Sudão, Egipto e Etiópia começaram a deixar subir a tensão com o avançar da construção da barragem baptizada de "Grande Renascença" por representar um possível novo renascimento para esta parte de áfrica, e é um dos maiores financiamentos chineses em todo o mundo.
O acumular de tensão emerge pela disputa dos três países da bacia do Nilo, o gigante rio que atravessa o nordeste africano que nasce nas montanhas entre o Burundi e o Ruanda e avança deserto do Saara dentro até se perder nas areias egípcias junto ao Mediterrâneo, passando por países como a Tanzânia, Quénia, República Democrática do Congo, Burundi, Sudão, Sudão do Sul, Etiópia e Egipto.
E este pode ser em breve um problema para a CPS da UA liderado por Angola se a ronda negocial que vai ter lugar nos próximos dias, no Cairo, Egipto, não der resultados e permitir delinear um caminho para uma solução que seja vista como boa por todas as partes.
Esta barragem, de mais de 5 mil milhões de dólares está a ser alvo de uma disputa entre os Governos de Adis Abeba, Cairo e Cartum, nomeadamente no que exige em esforço e cedência no acesso à água até que o gigantesco reservatório, mais vasto que algumas das maiores cidades do mundo, esteja totalmente cheio.
Para garantir que os três países chegam a bom porto nas conversações, o Banco Mundial e os EUA enviaram delegações de topo para acompanhar os trabalhos, que partem dos protestos que Egipto e o Sudão têm vindo a fazer desde 2011, quando a Etiópia começou a construção no curso do Nilo Azul, um dos dois principais contribuintes líquidos para o grande Nilo que nasce nas montanhas etíopes, e que se junta ao chamado Nilo Branco, a norte do Sudão.
O problema é que esta gigantesca represa, para encher, vai diminuir o fluxo de água para os dois países a jusante, Egipto e Sudão, que temem ser prejudicados na sua agricultura, indústria e ainda no acesso a água potável para as populações - 90% no caso do Egipto -, sendo que o Nilo, no caso do país dos faraós, é fundamental para a sua fluorescente indústria turística, sem falar no facto de a sua estratégica barragem de Assuão ser alimentada por este mítico curso fluvial.
Depois de estar em pleno funcionamento, esta barragem, situada na região de Benishangul-Gumuz, perto da fronteira com o Sudão, vai gerar 6.000 MWe, o que vai fazer da Etiópia o maior exportador de electricidade do continente.
E é por isso que a Etiópia tem pressa em encher a represa gigante, e pretende fazê-lo em seis anos, quando os vizinhos Sudão e Egipto não aceitem menos de 10, porque essa diferença vai permitir um maior fluxo contínuo de água no Nilo que chega a estes dois países, o que está no cerne das tensões que se vêm acumulando nos últimos anos, podendo mesmo vir a ser um dos focos de tensão mais grave em África, aumentando muito nos últimos meses a possibilidade de escaramuças militares.
Como relata a imprensa internacional, o Egipto já admite mesmo uma situação de grave crise no abastecimento de água em 2025, exigindo que os seus direitos "históricos" sobre o Nilo sejam respeitados.
E o Governo de Adis Abeba, através do seu primeiro-ministro e prémio Nobel da Paz, Abiy Ahmed, já denunciou as ameaças veladas do Cairo, garantindo que nenhuma força poderá obstaculizar a Etiópia de ter a sua barragem a funcionar em pleno.
Citado pelas agências, Abiy Ahmed já disse mesmo que se for preciso "avançar para a guerra", a Etiópia terá em muito pouco tempo "milhões prontos para defender os interesses do país", mas iniciar um conflito miliar, anuiu, "não é do interesse de ninguém".
E é isso que vai ficar claro nas conversações que terão luar nestes dias no Cairo, às quais se vão seguir ouras etapas negociais em Adis Abeba e Cartum, e, por fim, em Washington, de forma a que seja desenhado um acordo definitivo até finais de Janeiro de 2020.
Face a este cenário, Angola e o Conselho de Paz e Segurança da União Africana, um dos mais importantes órgãos do organismo pan-africano, responsável pela garantia do controlo e gestão de situações de conflito no continente e garante da estabilidade, têm um interesse especial no desenrolar destas conversações, embora não sejam conhecidos elementos deste órgão na mesa negocial.
Esta organização pan-africana tem na área da segurança e paz uma das suas mais importantes apostas, considerando nos seus documentos estruturantes que o fim dos conflitos no continente é essencial para retirar África do subdesenvolvimento.
Para isso, incorpora um sistema operacional de alerta rápido para estancar situações de potencial conflito e prevenção, bem como a gestão e vigilância pós-conflito.