Com uma ofensiva em curso por parte dos jihadistas radicais do al shaabab e uma crise alimentar grave, que já levou à morte de milhares de pessoas, especialmente crianças, a Somália é nestes tempos uma das grandes preocupações humanitárias para o Secretário-Geral das Nações Unidas.
E foi essa a razão que levou Guterres a embarcar para Mogadíscio, usando a surpresa como factor de segurança, mas obrigando o Governo do Presidente Hassan Sheikh Mohamud a desdobrar-se em medidas de segurança repentinas, como o corte de acesso a algumas zonas da cidade e os transportes públicos deixaram de circular, sendo visíveis centenas de elemenros das forças de segurança em quase todas as principais artérias.
Com esta visita corajosa a uma das mais perigosas cidades do mundo, António Guterres procura potenciar o apelo veemente que fez no sentido de os doadores internacionais fazerem um esforço suplementar para angariar 2,6 mil milhões USD para a Somália mas esse objectivo está muito longe de ser alcançado...
Para garantir um mínimo de segurança alimentar para centenas de milhares de pessoas vítimas de uma seca prolongadamente histórica, e com um acrescido problema no acesso ao mercado internacional de cereais devido, que deveria ser reduzido com a chegada de cereais do leste europeu ao abrigo do acordo do Mar Negro mas que estão a ser desviados na origem para os países mais ricos, a ONU precisa de 2,6 mil milhões, mas, até ao momento apenas 13% foi arrecadado.
À espera de Guterres no aeroporto de Mogadíscio estava o ministro dos Negócios Estrangeiros Abshir Omar, embora isso só tenha sido possível confirmar através de fotografias publicadas nas redes sociais pelos serviços de imprensa oficiais, tal foi o secretismo que envolveu esta visita.
Embora a acção dos grupos de guerrilha islâmica sejam uma preocupação constantes, a crise alimentar aguda actual é a verdadeira dor de cabeça para as organizações humanitárias, que têm pela frente o desafio bíblico de ajudar perto de 8 milhões de pessoas - metade da população - que viram as suas colheiras não sair do solo nos últimos seis anos devido a uma infindável seca.
Esta situação de grande dramatismo já levou quase dois milhões de pessoas a deixar as suas casas em busca de água e de alimentos mas no caminho encontram apenas mais miséria, fome e sede, acrescentando dificuldades às agências da ONU para lhes levar apoio.
A situação na Somália é ainda agravada pelo facto de os vizinhos Quénia e Etiópia estarem igualmente assoberbados por crises semelhantes, sendo que em Adis Abeba acrescenta-se o problema das sequelas da guerra civil que está agora em fase de resolução.