Esta fuga de populações face aos repetidos e intensos combates entre os guerrilheiros do M23, também conhecido como Exército Revolucionário do Congo, e as Forças Armadas da RDC (FARDC) é apenas mais uma situação da já violenta situação que as três províncias do leste/nordeste do Congo, Ituri e Kivu, Norte e Sul, vivem há décadas.
Esta região, que faz fronteira com países como o Ruanda e o Uganda, sofre especialmente devido a três grupos rebeldes (ver links em baixo, nesta página), além do M23, as ADF (Aliança das Forças Democráticas), com origem no Uganda e, recentemente, tomadas pelo interior por forças ligadas ao estado islâmico e ao jihadismo do sahel e do Corno de África, e das Forças Democráticas para a Libertação de Ruanda (FDLR).
Segundo fontes citadas pelo site Africanews, o M23, que existe desde 2012, está agora a usar o território do Ruanda para se reagrupar e contra-atacar no Kivu Norte de onde está a ser perseguido pelas FARDC, havendo suspeitas sólidas de que conta com o apoio de unidades do Governo de Kigali que tem interesse em parte do território daquela província congolesa, rica em minerais raros, como o coltão, do qual o Ruanda é exportador oficial sem que tenha no seu subsolo qualquer jazida conhecida deste minério.
As populações das aldeias do Kivu Norte que se encontram na linha de fogo dos combates entre as FARDC e os rebeldes do M23 estão a optar por retirar tudo o que podem das suas habitações e, por todos os meios possíveis, rumam a sul, até à zona de Rugari, a norte de Goma, ou de Kibati, a sul desta cidade.
As Nações Unidas, que têm na RDC uma das mais dispendiosas e maiores missões de paz em todo o mundo, a MONUSCO, com as forças adequadas ao território de guerra, mantendo uma substancial capacidade de fogo, e estão em permanente cooperação com as forças congolesas, já veio denunciar que alguns dos ataques do M23 são deliberadamente apontados às forças de paz da ONU.
Segundo relatos de jornalistas no terreno, as populações locais têm estado a organizar-se de forma a pedir ao Presidente congolês, Félix Tshisekedi, para que procure todo o apoio internacional que permita acabar com a permanente instabilidade e a violência no leste da RDC, expulsando todos os grupos de guerrilhas e milícias armadas.
Pelo meio desta situação escaldante no leste da RDC, o Governo do Ruanda já veio acusar as forças congolesas de terem disparado tiros de artilharia para o seu território, o que é refutado pelas FARDC, embora estas admitam perseguições aos rebeldes até à fronteira com o país vizinho.
Recorde-se que o M23 é composto quase sem excepção por membros da etnia Tutsi, do Ruanda, que em 1994 estiveram sob forte perseguição pela maioria Hutu, tendo mais de 800 mil perdido a vida no conhecido genocídio ruandês.
Quando foram criados, em 2012, rapidamente forçaram intensos combates com as FARDC e sofreram uma pesada derrota, tendo aceitado um acordo de paz que, agora, dizem que o Governo de Kinshasa não está a respeitar, nomeadamente nas condições oferecidas aos guerrilheiros para a sua desmobilização.