Após estes, na semana transacta, nalguns bairros da capital, provavelmente principiarem actos de vandalismo e pilhagem de bens públicos e privados na manifestação dos taxistas, a Polícia Nacional defendeu a proibição imediata da actividade dos lotadores nas paragens de táxis, por considerar que esses representam uma ameaça à segurança pública e não têm qualquer respaldo legal. A posição foi contrastada pelo presidente da ANATA, Geraldo Wanga, que reconhece a importância da actividade, formalização e reorganização da classe por parte do Governo.

Desta feita, as duas posições revelam a opinião dividida dos taxistas, passageiros e mais cidadãos afectados pelo (des)serviço de lotação. O que nos leva a questionar: Os lotadores são ajuda ou dificuldade no sector dos transportes? A lotação é essencial para o serviço de táxi?

A resposta está na lógica encontrada depois do argumento de cada ponto de vista.

Habitualmente, os apologistas da permanência do serviço de lotação nas paragens argumentam que o grupo é importante porque organiza e limpa as paragens, auxilia os cobradores-taxistas a chamar ou buscar passageiros, ajuda os clientes com as cargas e reserva o lugar destes no táxi, afirmam ainda que a lotação tira jovens do mundo do crime, que ganham nova ocupação.

A apologia da queda imediata da actividade não se esquece da ascensão da mesma. Na segunda década de 2000, observámos, com despreocupação, o crescimento lento de um grupo de jovens que, a princípio, implorava aos taxistas para exercer o papel de auxiliar de apregoador do destino de táxi, quando os cobradores estivessem cansados. A classe não tinha nome, eram designados vulgarmente "chamadores" ou outros nomes, conforme a região. A tarefa de auxiliar de carga era diligentemente exercida pelos cargueiros de armazéns e pelos cobradores. As paragens eram organizadas pelos taxistas, fiscais das administrações municipais e polícias. Não muito tempo depois, os jovens, em vários pontos da cidade, aglutinaram aqueles serviços e outros na actividade de auxiliar de cobrador. O que era exercido de um modo suplicante passou a ser feito pela força. O neologismo lotador impôs-se na capital e noutras províncias que se tornaram reféns de certas condutas do grupo que não foi impedido de se agigantar, contudo, auto-outorgou a própria actividade.

Não é uma estigmatização à classe. As evidências demonstram que o serviço de lotação é parasitário. Aproveita-se da actividade dos taxistas e dos passageiros pela força. Sem lotadores o trânsito flui talvez com mais ordem. Nas primeiras horas do dia e no final da tarde, as paragens ficam abarrotadas de passageiros, nesses momentos, vemos como os lotadores lucram sem esforço, rendendo mais do que os cidadãos que lhes sustentam. Saem de casa, exigem o dinheiro de "placa", que ironicamente é um espaço da via pública cheio de passageiros.

No tocante à organização das paragens, os taxistas, fiscais das administrações municipais e polícias cumpririam esta tarefa como anteriormente, uma vez que a classe lotadora contribui para a desordem na via pública, agredindo taxistas e outros que se recusam a dar o dinheiro que acha merecido; dificultam o trajecto dos passageiros, promovendo linhas curtas nas horas de maior clientela; causam e/ou pioram o congestionamento na via pública; sujam as paragens com lixo e urina, tal como os taxistas, vendedores e alguns passageiros.

Não podemos esquecer-nos dos "lotadores do carapau"! Actuam em zonas de grande dimensão comercial, cobram por carga a cada passageiro um valor equivalente ao da viagem. É uma verdadeira extorsão!

Por último, temos o pior argumento dos defensores dos lotadores: "tirar jovens do mundo do crime". Está longe de ser verdade. Essa classe era tida como marginal, não por mero preconceito, mas porque muitos deles estavam e estão associados ao crime. Não temos total evidência de que a actividade de lotação impede criminosos de cometer tais actos. Uma sincera evidência são os cidadãos furtados por lotadores. A classe não foi aceite, está a ser suportada. Muitos cidadãos também estão na mesma condição de desempregados, com a mesma obrigação de não usar meios de extorsão social para sobreviver. O Governo devia ser mais bem-sucedido e inclusivo com as políticas de empregabilidade para jovens, grande facto!

Porém, aplaudimos a posição da Polícia Nacional, que, em boa hora, sairia da intenção para a concretização. Pois, segundo Émile Durkheim, desenvolvido posteriormente por Robert Merton em teoria da criminologia, o fenómeno da lotação enquadra-se no princípio da anomia, que não é somente a ausência da lei, mas também a disfunção e ineficácia da norma no meio social. Efectivamente, as opiniões não estão assim tão divididas. Os lotadores excedem e os cidadãos estão cheios.

*transcritor audiovisual