Os exames nacionais são provas obrigatórias que avaliam o conhecimento dos alunos do ensino secundário e são essenciais para o acesso ao ensino superior. O INADE (Instituto Nacional de Avaliação e Desenvolvimento da Educação) foi a instituição indicada para elaborar e corrigir os exames, e parece que muita coisa parece ter corrido mal. Os estudantes desesperam-se, os pais e encarregados de educação reclamam, as instituições de ensino estão de mãos atadas e o ministério permanece em silêncio.
Há casos em que o sistema aprovou quem não participou nos exames e mandou para o recurso quem participou. Há casos de alunos com notas superiores a 15 valores durante todo o ano lectivo e até com participação em Olimpíadas do Saber no exterior, que simplesmente foram reprovados pelo sistema de correcção.
Muitas escolas admitem ter havido falhas no sistema de correcção, o NJ apurou que, só a nível do Instituto Médio Normal de Educação Garcia Neto, mais de 500 estudantes com apenas uma nota negativa reprovaram, mas os estudantes revelaram também ao NJ online que alunos com quatro e cinco negativas foram aprovados pelo sistema.
Alguns professores reclamam e pedem que se devolva as competências às escolas. Uma fonte do MED garante que a instituição está a acompanhar o processo e "aferir tudo", depois será feita uma conferência de imprensa. O INADE é acusado de estar a agir como árbitro e jogador, uma vez que, por esta via, os exames nacionais são organizados pelo ministério de tutela.
A fonte do MED reagiu ao NJ, dizendo que "em Portugal, o IAVE (Instituto de Avaliação Educativa) é quem faz os exames de certificação e não se coloca tais acusações". O certo é que esta situação está a destapar o estado do ensino em Angola. Evidencia a fragilidade do sistema de ensino, das instituições, dos professores e alunos. Depois de a máquina dos exames e correcções acertarem, vai surgir o ranking das escolas. Sem a certificação, os estudantes não têm acesso ao ensino superior, o tempo urge e a situação agudiza a cada dia que passa. Os exames nacionais são uma verdadeira salada russa.
Salada russa também parece ser a situação dos dois cidadãos que inicialmente eram "supostamente russos", mas que agora o Serviço de Investigação Criminal (SIC) confirma as suas nacionalidades. Ambos são acusados de pertencer a organização Africa Politology, que, alegadamente, actua para promover accões de desestabilização política e social, campanhas de desinformação, manipulação da mídia local, infiltração em processos políticos, fomento da subversão, bem como terrorismo e financiamento ao terrorismo.
Eles estão detidos em Luanda. Foi-lhes aplicada a medida de coacção mais gravosa, a prisão preventiva. "após a detenção dos cidadãos estrangeiros, o Ministério do Interior levou ao conhecimento do Ministério das Relações Exteriores para comunicar a respectiva Missão Diplomática", diz o SIC em comunicado. As autoridades diplomáticas da Rússia negam ter recebido qualquer notificação oficial do MIREX sobre os cidadãos russos detidos, passados quase dez dias. Acrescentam que foi solicitado um encontro do seu cônsul em Luanda com os detidos, mas não foram bem-sucedidos. "Não foi dada ao nosso cônsul qualquer possibilidade de estabelecer contacto com os detidos", avança ainda a fonte.
Os russos terão solicitado informações ao MIREX já na segunda-feira e não obtiveram respostas. O NJ contactou o responsável do gabinete de comunicação do MIREX sobre o assunto, e este afirmou que já haviam contactado a missão diplomática da Rússia em Angola. Questionados sobre "quando", "onde" e "quem", ficaram em silêncio. Nem mesmo o envio de prova documental se dignaram enviar. Isto é o início de uma crise diplomática entre dois países com relações históricas profundas.
Vladimir Tatarov, embaixador da Rússia, esteve na manhã desta quarta-feira no Palácio da Cidade Alta para apresentar cumprimentos de despedida ao PR João Lourenço. O certo é que, saindo da audiência, nenhum jornalista lhe terá feito perguntas sobre o assunto. Não terá havido interesse jornalístico em saber se já havia sido contactado pelas autoridades angolanas e se já havia feito alguma visita aos seus compatriotas detidos. Tudo uma verdadeira salada russa.
Um tema que está a criar vários estados de opinião e a gerar debates também nas redes sociais. Tais redes sociais que agora se tornaram o inimigo público número 1. Constou-me que, no último Conselho da República, alguém terá dito que, se tivesse poderes, acabaria com o acesso ao Facebook em Angola. Ao que chegamos. Uma verdadeira salada russa.