No último ano, o Senegal tem surpreendido o mundo negativamente, com vários casos graves de desconformidades constitucionais promovidas pelo Presidente Macky Sall, que está a terminar o seu segundo e último mandato, nomeadamente lançando, através de aliados, a ideia de forçar um terceiro mandato.

A reacção popular, movida pela oposição, foi sempre a mesma, com a erupção de violentos protestos nas ruas de Dacar, a capital senegalesa, tendo mesmo ocorrido dezenas de mortos em alguns destes protestos, o que conduziu à primeira crise eleitoral séria neste país desde praticamente a sua independência, no início da década de 1960.

O adiamento das eleições está a ser justificado por Macky Sall com o registo de casos duvidosos de candidatos que não clarificaram se abdicaram efectivamente da dupla nacionalidade, sendo desqualificados por isso, como é o caso do franco-senegalês Karim Wade, o filho do antigo Presidente Abdoulaye Wade, que governou de 2000 a 2012.

Apesar desta decisão estar impregnada de garantias de que seria acolhida com protestos violentos, Sall não deixou de a tomar, o que pressupõe uma estratégia em curso para lhe garantir uma justificação para forçar o 3º mandato, embora o mesmo tenha garantido que não é essa a sua intenção.

O Presidente, depois de ter anunciado o protelamento das eleições horas antes do arranque da campanha eleitoral para a ida às urnas a 25 de Fevereiro, que o mesmo tinha marcado em anterior decreto, disse, citado pela imprensa senegalesa, embora sem ter marcado uma nova data, que está a "erguer as condições para que as eleições decorram num ambiente de transparência e liberdade".

A par desta remarcação do calendário eleitoral, o Senegal está à beira de uma convulsão generalizada porque o Conselho Constitucional desqualificou as candidaturas de Karim Wade, cujos apoiantes exigiram o adiamento das eleições para clarificar a situação, e Ousmane Sonko, dois candidatos com pergaminhos que poderiam ferir de morte uma eventual candidatura de Sall ou do seu candidato para o substituir.

Vários dos 20 candidatos rejeitam este contexto político e, ao mesmo tempo, acusam Macky Sall de estar a fazer estes "truques" para evitar ser julgado por corrupção, surgindo como suspeito de desvio de milhões USD de verbas definidas para combater a pandemia da Covid-19.

Outros já vieram garantir que vão manter a campanha eleitoral em curso para as eleições de 25 de Fevereiro, como estava definido por decreto presidencial há meses.

Alguns candidatos da oposição, como o anterior ministro Thierno Alassane, já agendaram para esta segunda-feira o lançamento da campanha eleitoral em Dacar, tal como o fez o antigo Presidente da câmara de Dacar, Khalifa Sall.

A Comunidade de Países da África Ocidental (CEDEAO) e a União Africana já vieram pedir que a normalidade legal seja reposta o mais rápido possível e tanto a França, antiga potência colonial, como os Estados Unidos, ude quem o Senegal é um dos mais sólidos aliados no continente africano, exigiram que as eleições sejam realizadas no mais curto espaço de tempo possível.