Um relatório da agência das Nações Unidas para os Refugiados, o ACNUR, que aborda as actuais tendências dos deslocamentos forçados de populações, divulgado esta quinta-feira, 16, esclarece ao pormenor o que está pode detrás desta tragédia que ensombra o planeta, desde o continente africano, onde sobressaem os efeitos das alterações climáticas e a insegurança alimentar, agora reforçada pela guerra no leste europeu, e a Europa, devido aos milhões de deslocados pela guerra que grassa desde 24 de Fevereiro, quando a Rússia invadiu o pais vizinho.

Deste documento ressalta a trágica aritmética que soma mais de 53 milhões de deslocados internos, mais de 27 milhões nos países vizinhos e quase 5 milhões são requerentes de asilo.

Face a este crescente embaraço mundial, para o qual as instituições internacionais parecem não conseguir dar resposta, o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados propõe que sejam reforçadas as frentes de pressão para que a guerra acabe, o que levaria a uma redução drástica dos deslocados na Ucrânia e uma diminuição progressiva do problema em África, com um maior fluxo de cereais provenientes da Ucrânia e da Rússia aos mercados internacionais.

Segundo este documento, reportando a Dezembro de 2021, existiam nesse momento, ainda sem os efeitos do conflito na Ucrânia, onde, entretanto, foram somados mais perto de 8 milhões de deslocados internos, 89,3 milhões de pessoas, mais 8% que em igual período de 2020, e o dobro de que se verificava em 2011, deslocadas das suas casas.

Por detrás destes números catastróficos, estão as guerras, a violência de grupo, as perseguições e os abusos dos Direitos Humanos, como é disso melhor exemplo o efeito da guerra no leste europeu que levou, segundo o ACNUR, ao mais volumoso deslocamento de pessoas desde a II Guerra Mundial, mas também o que tem sucedido no Afeganistão, depois da debandada dos Estados Unidos que entregaram o país ao radicais islâmicos, Taliban, e em África, com milhões a fugir, especialmente no Corno de África, da fome, ou nos Grandes Lagos, especialmente no leste da RDC, da violência das guerrilhas que ali actuam.

Tudo junto leva esta cifra a tocar os 100 milhões de seres humanos obrigados a deixarem as suas casas e localidades para procurarem refúgio e segurança, a maior parte para países vizinhos onde não encontram condições de acolhimento aceitáveis devido à pobreza.

Filippo Grandi, o alto-comissário da ONU para os refugiados, citado pela página online desta agência, o que mais inquieta é que "durante a última década, todos os anos estes números aumentam e, ou a comunidade internacional assume que tem de atacar este problema humanitário geral, acabar com os conflitos e encontrar soluções estruturais ou este balanço trágico vai continuar a crescer ano após ano".

E um exemplo disso é que em 2021, recorda ainda Grandi, citando o Banco Mundial, mais de 850 milhões de pessoas viviam em 23 países com algum tipo de conflito em curso.

Os países africanos que recentemente mais viram crescer os problemas neste capítulo foram os Uganda, Chade e o Sudão.

NO que toca aos refugiados internos, aqueles que procuram refúgio face a perigos múltiplos dentro das fronteiras dos seus países, avança ainda o relatório do ACNUR, também está a crescer, desta feira pelo 15º ano consecutivo, passando para mais de 53 milhões, sendo de destacar os casos da Etiópia, com o conflito que opõe o regime de Adis Abeba e os rebeldes de Tigray, ou ainda nos países do Sahel, como o Mali, Chade e o Burquina Faso, devido à violência jihadista.

Bons exemplos escasseiam mas este documento aponta pelo menos um caso, na Costa do Marfim, onde o Governo local está a conseguir com sucesso gerar políticas propiciadoras do regresso dos deslocados às suas terras de onde saíram por causa das sucessivas crises político-militares da última década.