Ucrânia não perde a soberania definitiva sobre os seus territórios, mesmo que deles abdique circunstancialmente, e quer manter a autonomia para decidir as suas opções de política internacional, como a adesão à NATO ou à União Europeia, e ainda definir a dimensão das Forças Armadas do país no pós-guerra.

Nisto é acompanhado pelos líderes europeus e é isso que todos vão dizer a Donald Trump, de quem esperam, claramente, até porque já o disseram publicamente, que mude de ideias, como, de resto, já o fez por diversas vezes, no que deixou como certeza a Putin no encontro no Alasca, porque uma das certezas que já é "norma" na política internacional desde que o inquilino da Casa Branca mudou é que o Presidente norte-americano assume como "definitiva" a opinião do seu último interlocutor.

Ora, foi precisamente por saber disso que Vladimir Putin, ainda em Anchorage, a capital do Alasca, avisou os aliados europeus de Kiev para o perigo que seria estar a "executar manobras de bastidores com a intenção de fazer descarrilar o que ficou combinado" neste histórico reencontro entre EUA e Federação Russa.

É claro que os europeus vão com Volodymyr Zelensky à Casa Branca nesta segunda-feira, 18, precisamente para tentarem virar a cabeça de Donald Trump, como, de resto, ficou claro nas declarações de Ursula von der Leyen antes de partir para os EUA onde esta expressa a sua firme decisão de exigir que Trump não ceda em pontos como limitar a dimensão das forças armadas ucranianas após o fim da guerra, ou o tipo de relacionamento de Kiev com a União Europeia e com a NATO, além de não aceitar formalmente qualquer perda territorial para os russos.

Face a tudo isto, um cenário complexo, onde Trump será sujeito a fortes pressões europeias, e ucranianas, com as quais lidará facilmente, devido ao papel insubstituível dos EUA no contexto geral da segurança na Europa, e às fragilidades da Europa ocidental, tanto militares como económicas, além da difícil harmonização de posições entre os 27 Estados-membros.

E ainda no Congresso, onde uma forte representação de radicais "falcões de guerra", como os senadores Lindsey Graham, ou Richard Blumenthal, pressionam Donald Trump para manter a guerra com a Rússia a correr, devido a interesses claros, como os próprios media norte-americanos já assumem abertamente, da poderosa indústria militar, que representam com afinco e sem nada esconderem.

Para prever quaisquer surpresas, Trump já avisou Zelensky, antes deste aterrar em Washington, que não vale a pena tentar o impossível, que será exigir a saída dos russos de todos os territórios anexados ou a adesão à NATO, afirmando com redobrado empenho que "o Presidente da Ucrânia pode acabar com a guerra quase imediatamente" se assim o pretender, embora tenha, curiosamente colocado como questões inamovíveis a adesão à NATO e a recuperação da Crimeia, anexada em 2014.

"O Presidente Zelensky pode acabar com a guerra quase de imediato, se quiser, ou pode continuar a guerra", escreveu Trump na sua rede social Truth Social, onde escreveu igualmente sobre a sua "imensa honra" em receber os "tantos líderes europeus" na Casa Branca.

Já Zelensky, que será recebido a sós por Trump, primeiro, antes deste mandar entrar os líderes europeus, por seu lado, disse que espera conseguir "juntar esforços com os EUA e com os aliados europeus" de forma a "compelir a Rússia para a paz", agradecendo o convite de Trump para esta visita, assegurando que, "como ele, também a Ucrânia quer um fim rápido para a guerra alcançando uma paz sustentável e duradoura".

Alguns analistas defendem que Trump chamou à Casa Branca Zalensky para lhe dizer precisamente o que tem de fazer assim que voltar a Kiev, no sentido de criar condições para a paz que pode ser encontrada num futuro encontro com Vladimir Putin, a sós ou a três, desde que aceite as condições mínimas consistentemente afirmadas pelo Kremlin.

Já os líderes do Reino Unido, Alemanha, França e Itália, ou a presidente da Comissão Europeia, foram mandados chamar para criar a ideia de que não estão, afinal, e como parecia, colocados numa posição secundária, porque Donald Trump vai querer, mais tarde, que a Europa pague as contas da reconstrução da Ucrânia, que é uma das ferramentas fundamentais para a população ucraniano defender cada vez mais a paz negociadas, como as mais recentes sondagens o indicam persistente e continuamente.

Se Trump vai conseguir os seus intentos, os que deixou claros no Alasca, ver-se-á rapidamente esta tarde, após os encontros desta segunda-feira, 18, na Casa Branca, porque isso será percebido logo na primeira publicação que fizer na Truth Social... a não ser que, de novo, a sua opinião mude na direcção da do seu último interlocutor.

Em Moscovo, essa possibilidade não foi ainda descartada em definitivo, como se percebe pela forma como as forças russas continuam a pressionar a frente de guerra, ganhando diariamente posições estratégicas aos ucranianos, até porque os analistas do Kremlin já perceberam que a Europa Ocidental está empenhada em fazer colapsar os esforços de paz do Alasca... basta ver as primeiras páginas dos jornais, sites e dos canais de tv europeus...