Os ídolos, todo-poderosos, podem ter as mais variadas origens. E podem até ser de carne e osso. Não porque prometam milagres. Mas porque apontam caminhos que acalentam as mentes fragilizadas de quem se sente desamparado. Não admira, pois, que seja entre os grupos sociais mais necessitados, material ou psicologicamente, que se encontram os que perseguem com mais afinco esses atalhos que podem conduzir à satisfação das suas necessidades imediatas. Que podem ser o pão para os filhos, ou um Lexus VX. As melhoras de um ente-querido gravemente doente, ou uma viagem a Miami.

E há os que, pelo seu exemplo, e numa vertente completamente materialista, se transformam em guias para milhões. Não por serem sobrenaturais. Mas porque, com a sua acção, provam que é possível mudar o mundo. Dar voz aos que não a têm. Colocam a história nos carris, rumo a um futuro de mais justiça social e paz. Arrastando multidões bem-intencionadas que querem pertencer a esse movimento transformador e que sabem que só o podem conseguir com o seu suor e engajamento.

Os líderes não precisam, nem devem, ser ídolos. Mas podem evitar a idolatria. A confiança na liderança, e na capacidade que cada um dos integrantes da sociedade deve ter no seu poder de realização, são ingredientes eficazes contra a proliferação de crendices. Contra a aceitação de duvidosos intermediários. Falsos profetas que apregoam verdades recicladas com o objectivo último de garantir o seu bem-estar, à custa de uma alucinação colectiva.

Olhando para o nosso país, é fácil ver que não estamos bem. Os ricos procuram soluções universais (mesmo com as suas inconciliáveis contradições), mundiais ou quejandas (desde que com estilo e com profetas de fato e perfumados), enquanto os pobres hesitam entre o culto da esquina, no bairro, ou um general de estrelas de papel, que pode representar a sua revolta por não se estar a conseguir oferecer as condições mínimas para uma existência onde os problemas básicos estão resolvidos e o futuro dos seus garantidos.

A sociedade precisa de acreditar que há um caminho justo a seguir. Que esse caminho está a ser construído! E que todos fazemos parte dele. Não precisa de ídolos. Mas de uma acção consequente onde se possa rever. Com objectivos claros porque valha a pena lutar.

Os ídolos reflectem o estado de saúde de um país.

O nosso não é, claramente, satisfatório!