Esta campanha, que já está na estrada há uma semana, tem sido marcada por uma agressividade nos discursos de Lula e Bolsonaro, incluindo acusações de "possessão demoníaca" de Lula a Bolsonaro, ou a extraordinária inversão do "normal" que é ser o próprio detentor do poder no Brasil a afirmar temer que o resultado eleitoral seja manipulado pela oposição contra si.
A religião tem estado no centro desta disputa política, como tem sido a norma em todos os pleitos eleitorais neste país, revelando o lado de "terceiro mundo" do Brasil, como apontam alguns analistas, especialmente na intervenção e importância das igrejas evangélicas brasileiras e os poderosos meios de comunicação que estas possuem como ferramentas de evangelização e de influência política.
A 02 de Outubro tem lugar a primeira volta e se nenhum dos candidatos conseguir a maioria dos votos, 50% mais um, terá lugar uma segunda volta a 30 desse mesmo mês, o que, ao que tudo indica, considerando as sondagens, será o caso, embora Lula da Silva se apresente com forte vantagem em todos os estudos de opinião/sondagens feitos até agora por instituições credíveis.
Um dos momentos desta campanha está a ser, como avança a Lusa, a declaração de Jair Bolsonaro na segunda-feira, onde diz que aceitará uma derrota nas urnas se as eleições forem "limpas".
"Seja qual for [o resultado], eleições limpas devem e tem que ser respeitadas (...) Serão respeitados os resultados das urnas desde que as eleições sejam limpas", afirmou, na segunda-feira, Jair Bolsonaro, de foram relutante, ao ser questionado se vai aceitar o resultado da votação em urnas electrónicas, adoptadas no país em 1996.
O Presidente brasileiro tem afirmado reiteradamente, sem apresentar provas, que o voto electrónico é alvo de fraude.
Bolsonaro, que não dá entrevistas a meios de comunicação que não apoiam as políticas adoptadas pelo seu Governo, falava numa entrevista exclusiva ao principal telejornal brasileiro.
O Jornal Nacional tem também previsto entrevistas com o antigo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-governador Ciro Gomes e a senadora Simone Tebet, os três candidatos mais bem colocados nas sondagens relativas às presidenciais de Outubro.
Questionado sobre as razões que levam os seus apoiantes a manifestarem publicamente o desejo de que o Brasil adopte uma intervenção militar, mantendo-o no Governo, Bolsonaro minimizou estes pedidos e disse tratar-se de liberdade de expressão.
"Quando alguns [apoiantes] falam em fechar o Congresso, é liberdade de expressão deles. Eu não levo para esse lado", afirmou, ao Jornal Nacional citado pela Lusa.
Sobre os motivos que o levam a fazer manifestações públicas contra juízes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF) publicamente, Bolsonaro negou ter ofendido ministros [tratamento dado aos juízes de tribunais superiores brasileiros].
"Você [o jornalista Willian Bonner] não está falando a verdade quando fala em xingar ministro, isto não existe. É uma "fake news" da sua parte. O que eu quero é transparência nas eleições", afirmou.
Bonner lembrou que Bolsonaro chamou, no ano passado, "canalha" ao juiz do STF e atual presidente do TSE, Alexandre de Moraes, durante uma manifestação que reuniu milhares de apoiantes, em 07 de Setembro, dia em que se comemora a Independência do Brasil.
Bolsonaro também negou erros cometidos na gestão da pandemia, apesar de o Brasil se um dos países com mais mortes causadas pela covid-19 (mais de 700 mil) e esquivou-se a responder se tinha faltou compaixão de sua parte por ter imitado pacientes com crises de falta de ar, numa transmissão ao vivo que faz semanalmente nas redes sociais.
"A solidariedade eu manifestei conversando com o povo nas ruas, visitando as periferias de Brasília, vendo pessoas humildes que foram obrigadas a ficar em casa sem ter um só apoio de governador ou prefeito. E nós demos auxílio emergencial imediatamente", rebateu.
Apesar de ter feito declarações públicas nas quais questionou a eficácia das vacinas contra a covid-19 e de afirmar não ter sido vacinado, o chefe de Estado brasileiro defendeu a política do Governo na pandemia, alegando ter comprado vacinas para a população.
"Nós compramos mais de 500 milhões de doses de vacina, só não se vacinou quem não quis. Comprada por mim e em tempo bem mais rápido do que em outros países", declarou.
Bolsonaro citou que a vacinação no Brasil começou em Janeiro de 2021, sem mencionar que a primeira vacina aplicada no país, a vacina CoronaVac da fabricante chinesa Sinovac, foi comprado pelo rival político e ex-governador de São Paulo João Doria, e depois incluído, apesar das suas críticas, e também a vacina da Pfizer, no Sistema Único de Saúde (SUS) para ser aplicado na população do país.
Com 32% das intenções de voto e atrás de Lula da Silva, que lidera as sondagens com 47%, segundo o instituto Datafolha, Bolsonaro procurava com esta entrevista reconquistar apoio de eleitores que votaram no atual Presidente em 2018.
Mas o ambiente tenso entre o Presidente e os jornalistas da TV Globo, ao longo de 40 minutos, colocaram em causa as expectativas da campanha de melhorar a imagem de Bolsonaro, que ainda poderá conquistar apoio como o início do horário eleitoral gratuito, a partir de sexta-feira.
A eleição presidencial no Brasil tem a primeira volta marcada para 02 de outubro e a segunda volta, caso seja necessária, no dia 30 do mesmo mês.
Ao todo, 12 candidatos disputam as presidenciais: Jair Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes, Simone Tebet, Luís Felipe D"Ávila, Soraya Tronicke, Roberto Jefferson, Pablo Marçal, Eymael, Leonardo Pericles, Sofia Manzano e Vera Lúcia.