Nunca como desta vez, e a pouco mais de quatro meses das eleições de 05 de Novembro, um partido, como se percebe ao ver as manchetes dos media norte-americanos no day after ao debate com Donald Trump, colocou em cima da mesa a possibilidade de substituir o seu candidato.
E não é para menos, porque Joe Biden, quase com 82 anos, mostrou no quezilento debate com Donald Trump fragilidades que resultam da idade avançada, mas também mentais, voltando, como tem sucedido amiúde, a mostrar-se perdido no tempo e no espaço, deixando frases a meio...
E foi um Donald Trump, igualmente idoso, com 78 anos, mas claramente mais fresco nas ideias, que aproveitou ao máximo as fragilidades do ainda Presidente dos Estados Unidos, seja sorrindo quando este perdia o norte, seja sublinhando-as com frases assassinas, como quando se virou para a câmara e disse: "Nem se consegue perceber o que está a dizer!".
Da falange de media que estão claramente com os republicanos de Trump, como a Fox News, ou os que são pró-democratas, a sentença é clara, Biden não perdeu apenas o debate, expos aos norte-americanos e ao mundo fragilidades que um Presidente da maior potência militar e económica do mundo não pode ter.
E daí à quase unanime conclusão de que os democratas estão em "DEFCON 1" para decidir com máxima urgência o que fazer... substituir ou não o candidato na conferência de 19 de Agosto, que é quando os delegados confirmam a nomeação depois das votações primárias estaduais que Biden venceu com grande à-vontade.
Isto, porque os danos deste debate nas possibilidades de reeleição de Biden são gigantescos e o pior é que a 10 de Setembro a dose repete-se, sendo que, até lá, tudo o que ele disser será visto e ouvido tendo este momento desastroso como referência.
Até hoje, tal cenário nunca sucedeu, mas, como explicam os media norte-americanos, não há nada, além da tradição histórica, que impeça que o partido nomeie outro candidato que não o que ganhou as primárias.
Sendo que os democratas têm um problema adicional, que é o facto dessa escolha "natural" ser a vice-Presidente Kamala Harris, uma das figuras mais apagadas e sem vigor político entre os democratas, que seria sempre a substituta em caso de morte ou outra situação incapacitante para Biden se manter no cargo.
Sendo, porém, como refere o Politico, um dos media norte-americanos mais focados na política interna do país, "altamente improvável" que tal cenário venha a suceder, porque, perante a falta de exemplos na história da democracia norte-americana de um tal cenário, teria de ser o próprio a aceitar sair pelo seu pé...
Apesar desse cenário estar em aberto, até porque está a ser mais discutido nos media próximos dos democratas, como a MSNBC, que nos pró-republicanos, mesmo que apenas com uma brecha para o quarto escuro do inédito, o mais certo é que os democratas se vejam obrigados a ir mesmo a jogo com Joe Biden, que é pouco menos que oferecer a Casa Branca de novo ao "bully" Donald Trump.
E as sondagens feitas logo após o debate são, na sua generalidade, claras sobre o pânico que está instalado nas hostes democratas, com números que apontam em média para dois terços dos eleitores a darem como tendo sido Trump a sair vitorioso da arena da CNN, onde os dois se digladiaram.
A forma sobrepos-se claramente ao conteúdo, porque as discussões a seguir ao debate deixaram quase por completo de lado as questões de política interna, como os super-temas da economia e da imigração, onde um e outro lado repetiram os argumentos conhecidos até à exaustão...
Como se diz com a ironia mais real que a realidade permite, que todos os habitantes do Planeta Terra deveriam votar nas eleições dos EUA, devido à forma como Washington interfere, a bem ou a mal, em todas as geografias, foi, na política externa, sobre as duas guerras mais mediáticas do momento, Ucrânia e Gaza, que ambos concentraram o "fogo".
E também nesse campo, os analistas são esmagadoramente consistentes na ideia de que Trump ganhou, ao reinsistir na necessidade urgente de acabar com a guerra na Ucrânia, claramente cada vez mais impopular na opinião pública norte-americana.
Isto, ao mesmo tempo que o antigo Presidente se colocou claramente ao lado de Israel, a quem deu "carta branca" para manter a pressão sobre o Hamas, seja qual for o preço a pagar em vidas civis palestinianas.
E é isso que faz as delícias do lobby judaico nos EUA, que domina as grandes fortunas de Wall Street e financia sempre as candidaturas que mais se alinham com os seus interesses.
E se Trump falou da inaceitável torrente de biliões enviados para a Ucrânia à custa dos contribuintes norte-americanos como um problema, Biden disse que isso é essencial para travar a intenção de Putin invadir outros países europeus, como a Polónia, se conseguir ganhar a guerra na Ucrânia, algo que cada vez menos convence as opiniões públicas ocidentais.
Trump reiterou que vai acabar com o conflito no leste europeu, introduzindo uma ligeira mudança, referindo agora que a guerra terminará assim que for eleito, e não apenas quando tomar posse, em Janeiro de 2025, se vencer, enquanto Biden manteve a linha de que é preciso derrotar a Rússia no campo de batalha mantendo o fluxo ilimitado de apoio financeiro e militar para Kiev.
Já em Israel, este debate foi ouvido com especial atenção e se havia dúvidas de que Telavive está com Trump, essas acabam de ser dissipadas, o que permite concluir que o Governo de Benjamin Netanyhau não vai apenas manter o esforço de guerra em Gaza até às eleições nos EUA, pelo menos, vai também preparar claramente o terreno para uma nova frente com o Hezbollah no sul do Líbano.
Em conclusão, Donald Trump não ganhou o debate desta madrugada de quinta-feira para hoje, sexta-feira, 28, foi Joe Biden que o perdeu porque não manteve um discurso lúcido, não concluiu as ideias nas fases-chave do "combate" e deixou Trump usar e abusar das suas fragilidades físicas e mentais.
Pode, no entanto, com o passar das horas, e com a repetição exaustiva dos momentos mais dramáticos de Biden onde Trump foi claramente "bully", levar os eleitores a virarem-se contra o ex-Presidente pela forma violenta e truculenta com que lidou com o ainda Presidente dos EUA.