Ao fim de 48 horas de tensão e com milhares de soldados dos países da Comunidade Económica da África Ocidental (CEDEAO), liderados pelo Senegal, o reinado de um dos mais controversos lideres africanos chegou ao fim quando, às primeiras horas de hoje (na foto), ficou consolidada a saída de Yahya Jammeh, derrotado nas eleições presidenciais da Gâmbia, com destino a um exílio "dourado" na Guiné Equatorial.
No entanto, como descrevem as agências internacionais, e depois de Jammeh, ao longo dos 22 anos de liderança do país, ter feito tantos compromissos em pó, milhares de militares do Senegal, com apoio de homens e equipamento da Nigéria e do Gana, mantinham o cerco apertado à capital da Gâmbia, Banjul, até que o novo Presidente, Adama Barrow, vencedor das eleições de 01 de Dezembro, assuma as rédeas do país.
Recorde-se que Adama Barrow, que optou por um "mini exílio" pós-eleitoral em Dacar, no Senegal, e tomou posse como Chefe de Estado na embaixada do seu país nesta cidade, devendo chegar a Banjul nas próximas horas, após a saída definitiva de Jammeh da Gâmbia, país que governou a partir de 1994, chegando ao poder através de um golpe de Estado, mantendo-se no poder graças a eleições pouco recomendáveis em estados democráticos e de Direito. Até à passada sexta-feira, dia em que terminou legalmente o seu mandato, depois de ter perdido as eleições de Dezembro.
Apesar desta forte tensão militar, tendo-se chegado a admitir confrontos entre as tropas da CEDEAO e as forças que permaneceram leais a Jammeh, este esteve quase a fazer história ao declarar inicialmente que aceitava a derrota para, dias depois, dar o dito por não dito, recusando ceder o poder a Barrow, dissolvendo a comissão eleitoral, instaurando o Estado de Emergência no pais e prometendo fazer da Gâmbia um cemitério para eventuais invasores. ~
Desta forma, esfumou-se a possibilidade de este pequeno país anglófono da África Ocidental, encravado no Sul do Senegal, com pouco mais de 1,7 milhões de habitantes, ter a primeira transição de poder ausente de tensões político-militares desde a sua independência em 1964.
Precedente histórico
A forma como Jammeh foi obrigado a sair do poder abre um relativo precedente histórico no continente africano porque o exílio acontece sem que a CEDEAO, que agiu sob sua estrita jurisdição mas com o respaldo prévio de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, tenha concedido quaisquer condições ao exilado, nomeadamente sobre eventuais acções judiciais no seu país.
Recorde-se que a imprensa senegalesa chegou a divulgar que a recusa de Jammeh ceder o poder a Barrow resultou de o partido do Presidente eleito ter ameaçado o deposto com acções judiciais pelo desaparecimento de dezenas de opositores nas duas décadas que governou a Gâmbia e também pela forma como alegadamente se assenhoriou de bens do Estado para si e para a sua família.
Para já, com esta posição assumida pela CEDEAO, o que os seus responsáveis querem transmitir é que, pelo menos nos 15 países que a compõem, não será tolerada qualquer desvio à regra democrática de quem ganha eleições tem a legitimidade absoluta para governar.
Barrow promete paz
Com este cenário em cima da mesa, o novo Presidente da Gâmbia já garantiu a todos aqueles que foram obrigados a sair do país por razões políticas pode agora regressar se for essa a sua vontade.
"A lei do medo foi banda da Gâmbia para sempre. Todos aqueles que foram forçados por questões políticas têm agora a liberdade total para regressarem a casa", disse Barrow, repetindo o que já tinha afirmado na tomada de posse na embaixada do seu país em Dacar.