Como tem vindo a ser demonstrada, ao longo dos anos, a queda no preço do barril de petróleo no mercado internacional não tem sido o único factor que afecta negativamente a nossa economia, é um facto que instituições democráticas credíveis e fortes, capazes de implementar com sucesso medidas de combate à corrupção, promoção da transparência e outras reformas políticas e económicas continuarão a ser indispensáveis para um bom desempenho económico e social do País.
Objectivamente, o facto de se ter iniciado um combate à corrupção e uma série de reformas políticas e económicas nos últimos cinco anos é positivo. Contudo, diante da actual situação do País, umas perguntas se levantam: As medidas tendentes ao combate à corrupção, nepotismo e a promoção da transparência, bem como as reformas políticas e económicas que se impõem serão irreversíveis e nalguns casos aprofundadas?
Para estas questões são possíveis respostas em dois sentidos. O sentido da resposta pessimista, tudo está em aberto. Usando uma metáfora agrícola, mesmo que a semente tenha de facto sido lançada à terra durante a legislatura que agora termina, ainda estamos longe de garantir que a plantação dará os seus frutos. Pode produzir ou pode morrer por falta dos devidos cuidados.
Ao contrário, as respostas com sentido optimista assinalam que depois dos traumas provocados pela corrupção, falta de transparência, nepotismo e ausência de reformas políticas e económicas, Angola parece ter despertado - fruto da maturidade dos cidadãos e do consenso generalizado de que tais práticas prejudicaram e muito o País. Há razões objectivas para considerar esta última resposta mais plausível.
É certo que militam contra ela alguns factores de peso: sectores fundamentalistas ligados aos principais partidos políticos para quem o combate à corrupção, a falta de transparência e as necessárias reformas políticas e económicas podem inviabilizar o alcance ou a manutenção do poder, visto como um fim em si mesmo; a influência de algumas elites políticas, empresarias, culturais, académicas e até religiosas (envolvidas em todo o tipo de negócios com as instituições do Estado) que temem perder o status-quo, uma questão tabu em Angola - a questão da partidarização do Estado e da Estatização da economia, as quais por não ser muitas vezes reconhecida como um grave erro permitem que se coloquem em frente das instituições do Estado e empresas públicas pessoas despreparadas ou atribuem ao Estado papéis que deveriam ser desempenhados pelo sector privado.
Apesar disto, as razões a favor da transparência e do combate à corrupção são bastante fortes. Primeiro, emerge um consenso nacional à volta da ideia segundo a qual o progresso económico do País depende mais da capacidade do partido que ganhar as eleições de aprofundar e alargar a partilha de poder e recursos existentes de forma transparente e com baixos níveis de corrupção. Ainda que contestados por um número significativo de cidadãos, os resultados anunciados do pleito eleitoral são certamente reveladores dessas tendências.
Segundo, mesmo a classe empresarial, que em grande medida se criou à sombra do Estado e segundo processos denominados "acumulação primitiva de capitais", e os demais cidadãos nacionais e estrangeiros que beneficiaram em certa medida do favorecimento ilícito e de corrupção desejam hoje mudanças, pois entendem deste modo os seus interesses financeiros e económicos serão mais bem salvaguardados.
Terceiro, emerge um influente sector da sociedade civil que pretende ver o País a prosperar e luta por um País onde todos possam ter oportunidades de realização independentemente da sua lealdade política. Tudo isto me faz pensar que apesar da maré de incertezas, estas são as réstias de esperança que sinto em relação ao combate à corrupção, ao alcance da transparência e as oportunidades de maior progresso social e económico nos próximos cinco anos.