Pelo meio, o Governo mandou cortar a internet em várias zonas da capital do país, Dacar, e vigiar as redes sociais de forma preventiva, para onde se prevê que se espalhem os tumultos populares depois desta decisão, que fere com gravidade a democracia senegalesa, uma das mais sólidas do continente africano até aqui.

O caótico processo de votação no Parlamento, como se esperava, foi conduzido com a capital senegalesa sob forte policiamento, esperando-se que os protestos populares organizados pela oposição cresçam nos próximos dias.

Por detrás desta situação totalmente estranha à democracia senegalesa está uma tentativa de Macky Sall forçar um 3º mandato, ilegal face à Constituição, que não correu bem, optando depois por uma mudança de estratégia que passa agora por encontrar justificações sucessivas nas questões burocráticas para protelar a saída do poder.

Para este adiamento das eleições por quase nove meses, Macky Sall, que governa o Senegal desde 2012, usou o caos na qualificação das candidaturas, havendo alguns candidatos que foram desqualificados por alegadamente terem forjado o abandono de dupla nacionalidade, como é o caso de Karim Wade, filho do antigo Presidente Abdoulaye Wade, que também é (era?) francês.

Durante a votação no Parlamento, a polícia enviou centenas de agentes para as bancadas de forma a retirar os deputados da oposição que queriam impedir a votação que consideram ilegal e atentatória das bases da democracia senegalesa, acusando Macky Sall de estar a protagonizar um golpe de Estado encapotado.

O Senegal, país independente desde 1960, tem eleições desde esse mesmo ano, embora com um interregno de 10 anos, entre 1965 e 1975, devido à influência socialista, e uma situação deste recorte nunca aconteceu, pelo menos desde 1962, sendo a alternância democrática a regra nas últimas décadas, até agora, fazendo deste o país com uma das democracias mais robustas do continente africano.

As próximas semanas serão decisivas para a democracia e o Estado de Direito no país, que tem fronteira com países com um passado recente de turbulência política, como o Mali, Mauritânia, a Guiné-Conacri, Gâmbia ou a Guiné-Bissau, sendo um oásis de estabilidade neste conjunto geográfico.

Com a denominada "FranceAfrique", a geografia africana composta pela antigas colónias francesas na África Ocidental em derrocada, como se viu nos últimos três anos no Mali, no Burqina Faso, Níger ou Guiné-Conacri, a expectativa é que o Senegal, o mais leal de todos estes países a Paris, consiga suster esta vaga de colapsos das relações com a antiga potência colonial, mas isso não é certo e só os próximos meses o dirão (ver links em baixo nesta página)