E a verdade é que ucranianos e russos deixaram de se encontrar frente a frente em Junho deste ano, em Istambul, Turquia, onde estiveram a tentar encontrar um ponto comum, sem sucesso, embora as negociações nunca tenham deixado de acontecer através da mediação norte-americana, com Steve Witkoff, o enviado especial de Donald Trump, numa roda viva entre Moscovo, Kiev, Washington, Riade, Abu Dhabi...
Witkoff não tem tido descanso para tentar encontrar um "terreno" comum entre russos e ucranianos, mas a verdade é que o tal "milagre" não aconteceu nesta época natalícia de 2025 e a guerra vai continuar para 2026.
Isso, porque, como pode ser revisitado nos links em baixo, desde que, há pouco mais de mês e meio, se ficou a conhecer o plano de 28 pontos elaborado pelos norte-americanos para encetar as negociações, que os media ocidentais selaram com a sentença de ser demasiado pró-russo, mas que Moscovo nunca reconheceu que pudesse aceitá-lo, porque ainda assim estaria longe dos mínimos estabelecidos em Junho de 2024 pelo Presidente Vladimir Putin, já muito aconteceu.
Desde logo porque Kiev recusou liminarmente o plano alegadamente desenhado em 28 pontos por Steve Witkoff e Jared Kushner, o genro de Donald Trump, tendo elaborado o seu, com apenas 20 pontos onde deveria assentar a paz com os russos se o Kremlin o aceitar como ponto de partida. Não é o caso.
Mesmo que este plano, que o Presidente Zelensky já veio dizer que vai ser enviado para Moscovo ainda esta quarta-feira, 24, chegue ao Kremlin, porque pode mesmo nem sequer ser recebido oficialmente tal a distância entre o seu conteúdo e as condições mínimas da Federação Russa, possa ter sido alterado nas últimas horas, sabe-se já que não terá sucesso.
E a razão é simples de perceber. Enquanto da parte russa se exige soberania total e reconhecida sobre as cinco regiões anexadas em 2014 (Crimeia) e 2022 (Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporizhia), Kiev só aceita parar o conflito nas actuais linhas de demarcação e criar uma zona desmilitarizada nas áreas destas que ainda controla.
Se o Kremlin quer desmilitarizar a Ucrânia de forma a garantir que este país deixa de ter o apoio da NATO para se rearmar e voltar a tentar recuperar os territórios agora perdidos, deixando apenas uma força "residual" de até 80 mil militares, os ucranianos querem um Exército de 800 mil homens armados e equipados pelos seus aliados ocidentais.
E se a Rússia exige a neutralidade de Kiev, fora da NATO, sem a presença de unidades militares da Aliança Atlântica no país, Kiev quer não apenas contar com forças europeias e norte-americanas para garantir que não haverá novos ataques russos, como não deixa cair a exigência de um ponto semelhante ao Artº 5º da NATO onde EUA, França, Alemanha e Reiuno Unido responderiam militarmente a um eventual ataque de Moscovo em território ucraniano.
Existem outros pontos longe de terem consenso de posições entre Kiev e Moscovo, mas estes são, como referem vários analistas, como o especialista em política internacional e geoestratégia, da Universidade de Chicago, John Mearsheimer apontando que se trata da "garantia inequívoca" de que não haverá paz nos próximos tempos".
Até porque a isso se acrescenta o facto de Moscovo nem sequer querer ouvir falar em cessar-fogo, como Kiev pretende de imediato, para começar a negociar, porque os russos dizem que "apenas serviria para os ucranianos se rearmarem, reorganizarem e voltarem ao combate mais fortes".
Plano de paz dos EUA prevê congelamento da frente de combate e questão territorial por resolver
O Presidente ucraniano afirmou, como avança a Lusa, que a versão mais recente do plano dos Estados Unidos para a Ucrânia prevê o congelamento das linhas da frente, mas não resolve a possível cedência de território a Moscovo.
De acordo com Volodymyr Zelensky, a nova versão do texto estipula que "a linha de posicionamento das tropas à data deste acordo é a linha de contacto reconhecida de facto", situação que abriria caminho a discussões sobre a criação de possíveis zonas desmilitarizadas.
"Um grupo de trabalho vai reunir-se para determinar o reposicionamento das forças necessárias para pôr fim ao conflito, bem como para definir os parâmetros de possíveis futuras zonas económicas especiais", afirmou Zelensky, que proferiu estas declarações na terça-feira, mas que foram apenas divulgadas esta quarta-feira, 24.
Este plano, lembra ainda a Lusa, foi apresentado há quase um mês, e tem sido objecto de negociações separadas dos norte-americanos com ucranianos e russos, nomeadamente no fim de semana passado na Florida.
O pacto tem como objectivo encerrar quase quatro anos de guerra entre a Rússia e a Ucrânia, embora a concordância de Moscovo não esteja garantida, pois as autoridades russas não mostram vontade em abandonar os objectivos.
Segundo Zelensky, as negociações entre Kiev e Washington ainda não conduziram a um consenso sobre estas questões territoriais, uma vez que Moscovo exige, em particular, que Kiev ceda a porção da região leste de Donetsk que ainda está sob o seu controlo.
O Presidente ucraniano referiu estar "pronto para se reunir com os Estados Unidos, ao nível de liderança, para tratar de questões sensíveis", depois de ter solicitado anteriormente uma reunião trilateral com o Presidente russo, Vladimir Putin.
Segundo Zelensky, as negociações entre Kiev e Washington ainda não conduziram a um consenso sobre estas questões territoriais.
Segundo Zelensky, a nova versão do plano não exige que a Ucrânia renuncie formalmente à adesão à NATO, outra grande exigência de Moscovo.
"Cabe à NATO decidir se quer ou não acolher a Ucrânia como membro. E a nossa escolha já foi feita. Decidimos não alterar a Constituição ucraniana para incluir uma cláusula que declare que o país não aderirá à NATO", declarou o líder ucraniano.
Uma versão anterior do plano, elaborada pelos Estados Unidos, exigia que Kiev se comprometesse legalmente a não aderir à Aliança.
Eleições na Ucrânia e referendo sobre plano de paz podem acontecer em simultâneo
Outra questão vista como essencial e que deve ser resolvida antes de qualquer possibilidade de acontecer um acordo de paz é a realização de eleições, até porque o mandato de Zelensky terminou em Maio de 2024 e apenas se mantém no poder devido às prorrogativas nesse sentido da Lei Marcial em vigor no país desde 2022.
Mas esse factor de constrangimento, como Moscovo aponta amiúde, pode ser resolvido em breve, como nota o Presidente ucraniano, que diz ainda mais: as eleições podem mesmo suceder ao mesmo tempo que um referendo sobre e as disposições de um eventual plano de paz que possa vir a ser considerado pelo lado russo.
De acordo com o guião proposto pelo Presidente ucraniano, num determinado momento após a assinatura do acordo de paz ou durante o processo de implementação, a Verkhovna Rada (parlamento), poderá votar para decidir sobre uma data para eleições presidenciais na Ucrânia.
O Presidente ucraniano declarou que se a Rússia aceitar o plano de paz elaborado por Kiev com Washington, este pacto poderá ser submetido a um referendo, passar pelo parlamento e realizado em simultâneo com as eleições presidenciais.
"A Ucrânia submeterá este acordo a ratificação pelo parlamento (...) e/ou realizará um referendo nacional para a sua aprovação, com a opção 'sim' ou 'não'. A Ucrânia poderá decidir realizar eleições em simultâneo com o referendo ", disse em conversa com os jornalistas, noticiou a agência de notícias Interfax também lida pela Lusa.
Zelensky sublinhou que as garantias de segurança previstas no plano só entrarão em vigor se o acordo for ratificado de forma juridicamente vinculativa ou aprovado por referendo.
De acordo com o guião proposto pelo Presidente ucraniano, num determinado momento após a assinatura do acordo de paz ou durante o processo de implementação, a Verkhovna Rada (parlamento), poderá votar para decidir sobre uma data para eleições presidenciais na Ucrânia.
Para que tal aconteça, no entanto, devem ser cumpridas certas condições, como um cessar-fogo em vigor durante pelo menos 60 dias, permitindo, entre outras coisas, a desmobilização parcial do pessoal das Forças Armadas para votar.
Contudo, explicou Zelensky, a lei marcial não poderia ser suspensa imediatamente, mesmo após a assinatura de um acordo de paz; seria ainda necessário aguardar alguns meses.
Só assim se poderiam realizar eleições parlamentares e locais, uma vez que a escala de participação, neste caso, é completamente diferente e tem as suas próprias particularidades, acrescentou Zelensky.
"Se não houver segurança, a legitimidade será posta em causa. Explicamos tudo isto aos nossos parceiros", afirmou o Presidente ucraniano, ainda citado pela Lusa a partir dos media internacionais.











