Em Kano, no norte do país, os manifestantes tentaram acender fogueiras em frente ao gabinete do governador e a polícia respondeu com gás lacrimogéneo. Na mesma cidade, grupos de manifestantes começaram a vandalizar sinais de trânsito, observou também um jornalista da AFP.
Já nos arredores de Abuja, onde se concentraram centenas de pessoas, a polícia também lançou gás lacrimogéneo, relatam os repórteres da agência de notícias francesa AFP.
Várias centenas de manifestantes também marcharam no bairro de Ikeja, em Lagos, a capital económica.
O país mais populoso de África está a atravessar uma das piores crises económicas dos últimos anos, na sequência das reformas introduzidas pelo Presidente Bola Ahmed Tinubu, que chegou ao poder em maio de 2023.
Intitulado #EndbadGovernanceinNigeria (Acabar com a má governação na Nigéria), o movimento de protesto atraiu um grande apoio nas redes sociais, numa altura em que o país regista um aumento generalizado dos preços, com uma inflação nos produtos alimentares superior a 40% e o preço da gasolina a triplicar.
Na véspera das manifestações previstas para as principais cidades do país, incluindo para a populosa Lagos, as autoridades apelaram aos nigerianos para que evitassem as manifestações e alertaram para a possibilidade de repetição dos recentes actos de violência mortal no Quénia.
O Governo apelou ao diálogo e enumerou as medidas tomadas desde que Tinubu chegou ao poder para aliviar as dificuldades económicas.
"Apelamos aos nigerianos para que continuem na senda da paz, do diálogo e da colaboração", declarou o secretário do Governo da Federação, George Akume, à imprensa, na quarta-feira.
Mas os organizadores dos protestos reafirmaram a sua intenção de se manifestarem.
"Acreditamos que este movimento deve continuar apesar das ameaças e intimidações", afirmou a coligação de organizadores, num comunicado esta semana.
Os manifestantes pedem a Tinubu que anule certas reformas, como a suspensão dos subsídios aos combustíveis e também que "ponha fim ao sofrimento e à fome" no país.
"A fome levou-me a protestar", disse Asamau Peace Adams, um manifestante de 24 anos, no exterior do estádio nacional de Abuja. "Tudo isto se deve a uma má governação", acrescentou.
O último grande movimento de protesto na Nigéria ocorreu em outubro de 2020. Denominado #EndSARS, este movimento tinha o objetivo de pôr termo aos abusos de uma brigada da polícia anti-roubo, a SARS.
O movimento conseguiu que esta unidade policial fosse dissolvida, mas os protestos acabaram em derramamento de sangue, com pelo menos 10 manifestantes mortos, de acordo com a Amnistia Internacional. O Governo e o exército negaram qualquer responsabilidade.