"Instamos o Egipto, a Etiópia e o Sudão a trabalharem em conjunto para intensificar os esforços no sentido de resolver pacificamente os conflitos em curso", afirmou o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, no 'briefing' diário.

O porta-voz recordou "a importância da declaração de princípios de 2015 sobre a barragem" que sublinha a necessidade de uma cooperação baseada na boa-fé, no Direito internacional e no objectivo do benefício mútuo.

A pedido do Egipto, o Conselho de Segurança da ONU marcou para hoje à tarde (hora de Nova Iorque) uma reunião informal por videoconferência sobre o conflito entre os três países.

Segundo uma fonte diplomática, não se espera qualquer decisão nesta sessão.

No domingo, o Sudão tinha advertido para a escalada do conflito após o fracasso das negociações sobre um acordo para o enchimento do reservatório e a entrada em funcionamento da Grande Barragem do Renascimento, localizada na Etiópia.

A Etiópia quer começar a encher o reservatório já em julho, com ou sem o acordo dos outros dois países.

O Egipto, que considera este projeto uma ameaça "existencial", tinha apelado à intervenção do Conselho de Segurança das Nações Unidas, citando a atitude "negativa" da Etiópia e a sua "insistência em querer encher a barragem unilateralmente".

O assunto, a pedido do Egipto, será também discutido na terça-feira numa videoconferência dos ministros dos Negócios Estrangeiros da Liga Árabe.

Enquanto a Etiópia considera que a barragem de 145 metros de altura é essencial para o seu desenvolvimento e electrificação, o Sudão e o Egipto receiam ver limitado o seu acesso à água.

O Egipto argumenta que um enchimento demasiado rápido pode reduzir a quantidade de água que chega ao país e da qual depende quase inteiramente.

O Sudão poderá, no entanto, recolher alguns benefícios, como o fornecimento de electricidade e a regulação das cheias do rio.

A Grande Barragem do Renascimento, que a Etiópia está a construir no Nilo Azul - que se junta ao Nilo Branco no Sudão para formar o Nilo, que abastece o Egipto, - deverá tornar-se na maior central hidroeléctrica em África e tem sido uma fonte de tensão entre Adis Abeba e o Cairo desde 2011.

Após nove anos de impasse nas negociações, os Estados Unidos e o Banco Mundial têm vindo a promover, desde Novembro de 2019, discussões destinadas a chegar a um acordo entre os três países.

O Nilo, que percorre cerca de 6.000 quilómetros, é uma fonte vital de abastecimento de água e electricidade para pelo menos 10 países da África Oriental.

A barragem, orçamentada em 4,6 mil milhões de dólares, tem como objectivo garantir electricidade a mais de 70 milhões de etíopes.