Vice-presidente da SWAPO, NNN assumiu em Fevereiro do ano corrente as funções de vice-presidente da Namíbia, em substituição de Nangolo Mbumba que passa a ocupar o cargo de Presidente da República, na sequência da morte do Presidente Hage Geingob, dias antes.
Com longa carreira política e diplomática, NNN ganhou as presidenciais namibianas à primeira volta com 57% dos votos, derrotando o seu principal adversário Panduleni Itula, do partido Patriotas Independentes para a Mudança (IPC, sigla em inglês), que obteve apenas 26%.
Natural de Onamutai, região Norte de Oshana, a nova Presidente da Namíbia, nona de 13 irmãos, filha de um pastor anglicano, muito cedo, aos 14 anos, ingressou na SWAPO e adere à luta contra a dominação do seu país pelo regime do Apartheid da África do Sul.
Quando deixou a Namíbia para o exílio, em 1974, Netumbo Nandi-Ndaitwah presidia a Liga Juvenil da SWAPO em Owamboland, Norte do país. De 1976 a 1978, foi representante e chefe adjunta da SWAPO, na África Central, baseada em Lusaka, capital zambiana.
A seguir, de 1978 a 1980 foi a responsável máxima da representação da SWAPO em Dar-Es-Salaam, Tanzânia, que cobria toda a África Oriental.
Formada em relações internacionais e administração pública, a primeira mulher eleita Presidente da Namíbia estudou na Zâmbia, União Soviética e Reino Unido.
Para além da vice-presidência interina e de vice-primeira-ministra, ocupou várias pastas governamentais, nomeadamente, Relações Internacionais e Cooperação, Negócios Estrangeiros, Ambiente e Turismo, Informação e Media, Mulher, Criança e Bem-estar, entre outras. Foi, também, presidente da Organização Nacional da Mulher Namibiana (NANAWO).
Como líder da NANAWO, destacou-se em diversas iniciativas em defesa da paridade de género na esfera política, área com um predomínio masculino no Mundo. Neste quadro, capitaneou a campanha da SWAPO que culminou com inclusão na Constituição da República de quotas de paridade de género em lugares de tomada de decisão.
NNN deixa também a sua marca nos instrumentos jurídicos aprovados pelo seu pais, em 2002, para combater a violência doméstica, um flagelo transversal a todas as regiões do Mundo.
Fruto da inclusão da Constituição da obrigatoriedade de paridade de género em lugares de tomada de decisão, a Namíbia tem um parlamento paritário, ocupando o quinto lugar no ranking mundial, só atrás do México, Nicarágua, Cuba e Rwanda (com 63,8% de mulheres, ocupa o primeiro lugar de África e do Mundo). Na lista africana, a Namíbia está na segunda posição, de acordo com a União Inter-Parlamentar (UIP).
Neste quadro, a Namíbia adoptou políticas públicas de igualdade económica de género, beneficiando particularmente as mulheres e grupos marginalizados e, contribuindo, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), para a sustentabilidade e crescimento económico do país.
Medidas que facilitaram o acesso das mulheres e raparigas à energia, sua inclusão na liderança em todos os sectores da sociedade. Com isso, as mulheres passaram a liderar os movimentos e acções práticas de protecção do Planeta.
Para medir os progressos da sociedade em matéria de Direitos Humanos das mulheres, as autoridades namibianas criaram mecanismos de avaliação periódica da aplicação das leis em matéria de igualdade de género em todos os sectores.
Auto-intitulada de "fazedora", a Presidente NNN, no discurso de vitória, reconheceu que a sua eleição amplia as portas para as mulheres ascenderem a cargos políticos. Afirmou-se preparada para implementar "reformas sociais e económicas para atacar o desemprego e as desigualdades sociais" que afectam particularmente a juventude, principal segmento da população.
A taxa de desemprego, apesar de ter baixado ligeiramente nos últimos meses, cifra-se nos 19,6% no país com uma população de cerca de três milhões de habitantes, dos quais 51% são mulheres.
Nessa eleição, NNN, para além da sua invejável trajectória política, segundo os media locais, mostrou-se também como uma candidata conciliatória e tolerante que tem o combate pela igualdade no centro da sua acção.
A eleição de NNN, um passo importante no longo caminho pela igualdade de género no continente africano, resulta do avanço da Namíbia em políticas de género, um exemplo único.
Com este escrutínio, a Namíbia engrossa a pequena lista de países do continente que elegeram e/ou nomearam mulheres para a chefia de Estado, desde o início das independências africanas, na década de 50 do século passado.
A liberiana Ellen Jonhson-Shirleaf foi a primeira mulher africana a conquistar o cargo de Presidente da República, através do sufrágio directo, secreto e universal. Prémio Nobel da Paz 2011, pelo seu contributo em prol dos direitos da mulher, a liberiana eleita em 2005 e reeleita em 2011, foi Chefe de Estado entre 2006 e 2018.
Antes de chegar à chefia do Estado, Ellen Jonhson também já tinha um percurso político de destaque. Em 1968, ao assumir a pasta governamental das Finanças, tornou-se a primeira mulher ministra no seu país.
Em Novembro do corrente ano, antes da eleição de Netumbo Nandi-Ndaitwah, a Tanzânia era o único país africano com uma mulher à frente da chefia do Estado. Samia Suluhu Hassan, então vice-Presidente da Tanzânia, ascendeu ao cargo em 2021, após a morte do Presidente John Magufuli.
De 2018 a Outubro passado, Sahle-Work Zewde foi presidente da Etiópia, eleita pelo parlamento, em substituição do Presidente Mulatu Teshome Wirtu, que se demitira, num país de sistema de governo parlamentarista, onde o Chefe de Estado tem responsabilidades essencialmente simbólicas e honoríficas.
Ameenah Gurib, das ilhas Maurícias, foi a segunda mulher eleita pelo parlamento para o cargo de Presidente do país, função que desempenhou entre 2015 e 2018, altura em que se demitiu por causa de um escândalo financeiro.
A primeira mauriciana presidente foi Monique Ohsan Bellepeau, vice-presidente das Maurícias entre 2010 e 2016, que assumiu a presidência de Março a Julho de 2012 e durante uma semana entre Maio e Junho de 2015, na sequência das renúncias, respectivamente, dos presidentes Anerood Jugnauth e Kailash Purryag.
Na República Centro Africana (RCA), Catherine Sanza-Panza, entre Janeiro de 2014 e Março de 2016, chega à presidência, eleita pelo Conselho Nacional de Transição da República, criado depois do golpe de Estado, que derrubou o Presidente François Bozizé, em Março de 2013.
Tal como Samia Hassan, Presidente da Tanzânia, Joyce Banda, então vice-presidente do Malawi, ascende à chefia do Estado depois da morte do Presidente Bingu wa Mutharika, em 2012, e leva o mandato até ao fim, 2014.
Entre Junho e Outubro de 2009, entre a morte do Presidente Omar Bongo e a eleição do novo Presidente, o seu filho Ali Bongo, Roge Francine Rogombé assumiu interinamente as funções de Presidente do Gabão.
Outra presidente africana interina foi Sylvie Kinigi, do Burundi (Outubro 93 e Fevereiro 94), depois do golpe de Estado e assassinato do presidente Melchior Ndadaye, antes da eleição do Presidente Cyprien Ntaryamira.
Por três dias apenas, o mandato mais curto até aqui, de 14 a 16 de Maio de 1984, Carmen Pereira, então presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP), combatente da Luta de Libertação da Guiné-Bissau e dirigente do PAIGC, torna-se a primeira mulher africana Presidente da República, num momento de transição constitucional.
Ao mesmo tempo que percorrem o longo caminho para que a igualdade e liberdade de género no continente tenham estatuto de direito inviolável, as africanas manifestam-se por igualdade de oportunidades. "Como mulheres activistas, não queremos ser atropeladas", adverte Netumbo Nandi-Ndaitwah.