Nessa linha de raciocínio, não é totalmente descabido pensar que o debate desta madrugada de terça-feira para quarta-feira, 11, em Angola (02:00), 21:00 em Filadelfia, cidade capital do estado da Pensilvânia onde o confronto terá lugar vai definir em larga medida quem será o vencedor das eleições Presidenciais norte-americanas de 05 de Novembro.
Um debate ter esta importância não é comum, mas é-o neste caso, porque Kamala Harris, a vice-Presidente dos EUA e de Joe Biden é também a sua substituta depois deste ter sido empurrado para fora da corrida eleitoral pelas elites do Partido Democrata há cerca de dois meses, após o catastrófico debate de Junho com Trump.
A substituição aconteceu quando Joe Biden estava claramente derrotado pelas sondagens, nas quais o ex-Presidente e actual candidato pelo Partido Republicano, Donald Trump, tinha uma enorme vantagem, tendo então ocorrido uma inesperada recuperação nas intenções de voto nos democratas.
E é assim, com um sonoro empate técnico em quase todas as sondagens, mas com Kamala Harris com uma ligeira vantagem no todo nacional mas igualmente de forma ligeira atrás de Trump nos denominados estados-chave (swing states), que usualmente definem o vencedor, como a Pensilvânia, Carolina do Norte, Georgia, Nevada, Michigan ou o Wisconsin, que acontece este debate, que será, muito provavelmente, o único entre os dois candidatos.
E se o debate entre Biden e Trump, onde o ainda Presidente se espalhou ao comprido, com uma performance desastrosa, foi determinante para ser afastado do boletim de voto, Kamala Harris corre igualmente riscos, porque as regras do debate na ABC News não permitem o recurso ao teleponto.
Não poder contar com o teleponto é relevante porque Kamala Harris está longe de ser uma oradora de mérito confirmado, sendo conhecida a sua dependência do "guião" para os seus discursos, como os que faz enquanto vice-Presidente demonstram.
O que permite esperar que Trump, com uma retórica mais conflituosa, procure ganhar vantagem no debate sendo mais assertivo nas acusações a Kamala Harris, como tem feito, acusando-a de estar por detrás do descalabro no controlo das fronteiras, permissivas à imigração ilegal, que é um dos cavalos de batalha do republicano.
Os media norte-americanos, nestas horas que antecedem a subida ao "ring", têm sublinhado a dedicação de longas horas de preparação de ambos os contendores para o momento decisivo, sendo que a democrata tem como objectivo mínimo manter o ímpeto da campanha que conseguiu ao substituir Biden.
E deverá usar como trunfo o facto de saber, como as sondagens anteriores o demonstraram, que os eleitores norte-americanos não estavam satisfeitos ao verem dois idosos como candidatos à Casa Branca.
Com 60 anos, menos 18 que o oponente, Harris tem aqui uma vantagem sobre a qual Trump pouco ou nada pode fazer, o que procura diluir acusando fortemente a democrata de ser uma "extremista de esquerda" e de querer impor o comunismo nos EUA.
Donald Trump chega a este debate claramente enfurecido com a substituição de Biden por Kamala, porque com a chegada da vice-Presidente à corrida eleitoral, a vantagem que tinha nas sondagens desapareceu, dando lugar a uma euforia inesperada em torno da opositora.
O que ficou claro quando esta, em apenas 24 horas, bateu todos os recordes de doações, tendo sido noticiado na altura que a sua campanha recebeu mais de 300 milhões USD num dia apenas, o que nunca tinha acontecido.
Mas é igualmente verdade que essa euforia foi sendo diluída pela máquina republicana, que tem apostado as fichas todas em criar em torno de Harris a ideia de uma "comunista" que está a permitir uma invasão de imigrantes ilegais nos EUA e quer fazer do Estado uma máquina de subsídios aos desvalidos, como se isso fosse uma coisa má num país com cada vez mais pobres e pessoas sem capacidade de pagar sequer as custas com saúde e educação.
Uma das vantagens de Kamala é precisamente essa, que aponta o dedo a Trump como querendo fazer o país e a sociedade norte-americana retroceder décadas, com a retirada dos apoios estatais na área da saúde e educação ou, entre outros exemplo, reinstalar a proibição do aborto.
Mas há outra vantagem de Kamala Harris que lhe chega da "secretaria": o debate tem regras que a beneficiam, porque Trump terá o microfone fechado quando ela estiver a falar e não terá de lidar com os seus apartes... Nem lhe poderá fazer perguntas directamente.
Seja como for, aconteça o que acontecer, este será, provavelmente, o único debate desta campanha entre Harris e Trump e será ainda o único que decidirá quem será o "Presidente do Mundo".