Qual é o limite? O extermínio de todos os contestatários que com coragem destapam o mau desempenho político de um grupo de um partido que passou de libertador a bárbaro opressor e que vê na bala a única forma de mostrar ao Mundo que controla a situação e tem apoio popular?
Está mesmo convencido de que colocar a Polícia do Estado a matar inocentes indefesos como a Ana Mabiala, uma jovem mãe de 33 anos, é manter a ordem num País onde a elite do Poder lidera a desordem nacional, cria desigualdades, pobreza, miséria e exclusão?
Num País onde a voz dos excluídos (da maioria) não tem espaço nos media que, apesar de criados e sustentados com capitais públicos, pintam uma Angola das mil maravilhas contra a realidade de milhões que morrem à fome aos olhos de todos.
É desinteligente tomar por parvos um Povo que decidiu por si próprio dizer alto e em bom som aquilo que a propaganda dos capturados e terroristas media tentam ocultar.
Por isso, Valdir Cónego, membro do Comité Central do MPLA, denuncia: "a parcialidade da comunicação social estatal e o contínuo desrespeito pela inteligência do cidadão comum são sintomas de um sistema em agonia". E adianta, "é nosso dever não nos tornarmos cúmplices silenciosos de um colapso anunciado."
É evidente o despertar da maioria sem direito a falar livremente da verdade e do estupro políticos, bem como das candongas dessa elite egoísta centrada em si mesma e que inviabiliza qualquer progresso do País.
Maioria que já não suporta um regime completamente fraudulento e esgotado, onde o Presidente, no lugar de encetar um caminho para a construção de um novo País de liberdade, dignidade e democracia, por inabilidade política, desbaratou a popularidade inicial e rapidamente passou de esperança a problema.
Em vez da decência humana e do patriotismo, o sr. Presidente optou pelo caminho do "quero, posso e mando" confundindo-se com o Estado, tal como Luís XIV, trabalhando, desta forma, voluntariamente para ser comparado ao "chefe da gang", como fez o jornalista Graça Campos.
Quantos mais graças, domingos, luzias, gilmários, entre outros diaspóricos, serão perseguidos e ostracizados para que se sinta realizado no seu projecto de cafricar o pensamento livre, até fora do território angolano?
Sr. Presidente,
Se "até o leão pode ser preso pelos fios de uma teia de aranha", segundo um provérbio africano, é ilusório acreditar que para se manter no Palácio e decidir o futuro de Angola basta usar a Polícia e o Exército numa guerra contra o Povo e tentar arrastar consigo o País para o precipício.
Com essa cegueira política e obsessão pelo mal normalizou a desumanização no País, sem, no entanto, perceber que está a cavar a sua sepultura e, infelizmente, a expor a sua família a vinganças de todo o género, depois de abandonar o Palácio.
E quando os seus descendentes forem vítimas desse sistema que cultivou, os seus bajuladores e putativos herdeiros políticos serão os primeiros a dar-lhe as costas e a negá-lo, como Pedro negou Cristo por três vezes, antes da sua crucificação.
Lembre-se que na sociedade angolana, também fruto da sua política persecutória, incluindo dentro do seu partido, onde a muito custo as vozes contra o seu desempenho vão saindo do esconderijo, a traição parece normalizada.
Por isso é pouco inteligente confiar nos seus apparatchiks que com o fito de o agradar ou com medo de o desagradar, eliminam ou ocultam da História o seu antecessor, o agora diabolizado José Eduardo dos Santos, cuja imagem é apagada até em pequenas iniciativas municipais do Sambizanga, sua terra Natal.
Ao plantar, cultivar e alimentar a intolerância como arma política, o ódio e a vingança, seus descendentes directos, transformaram-se em cultura da sociedade. E para a sua remoção serão necessários muitos anos e muito trabalho pedagógico e psicológico.
Quantas mais crianças angolanas terão de se prostituir em troca de comida para que perceba que a fome, como diz Lula da Silva do Brasil, é "falta de vergonha na cara" dos políticos, ou seja que, como único real Poder em Angola, o sr. Presidente é responsável pelas mortes causadas pela fome?
Quantas crianças mais terão de engrossar o grupo dos excluídos do sistema de Educação, pilar do combate à pobreza, para que perceba que o Povo reivindica dignidade da pessoa humana e que deixe de confundir Poder político com laissez faire, quer dizer, licença para fazer tudo, incluindo assassinar jovens indignados aos quais lhes foi retirado o direito à dignidade?
Quantos mais recursos do Estado terão de ser delapidados e gastos em luxos e futilidades pessoais, para gáudio da elite do Poder que baralha prioridade com propaganda e exibicionismo pimpa?
Tal como libertar um país é diferente de conquistá-lo, também ter Poder político difere de saber exercê-lo para a resolução dos problemas do "patrão", o Povo, que, morrendo diariamente, vítima do vandalismo do Estado, encontrou na revolta popular a única forma de se fazer ouvir.
O Povo empobrecido e faminto dos musseques, da periferia, usa a revolta para mostrar que o "rei vai nú". Que não está à altura dos desafios do País e que o seu legado é de miséria generalizada e de opressão.
Como pensa o jornalista Ramiro Aleixo, para o Povo, o Presidente tem "demonstrado que não está talhado nem do ponto de vista de carácter, nem académico e nem se formatou para o exercício de tão elevado cargo, embora o tenha ambicionado".
Demonstra também, acrescenta o Ramiro Aleixo e o Povo concorda, que "lhe falta energia, alegria e espontaneidade nas relações humanas. Falta-lhe, também, aquele calor característico e incomparável dos africanos.
Mesmo que use bocas-de-aluguer que, para justificar os assassinatos, estrangeirizam vítimas de forma afrófoba e xenófoba, matar a queima roupa jovens inocentes e indefesos não é o caminho para a pacificação da sociedade.
Por muito que o desagrade, esses jovens dos musseques, sem acesso aos códigos sociais dos seus filhos e dos filhos dos seus colegas da mesma elite, fazem parte do Povo faminto, mas generoso que de si já não espera nada, apesar de ter lhe dado tudo, mesmo sem merecer.
Sr. Presidente,
Culpar a Rússia, através dos Wagners, ou o Burkina Faso pelas crescentes acções contra a miséria e a opressão para além de demonstrar ingratidão prova que o infantilismo tomou conta do Palácio.
Neste período que falta, primeiro até ao Congresso do seu partido em 2026 (haverá congresso!?) e até as "eleições gerais", quantos destacados militantes do MPLA, gente com história e da história, serão neutralizados, envenenados ou perseguidos por milícias digitais e militontos para que consiga se manter no poder à força?
Quando aqueles que sempre o apoiaram ganham coragem e dizem publicamente que o seu modelo de governação "poderá conduzir ao colapso político e social em Angola", como fez Paulo de Carvalho, deputado e membro do Comité Central do seu partido, significa que o barco está a afundar por responsabilidade do timoneiro.
Que pretende com aquela declaração de guerra aos angolanos de 1 de Agosto (dia das gloriosas FAPLA), com a acusação de envolvimento da Rússia numa tentativa de desestabilização de Angola, com perseguições e prisões diárias de críticos e opositores de movimentos sociais e políticos, bem como com a militarização da capital (curiosamente com armamento russo)?
Mostrar que as mais de três dezenas de mortos do Massacre de Luanda do final de Julho último, numa espécie de macabro "assassínio preventivo", são insuficientes para se sentir saciado. O que se seguirá? Um genocídio?
Desista!