A confirmação partiu do gabinete do Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, que foi quem deu início à constituição desta equipa de Chefes de Estado africanos para irem de encontro aos Presidentes ucraniano e russo com o objectivo de ajudar a encontrar uma solução pacífica para o conflito no leste europeu.
Depois de muitas visitas de líderes internacionais, incluindo as últimas protagonizadas pelo enviado especial da China, Li Hui, que esteve na semana passada nas duas capitais com o mesmo objectivo, e o enviado do Papa Francisco, o cardeal e presidente da conferência episcopal italiana, Matteo Zuppi, é chagada a vez de os lideres africanos fazerem a sua magia diplomática para levar ao calar das armas.
Os seis Presidentes, todos eles, segundo explicou Ramaphosa, se voluntariaram para integrar esta "task force", deverão chegar a Kiev e a Moscovo a meio do corrente mês de Junho.
São eles o próprio líder da União Africana, Azali Assoumani, o sul-africano Ramaphosa, o ugandês Yoweri Musevini, o egípcio al-Sissi, o senegalês Macky Fall, e o zambiano Hakainde Hichilema.
Já denominada "Iniciativa africana para a paz", a missão destes Chefes de Estado não é fácil, não só porque é pouca ou escassa a vontade demonstrada pelos contendores para negociar, pelo menos enquanto não virem alcançados os seus objectivos, como tamanha façanha já foi tentada por outros, igualmente pesos-pesados, como o brasileiro Lula da Silva, que procurou criar um grupo em tudo semelhante ao que os africanos lograram conseguir.
Azali Assoumani e os seus colegas de "grupo de assalto diplomático" levam na bagagem para Kiev e Moscovo a experiência de décadas de conflitos no continente que acabaram por ser resolvidos através da diplomacia e da intervenção de equipas criadas no âmbito da organização pan-africana ou das organizações sub-regionais.
Levam ainda consigo a razão de quem vive de mais perto os efeitos nefastos da guerra, como é o caso dos elevados preços dos cereais nos mercados internacionais, que sofreram um severo impulso com o deflagrar da guerra entre dois dos mais importantes exportadores de grãos, ou as altas taxas de juro para se financiarem no rasto dos aumentos aplicados pelos bancos centrais ocidentais, União Europeia e EUA, nomeadamente.
Sem identificar para já as peças estruturais do plano de paz africano para a guerra na Ucrânia, embora isso tenha sido discutido no encontro destes lideres em Pretória, esta segunda-feira, 05, sabe-se já que Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky serão confrontados com os efeitos devastadores em todo o mundo deste conflito que já perdura há mais de 15 meses.
Kiev acusa Moscovo, Moscovo acusa Kiev...
Entretanto, soube-se igualmente esta terça-feira, 06, que a Ucrânia, depois do colapso, provocado por fogo de artilharia, da Barragem de Kakhovka, na região de Kherson, vai pedir uma reunião urgente do Conselho de Segurança das Nações Unidas para apontar o dedo a Moscovo pelo atentado", embora os russos neguem categoricamente e acusem, por sua vez, os ucranianos de terem feito implodir a represa.
Diz o Governo de Kiev, através do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmity Kuleba, que se tratou de um "acto de sabotagem dos russos", enquanto o porta-voz do Kremlin, Smitri Peskov, diz que "não há quaisquer dúvidas de que esteve mão ucraniana por detrás deste atentado".
Peskov acusa mesmo Kiev de pretender com este ataque à barragem no Rio Dniepre "interromper o fornecimento de água à Península da Crimeia", algo que já foi tentado no passado através do bloqueio do canal que faz o transvase para aquela região russa anexada em 2014 sem reconhecimento internacional.
Peskov resume ainda a situação desta forma: "A Rússia não tem nenhum interesse no que sucedeu e, pelo contrário, é fortemente prejudicada pelo impacto potencial no fornecimento de água à Crimeia além dos danos ecológicos evidentes".