Vai ser, claramente, um jogo difícil para ambas as partes, com Vladimir Putin a contra a seu lado com o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, com mais anos de política e diplomacia internacional que a soma da Administração norte-americana toda.

Além de Lavrov, que chegou ao Alasca envergando uma camisola com as letras CCCP, que em russo é URSS, numa evidente manobra de deceção diplomática, Putin chamou para disputar este encontro histórico entre os EUA e a Federação Russa, o primeiro em quase quatro anos, tantos quantos já passaram desde a invasão russa da Ucrânia,os ministros da Defesa, Andrev Beliusof, das Finaças, Anton Siluanov, e os seus conselheiros principais Kirril Dmitriev, e Yury Ushakov.

Já Donald Trump, embora ainda não tenha anunciado a equipa titular, deverá ter a sua lado o secretário da Defesa, Pete Hegseth, o secretário de Estado, Marco Rubio, o enviado especial para o conflito ucraniano e russia, Steve Witkoff, e, embora este possa ficar em Washington por precaução, o vice-Presidente JD Vance.

O resultado, quando se soube deste encontro, há semana e meia, anunciado por Trump, estava "decido", seria o fim da guerra na Ucrânia, mas, com o passar do tempo, a Casa Branca foi esvaziando expectativas e, já nesta sexta-feira, 15, o "Dia D" para o leste europeu, embora tudo seja ainda possível, o mais certo é que não vá além de um cessar-fogo parcial, de forma a manter a chama acesa para um segundo encontro, na Rússia, e depois um terceiro, já com o Presidente Volodymyr Zelensky.

O palco deste momento histórico tanto para Moscovo e Washington, como, principalmente, para a Ucrânia, e, não menos relevante, para o mundo, é a base (na foto) aérea mista Elmendorf-Richardson - onde estão centenas de jornalistas de todo o mundo -, perto de Anchorage, uma herança da Guerra Fria, de onde os EUA mantinham a vizinha Russa, apenas separada do Alasca pelos cerca de 80kms do Estreito de Bering, sob rigorosa vigilância, e, por isso, um acrescento de simbolismo que já era muito devido ao facto de o Alasca ter sido território russo até meados do século XIX, quando os americanos o compraram por 7,2 milhões USD.

Apesar de já ser, segundo vários analistas, quase impossível que venha a ser hoje assinado qualquer documento que permita adivinhar para breve o fim da guerra na Ucrânia, começa a ganhar forma outro caminho para chegar ao mesmo fim, que é um reatar das negociações sobre segurança na Europa entre americanos e russos, o que teria, além da distribuição das armas nucleares, desenhar um novo mapa de influência de uma e da outra super-potência militar.

O que acabaria, forçosamente, mesmo que Kiev e os seus aliados europeus finquem o pé na ideia de que nada pode ser decidido sem eles à mesa das negociações, por determinar o fim desta guerra porque a força que a NATO ostenta no frente a frente com a Rússia é dada pelo músculo norte-americano, e, se Washington se entender num plano mais abrangente com Moscovo, a posição vigorosa e desafiante europeia cairia como um castelo de cartas.

Porém, The Guardian escreve que um "cisne negro" pode passar a voar sobre Anchorage, dando asas a uma solução de que ninguém está à espera, como ninguém espera ver um cisne negro num ninhada destes pássaros exclusivamente brancos, que é, como diz Donald Trump, citado pelo jornal britânico, Putin, temendo a fúria do norte-americano e as suas sanções e tarifas económicas, possa, finalmente ceder sobre aquilo que até aqui garante ser inamovível, que é a reivindicação de toda a geografia das regiões anexadas em 2022 (Kherson, Zaporizhia e Donetsk), porque tanto Lugansk como a Crimeia (anexada em 2014) já estão totalmente controladas.

Trump ameaçou mesmo a Rússia com "consequências severas" se Putin não ceder em algumas das suas posições maximalistas, tendo já nesta quinta-feira, 14, 24 horas antes do "match", afirmado que está 75% confiante num resultado positivo... mas admitiu que só terá essa certeza "dois minutos depois de começar a conversar com o Presidente russo", embora já se sabia, ao início de hoje que Lavrov e o seu homólogo americano se vão encontrar antes da Cimeira dos Presidentes.

Apesar de, noutras cimeiras desta envergadura, antes dos Presidentes se sentarem à mesa, os media já possuem resenhas básicas do que está previamente acordado pelas equipas técnicas, ficando apenas pormenores para a última hora, desta feita tal não sucede porque, embora tenha havido encontros secretos, nada de concreto ficou nestes consolidado, o que não é um bom sinal para o desfecho deste jogo...

E, contrariamente ao que é usual, desta feita os aliados históricos dos EUA e a Ucrânia, que depende quase totalmente dos americanos para manter a resistência aos russos, não está nem de perto nem de longe alinhados com Washington, porque apostam tudo na "diplomacia da força" para vergar Moscovo, mesmo que apenas Washington possua essa capacidade...

Na verdade, nas capitais das potências europeias, como Paris, Londres ou Berlim, ainda não foi dito preto no branco, e nem em Kiev isso sucedeu, mesmo que Zelensky tenha já feito uma aproximação à possibilidade de ceder territórios a Moscovo para chegar à paz, que abandonam a posição maximalista de não aceitarem qualquer perda territorial da Ucrânia e exigirem a saída das forças russas de todos os territórios para lá das fronteiras de 1991, quando o país deixou a então URSS.

E também nesse capítulo vai ser substantivo perceber se na Europa ocidental os aliados dos EUA vão ou não alinhar com Washington na aceitação das cedências a Moscovo, nomeadamente na questão territorial e no fecho definitivo da posta das NATO a Kiev.

Certo e seguro é que de erto e de seguro só depois do "jogo" se saberá o que sairá deste momento que tem tanto de histórico como de inédito no plano das relações diplomáticas internacionais...