Não é uma surpresa total, porque, por duas ocasiões, com estrondo, o chefe de Estado francês aludiu à possibilidade, primeiro, do envio de tropas da NATO para a Ucrânia, e depois assumindo que se mais ninguém o fizer, fá-lo-á Paris.
Em ambas as situações Emmanuel Macron foi severamente criticado pelos seus aliados ocidentais (ver links em baixo nesta página), desde logo alemães, britânicos e norte-americanos, todos eles alegando que tal passo seria encurtar caminho rumo ao abismo de uma escalada incontrolável na guerra.
Agora, como asseveram vários media, como o Asian Times, com sede em Hong Kong (China) sem conformação oficial, além de bloggers de guerra e sites independentes, a França avançou mesmo nessa direcção do abismo, com uma unidade da sua Legião Estrangeira.
A Legião Estrangeira não conta com soldados franceses, apenas os oficiais são nacionais de França, acolhendo nas suas fileiras voluntários de todo o mundo desde que possuam experiência em combate ou de outro tipo considerado válido para este corpo expedicionário.
Se isso permite a Paris alegar que não tem efectivos franceses no terreno, na Rússia as coisas são claras, é a França a entrar na guerra, embora isso tenha sido dito quando ainda se estava na fase da possibilidade aberta pelas palavras do Presidente francês nos últimos meses.
Até que esta situação seja clarificada, porque nem Paris nem Kiev confirmam a presença dos legionários na Ucrânia, e Moscovo também não o fez, embora alguns bloggers de guerra estejam a avançar que as forças russas já começaram a "caça" ao legionário, as atenções estão focadas na frente onde se espera uma grande ofensiva russa.
Alias, as fontes que asseguram a presença da Legião Estrangeira francesa no leste da Ucrânia aludem à emergência de travar essa mesma ofensiva por detrás da decisão de Paris, sendo que estes 100 são os primeiros de cerca de 2.000 a caminho da guerra.
Com as posições ucranianas, o que é confirmado tanto por ucranianos, incluindo o próprio CEMGFA, general Olexandr Sirsky, como por sites pró-russos, em iminente colapso, a retirar ou em debandada, nalguns casos, os russos procuram aproveitar a vantagem do momento.
Isto, porque há uma nova vaga de armamento ocidental a chegar a Kiev, desde logo o adquirido pelo pacote de ajuda norte-americano, aprovado na semana passada pelo Congresso, embora seja já claro que a montanha estará a parir um rato em Washington.
Mas não é apenas dos EUA que chegam armas para as forças ucranianas, também os europeus estão a despachar centenas de viaturas blindadas, artilharia, munições e os altamente esperados aviões F-16, perto de 90, que devem começar a chegar ainda em Maio.
E é neste espaço temporal, segundo alguns analistas militares, com as linhas de defesa ucraniana claramente enfraquecidas pelo atrito estratégico russo, que Moscovo procura avançar no terreno para limpar o que lhe resta ocupar, para já, no Donbass (Donetsk), e depois em Kherson e em Zaporizhia.
Isto, porque a chegada da nova vaga de equipamento ocidental (ver links em baixo nesta página) que inclui ainda, misseis de longo alcance norte-americanos ATACMS, a Ucrânia poderá, embora isso não seja certo porque os analistas apontam para a ausência do armamento mais adequado, equilibrar a força no terreno e dificultar a vida aos russos.
O que, alegadamente, será, precisamente o que os franceses pretendem, ganhar tempo para Kiev enquanto os seus arsenais não são reforçados, com o envio da Legião Estrangeira para o leste ucraniano, procurando atrasar o avanço russo para oeste.
Isto, porque, ao ritmo que as forças russas ganham terreno e ocupam localidades, rapidamente poderão chegar ao Rio Dniepre, o maior rio ucraniano, e um dos grandes rios europeus, o que lhes daria uma capacidade quase inexpugnável para defender posições, sendo que isso significaria que a Federação Russa estaria na posse de mais ou menos 1/3 de toda a Ucrânia.
Mas não é apenas na frente que se trava este combate...
... a partir de Moscovo, onde o Kremlin, numa clara reacção às repetidas ameaças de envio de tropas ocidentais para a Ucrânia, ordenou a realização de exercícios com armas nucleares tácticas na região sudoeste da Rússia, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrorv, acusou o Presidente da França de "respirar russofobia" e de estar a usar essa vertente para "satisfazer a sua ambição de liderar a Europa".
Numa entrevista a uma televisão sérvia-bósnia, o chefe da diplomacia russa, que respondia à entrevista de Macron à britânica The Economist, onde este defendeu que a Rússia não pode ganhar a guerra na Ucrânia porque isso poria em risco a segurança no continente europeu, acusou Macron de estar numa "fase de ardente postura anti-Rússia".
E, ironizando, Lavrov, recorrendo à História, perguntou a Macron, retoricamente, se "as ambições de Adolf Hitler e Napoleão Bonaparte (ambos invadiram a Rússia) eram movidas pela visão da Rússia como uma ameaça(?)".
Lavrov disse ainda estar ciente e compreender que Emmanuel Macron precise desta postura anti-Rússia para disputar a liderança na União Europeia, pensando que só o poderá conseguir cavalgando este tópico".
É ainda importante lembrar que Moscovo tem repetido que não pretende nem teria como fazê-lo invadir quaisquer países da NATO, e que os seus objectivos estão claros desde o início, sendo circunscritos à Ucrânia...
Entretanto, o "amigo" chinês chega a Paris...
O Presidente da China, Xi Jinping, que é, notoriamente, o grande aliado russo, cheou esta manhã de segunda-feira, 06, a Paris, para o início de um périplo europeu que o levará ainda, curiosamente, à Sérvia e à Hungria, os dois países mais próximos de Moscovo na Europa ocidental.
Neste primeira visita à Europa desde a pandemia da Covid-19, o líder chinês carrega na agenda duas questões essenciais: a guerra na Ucrânia e a guerra comercial que os EUA, declaradamente, e os europeus, em via disso, estão a desenvolver contra Pequim.
Com esta visita a Paris, aproveitando o facto de Macron ser uma espécie de "enfant terrible", e, por conseguinte, aquela que mais resistência produz às "ordens" emanadas de Washington para os europeus, Xi Jinping procura criar um "amigo" que lhe mantenhas portas abertas para o mercado europeu.
Isto, porque cresce na Europa a disponibilidade para seguir os passos dos norte-americanos na criação de obstáculos à expansão global da economia chinesa, que é um dos perigos para a hegemonia ocidental liderada pelos EUA.
A lealdade europeia aos EUA, apenas como um exemplo, ficou clara na recente questão da proibição da "chinesa" Tik Tok na América e, provavelmente, também na União Europeia, se esse caminho for feito em Washington até ao fim.
Mas Xi Jinping tem igualmente em vista a possibilidade de Macron emergir, de novo, como um "aliado" na busca de uma solução negociada para o conflito ucraniano, considerando que, apesar deste desafiante envio dos legionários para a guerra (?), Paris foi até há alguns meses, uma plataforma de diálogo aberto com Moscovo.
E o Presidente francês, antes da chegada de JInping, voltou a defender que a porta do diálogo com os russos não pode ser fechada, dando lastro à fórmula chinesa para desenhar uma saída nesta guerra que está a destruir a economia europeia lenta mas solidamente.
Isto, porque Pequim, sem esconder a "parceria sólida como uma rocha" com Moscovo, tem vindo a insistir numa solução negociada, atacando severamente as sanções ocidentais a Moscovo, e garantindo que não desfaz os laços entre os dois gigantes asiáticos mesmo sob a ameaça de sanções dos EUA e da União Europeia à China por causa disso.
Numa mensagem prévia à sua chegada a Paris, Xi sublinhou vincadamente o enorme potencial das relações comerciais entre os dois países, de forma general mas fornecendo garantias de que a China está totalmente aberta às exportações que mais aquecem a economia francesa, como os cosméticos, farmacêuticos e agricultura... onde entram os vinhos e champanhes...
A questão ucraniana é, porém, a que mais concentra as atenções dos media internacionais... mas nesse capítulo, só, provavelmente, no final da visita haverá novidades, até porque se aproxima rapidamente a data, Junho, da Cimeira da Paz na Suíça, onde Pequim já disse que não terá qualquer utilidade sem a presença da Rússia.
Sobre esta iniciativa, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, já disse ser "uma paródia" sem outra importância que não a de manter o circo criado pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.