Os textos de Luzia Moniz são a verdadeira expressão da liberdade e qualidade de opinião, mas o convite que lhe fiz não foi inocente e faz parte de uma estratégia de maior abertura à chamada "opinião no feminino" aqui no nosso jornal. Além de Luzia Moniz, Alexandra Simeão, Jacqueline Martins, Egna Sidumo, Marissa Moorman, Kuaty Monteiro e Indira Grandhê escrevem com regularidade para o NJ, sem nos esquecermos de outras mulheres que, ao longo deste período, vêm dando (ainda que de forma esporádica e não regular) o seu contributo para a afirmação da qualidade e credibilidade do jornal. A pluralidade, a liberdade e a qualidade da opinião têm sido uma marca do NJ ao longo dos seus 13 anos de existência.
Há muito que se estabeleceu, em certos sectores da comunicação social angolana, formas de controlo e de manipulação da opinião, existindo pessoas e estruturas que definem e orientam quem deve escrever artigos de opinião em jornais, quem deve participar de debates nas televisões e rádios. São uma espécie de grupos de pressão e de influência para legitimar agendas ou obter aprovação social de estratégias de grupos. Interferem na formação de opinião e na avaliação dos factos e impõem a sua própria realidade, de acordo com os seus valores e interesses.
Algumas vezes parecem um clube de amigos de que apenas fazem parte aqueles que reúnem os requisitos previamente definidos, outras vezes parece muito mais do que isso. É mesmo parte de uma ampla e estruturada estratégia para definir (ou mesmo decidir) quem tem o direito de opinar, quem deve ter espaço para escrever, voz para falar e espaço para aparecer em horário nobre das TV"s. Quem estiver em desacordo com a estratégia imposta ou com o discurso que se pretende oficial, quem não estiver alinhado com a estratégia de grupos ou ao serviço de certos interesses não pode fazer parte da confraria da opinião.
Nalguns casos e níveis, a confraria da opinião funciona como uma irmandade, na qual ideias, valores e visões devem ser amplamente espalhados e fazer que sejam vistos como um poço de virtudes. Noutros casos e a outros níveis, a confraria da opinião procura a manutenção da hegemonia de pensamento, busca poder e autoridade. O direito de opinar engrandece, dá visibilidade, influência e projecta os "opinion makers" para outros voos.
Os órgãos de comunicação social são os veículos privilegiados e fundamentais para a estrutura e estratégia de confrades funcionarem, são o palco necessário para que o "show" prossiga. Esses confrades, previamente "filtrados" e seleccionados, são parte integrante de uma "ditadura de opinião", em que só existe uma verdade oficial, e as agendas e temas são impostos e debatidos até à exaustão para influenciar o pensamento. Define-se um tema central e todos os outros passam a ser secundários. Num País com elevado índice de desemprego, com uma preocupante taxa de suicídios e certos distúrbios sociais, não se discute a saúde mental, por exemplo, a "orientação central" é a imposição de uma agenda mediática em torno de uma proposta de revisão pontual da Constituição.
As confrarias de opinião são uma espécie de ditaduras silenciosas com imposição de padrões de pensamento e alinhamento. Os confrades precisam de marcar presença e de defender interesses e posições. A estratégia é também passar a ideia de que, finalmente, se fez luz e que os "iluminados" confrades têm a solução (ou representam quem a tem) para todos os problemas.
O mundo virtual não é esquecido e as plataformas digitais funcionam também como importante palco de exposição dos pensamentos dos confrades. Grupos de whatsap são criados para o efeito, permitindo que as diferentes confrarias de opinião transmitam e imponham o pensamento orientador sempre sob o olhar silencioso dos que mandam. A confraria da opinião é uma instituição que já marca posição dentro de uma agenda de quem tem poder de decisão e que aniquila toda a oposição ao pensamento dominante. E a procissão ainda vai no adro.