Há largas semanas que o Presidente Donald Trump, alegando a urgência de combater os cartéis, acusando o Presidente Nicolas Maduro de liderar o tráfico de droga para os EUA, admite um ataque à Venezuela.
E a porta-voz das Casa Branca, Karoline Leavitt, sublinhou mesmo a possibilidade de um ataque a Caracas como "forte" porque o Presidente norte-americano "não vai anular nenhuma ferramenta à sua disposição" para derrotar o tráfico de droga.
Até aqui, apenas existiam sinais de que uma operação militar estava a ser organizada contra o regime de Nicolas Maduro, como a reabilitação de uma antiga base dos EUA em Trinidad e Tobago, do tempo da II Guerra Mundial, e o envio de uma frota com navios de guerra de superfície e submarinos para o Mar das Caraíbas.
E com o passar do tempo e com uma declaração de Donald Trump há duas semanas sobre um alegado recuo na intenção de atacar militarmente Caracas, o assunto deixou as primeiras páginas dos jornais internacionais.
Onde voltou agora quando se soube que já chegou à região o maior porta-aviões ao serviço dos Estados Unidos, o USS Gerald R Ford, cuja tripulação supera os 2.600 militares, acomodando ainda cerca de 2.000 ao serviço das aeronaves, podendo acomodar até 75 caças F-35, e ainda aviões de guerra eletrônica EA-18G Growler, helicópteros MH-60 e aviões de alerta antecipado E-2D Hawkeye.
Tamanha deslocação de meios para uma zona de conflito anunciado nunca aconteceu antes sem que tenham entrado em acção, com maior ou menor intensidade, e, nesta geografia latino-americana tal só aconteceu no decurso da invasão do Panamá, em 1989, para depor o Presidente Manuel Noriega, que até aí era um aliado dos EUA e é mesmo a maior desde a I Guerra do Golfo, em 1991.
O anúncio do envio do USS Gerald R. Ford (na imagem) para a região pela Marinha dos EUA está a ser visto pelos media internacionais como uma clara escalada norte-americana sobre o poder em Caracas, onde o assunto está no cerne de toda a actividade política actual, com o Parlamento do país a fazer já aprovar um conjunto de leis que permite às Forças Armadas "Bolivarianas" responder militarmente a qualquer ameaça.
A par deste conjunto de Leis de Guerra, o Governo de Maduro ordenou uma gigantesca mobilização, não apenas de militares mas também das conhecidas "milícias populares de defesa da Pátria", para serem colocadas ao longo da costa.
Enquanto isso, surgem nos canais das redes sociais rumores de que a Rússia e a China, aliados com parcerias na área da Defesa com Caracas, têm em curso uma ponte aérea de grandes dimensões com material militar para a Venezuela.
E há ainda notas sobre a presença já de largas centenas de antigos membros do Grupo Wagner no país para o uso das novas armas russas que não são dominadas pelos militares venezuelanos.
Para já, e sem uma declaração de guerra formal, a Marinha dos EUA justifica a presença de tão alargada presença na região com a necessidade de aumentar a capacidade de vigilância sobre as embarcações que transportam drogas para os Estados Unidos.
Porém, como todas as organizações internacionais de vigilância sobre o mapa do tráfico global de estupefacientes referem, a Venezuela tem um papel muito reduzido no mapa da cocaína para os EUA, sendo, tal como as restantes drogas, incluindo as metanfetaminas e o fentanil, o México e a Colômbia as geografias em que esse tráfico assenta.
Essa a razão pela qual vários analistas apontam as grandes reservas de petróleo na Venezuela, as maiores do mundo, mais de 300 mil milhões de barris, como o objectivo central dos EUA, que pretendem decapitar o regime Chavista para fazer avançar para a Presidência deste país a sua "mulher em Caracas" que é a recente e altamente polémica Prémio Nobel da paz, Maria Corina Machado.
Isto, porque esta, mesmo já depois de ter sido galardoada pelo comité norueguês do Nobel da Paz, disse publicamente defender uma intervenção militar norte-americana no seu país para forçar uma mudança de regime e a colocar no poder à força.
Aparentemente Caracas está preparada para fazer face a esta ameaça, desde logo porque, como fez saber o presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, durante a sessão parlamentar transmitida pela estação estatal Venezolana de Televisión (VTV), esta nova legislação visa agilizar a cadeia de comando para resposta à ameaça de Washington.
"Estamos a aprovar uma lei fundamental que estabelece uma nova forma de lidar com o destacamento, o cumprimento de ordens, a movimentação de tropas e, sobretudo, a colaboração entre povo e Forças Armadas", declarou Rodríguez.
Também segundo a Lusa, o ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino, afirmou que mobilizou 200 mil soldados para enfrentar a "ameaça" representada pelos Estados Unidos na região.
"O trabalho de construção da coesão, preparação do povo e aumento da prontidão operacional das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB) continua, em defesa da nossa soberania e integridade territorial - um trabalho que se mantém ativo todos os dias", afirmou Padrino, em declarações divulgadas pelo portal digital Últimas Notícias.
Padrino indicou que Nicolás Maduro ordenou um aumento da prontidão das forças de segurança e dos órgãos de segurança: "Estamos a otimizar as nossas capacidades diariamente. Realizamos manobras no terreno, (...) exercícios do Estado-Maior, exercícios de defesa costeira, exercícios de descentralização de recursos e de gestão de catástrofes".
O ministro indicou também que este destacamento começou hoje, mas vai prosseguir até quarta-feira, envolvendo "200.000 efetivos para este exercício", que abrange o comando, controlo e comunicações, tudo dentro do contexto da "ameaça militar posicionada nas Caraíbas, que ameaça não só a Venezuela, mas toda a região da América Latina".
Recorde-se que a 01 de Setembro, os Estados Unidos iniciaram os seus ataques a alegadas embarcações de tráfico de droga que transitavam pelo mar das Caraíbas e pelo oceano Pacífico, tendo desde então afundado cerca de 20 e matado 75 pessoas.
A ONU, juntamente com os Governos da Venezuela e da Colômbia, condenaram estas práticas, classificando-as como execuções extrajudiciais, e indicaram que as vítimas são sobretudo pescadores.

