O culto à hierarquia entre nós não é um produto cultural inconsciente. É propositado e visa originar certas atitudes, posicionamentos e tratamentos. É dentro da lógica de quanto mais desigualdade social existe num país, mais subserviência e mais "bajus" pululam nas instituições. O problema de Angola não está apenas na fraca qualidade da sua jovem democracia, o problema está, também, na qualidade e postura dos seus políticos.
Há anos que lidamos com uma geração de políticos arrogantes, sem qualquer grandeza intelectual, com fraqueza de pensamento e que funcionam como uma força de bloqueio ao jornalismo livre. Uma geração de políticos que demonstra um egoísmo extremo, uma exagerada altivez e uma preocupante soberba, e que já está a "contaminar" a geração que lhe segue. A desvalorização do humanismo, do respeito e da cordialidade está a produzir políticos sem o mínimo de certeza daquilo que são, da sua vocação e do papel de servidores públicos.
Qual é o papel do porta-voz de um partido da dimensão, história e trajectória do MPLA? Que relação pretende estabelecer com os órgãos de comunicação social? O candidato João Lourenço tem uma vasta equipa de assessores e auxiliares, e o Novo Jornal não acredita que responder a um questionário de 20 perguntas lhe absorva tanto tempo. Foi mesmo respeitando as prioridades e possibilidades da sua agenda que colocámos como alternativa o envio de um questionário (todos os outros candidatos foram entrevistados presencialmente). Falar e dar entrevistas para os órgãos de comunicação social nacionais também deve fazer parte da agenda de campanha do candidato João Lourenço.
Os jornalistas não precisam de ser temidos por fazerem o seu trabalho. Precisam de ser respeitados pelo trabalho que fazem. Há ainda uma cultura que confunde crítica estruturada e fundamentada com "falar mal" de determinada pessoa ou instituição. Há os que abdicam da defesa da honra e se calam com o medo de serem mal vistos, de serem colocados de parte ou de serem conotados com da "outra parte".
Curiosamente, é o medo que reduz os jornalistas a meros agentes das máquinas de propaganda e ao serviço de interesses corporativos ou de grupos. Que fique bem claro que não é um problema da instituição Novo Jornal com a instituição MPLA. Nada disso! Nem uma questão pessoal do director do Novo Jornal contra o responsável da comunicação do MPLA. É um protesto, uma manifestação de indignação de um conjunto de jornalistas e profissionais dedicados que se sentiram destratados, desprezados e desconsiderados naquilo que entendem ser o interesse público e a nobre missão de informar. É também porque existe um dever de informar os leitores que tinham a expectativa de ter o candidato João Lourenço nesta edição. Faltou e faz falta João Lourenço.
Faltou por razões de agenda e de falta de tempo. Faz falta porque era importante ter as suas ideias, visão e estratégia disponíveis aos leitores e eleitores. É preciso que os políticos deixem de ignorar os jornalistas e percebam a importância e a dimensão da nossa actividade. Só faltou JLo e faz falta!