As imagens que estão a ser transmitidas pelas TV"s internacionais desde terça-feira - 07:00 em Caracas, 12:00 em Luanda - começaram por mostrar Juan Guaidó e o líder da oposição Leopoldo López, que estava em prisão domiciliária e foi libertado pelos miliares afectos a Guaidó, rodeados de populares e militares armados, com ambos a apelar às Forças Armadas para se juntarem a esta marcha para depor Maduro, mas os analiastas parecem coincidir na ideia de que o desfecho para esta situação de forte tensão vai depender de para que lado descair o apoio dos militares e, principalmente, das suas chefias intermédias, visto que os generais estão claramente ao lado do regime chavista.
Na reacção a esta tentativa de golpe de estado, o Presidente Nicolás Maduro já reagiu garantindo que se trata de "uma intentona conduzida por um pequeno grupo de militares traidores" que está a ser "rapidamente desmantelada".
Com esta movimentação, que foi baptizada de "operação liberdade", e que começou com a divulgação nas redes sociais de um vídeo onde Guaidó aparece com alguns militares atrás de si, o movimento liderado pelo Presidente interino procura, como o próprio afirmou, "acabar com a usurpação" do poder por Maduro, apelando aos venezuelanos para saírem às ruas.
Nesse pedido, disse mesmo que o país iria comemorar mais cedo o 1 de Maio.
A isto, Maduro já veio garantir que as forças de segurança estão a "desmantelar e desactivar" o movimento de intentona que tem por detrás "um reduzido grupo de militares traidores".
E depois de ter reunido com os comandantes dos diferentes ramos das Forças Armadas veio a públco dizer que as chefias lhe garantiram "total lealdade" o que, para si, é o suficiente para ter a certeza de que vai ganhar este braço-de-ferro com Guaidó e López.
Recorde-se que a Venezuela vive há meses, desde 23 de Janeiro, com um autoproclamado Presidente interino, que conta com o apoio claro dos EUA, do Brasil, de vários países europeus e sul-americanos.
Ao lado de Maduro estão a generalidade dos países africanos, a China, a Rússia e Cuba, na primeira linha de protecção internacional ao regime venezuelano.
O Presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, foi, entre este grupo, o primeiro a reagir, no Twitter, e já rejeitou o "movimento golpista que pretende encher de violência" a Venezuela, defendendo que "os traidores que se colocaram na frente deste movimento subversivo usaram tropas e polícias com armas de guerra numa via pública na cidade para criar ansiedade e terror".
O ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrio, já veio, entretanto, garantir que as "Forças Armadas estão firmes ao lado do Presidente e da Constituição" e que os "traidores" estão a ser desmantelados na sua pequena organização.
Os media do país estão praticamente fechados para este assunto e as redes sociais foram quase totalmente anuladas pelo Governo de Maduro.
Cerca das 09:00 desta terça em Caracas - 14:00 em Luanda - foram ouvidos os primeiros tiros em Caracas mas a situação na capital venezuelana não sofreu grandes alterações - apenas a concentração popular é agora substancialmente maior - desde a publicação do vídeo onde Guaidó e Lopéz surgem lado a lado a pedir o apoio popular e dos militares.
Maduro mantém a acusação de traição aos militares que se juntaram ao autoproclamado Presidente interino.
Mas o mais relevante, como já sublinharam analistas, é que a situação permanece impossível de perceber quaisquer evoluções num ou noutro sentido, embora a ausência de notificações nas redes sociais de novas "aquisições" entre a tropa para o campo de Guaidó permita adivinhar um certo status quo.
Os jornalistas dos media internacionais presentes na Venezuela a cobrir esta tentativa de golpe falam na estranha ausência de militares nas ruas de Caracas, especialmente de tropas que se mantiveram leais a Maduro.
Dos apoiantes internacionais de Guaido, Donald Trump já disse estar a acompanhar com atenção o evoluir da situação em Caracas. Os apelos à calma, como foi o caso do Governo português, um dos países europeus que apoio o Presidente interino, têm sido repetidos pelas diversas chancelarias europeias.
México, Chile e Peru dizem de sua justiça
O Presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, apelou para uma "solução pacífica" da crise na Venezuela, após o pedido do líder da oposição, Juan Guaidó, ao povo para se revoltar contra o dirigente do país, Nicolás Maduro.
"É muito clara a nossa posição, desejamos que haja diálogo, que se respeitem os direitos humanos, que não se aposte na violência em todos os países do mundo, porque o respeito pelos direitos dos outros é a paz", disse o chefe de Estado do México em conferência de imprensa.
Esta posição dá continuidade ao discurso em matéria de política externa de López Obrador desde que chegou ao poder, a 01 de dezembro de 2018, que passa pela não-interferência nos conflitos internos de outros países.
O Chile e o Peru reiteraram hoje o seu apoio ao autoproclamado Presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, que pediu aos civis e aos militares para se manifestarem e o apoiarem para retirar Nicolás Maduro do poder.
"Reiteramos o nosso total apoio ao Presidente Guaidó e à democracia na Venezuela", escreveu o presidente chileno, Sebastián Piñera, na sua conta da rede social Twitter.
"A ditadura de Maduro deve terminar com a força pacífica, e dentro da Constituição, do povo venezuelano. Assim irá restaurar as liberdades, a democracia, os direitos humanos e o progresso na Venezuela", acrescentou Piñera.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Chile, por sua vez, indicou que está a acompanhar de perto os acontecimentos na Venezuela, principalmente em torno da base de La Carlota, a leste de Caracas, onde Guaidó anunciou que os militares estão agora do seu lado.
Também o Peru, por intermédio, do Ministério do Negócios Estrangeiros, indicou que o Governo peruano apoia "totalmente" Juan Guaidó "na sua luta pela recuperação da democracia na Venezuela" acompanhando de perto a situação do país com o Grupo de Lima.
Numa mensagem da rede social Twitter, o Ministério salientou que "o regime usurpador e ditatorial de (Nicolás) Maduro deve chegar ao fim".
"O Peru e o Grupo de Lima estão a acompanhar de perto a situação na Venezuela com vista a convocar uma reunião de emergência", acrescentou a mesma fonte.