Esta evolução foi gradual, cada passo com muitíssimos anos de intervalo, e terá percorrido um percurso longo e fascinante: após os primeiros traços e os desenhos nas paredes das cavernas, os arremedos de sinais gráficos que antecederam um sistema coerente de escrita foi surgindo, brotando do génio de cada povo (respondendo às suas necessidades administrativas, económicas, místicas, artísticas), em variadas formas, pelo mundo fora. Mas parece ser consensual a atribuição aos sumérios, que viviam na parte sul da antiga Mesopotâmia (hoje Iraque), o primeiro esforço sistematizado de utilização de símbolos num suporte físico, tábuas de argila, para arquivar a informação que produziam. Isso foi há 5500-5000 anos, estando ligado ao desenvolvimento das sociedades, fruto da agricultura e produção de excedentes, e a concentração de pessoas em agrupamentos maiores, a que chamaríamos cidades, que obrigavam a uma gestão mais complexa da riqueza, que, com o surgimento das classes dominantes - onde a religião cumpria um papel primordial - estabeleceram a obrigatoriedade de pagamento de impostos. Nasceu a escrita cuneiforme.
Os egípcios com os seus hieróglifos, e, particularmente, os fenícios, renomados comerciantes da antiguidade, que foram os criadores do primeiro alfabeto (só com consoantes, a que os Gregos agregaram as vogais) elevaram a utilização dos símbolos gráficos a outros patamares. Não só sistematizando-os, mas utilizando outros suportes mais convenientes que a frágil tabuinha de argila. O papiro (de origem vegetal) e o pergaminho (de origem animal), foram avanços importantes, pois tornaram o registo não só mais fácil de ser executado, mas guardado e transportado. Até que surgiu o papel. Por incrível que pareça, a invenção do papel - que surgiu na China onde a escrita, na forma ideográfica que se mantém até aos nossos dias, já tem 3500 anos de existência- até tem data: 11 de Março de 105 Antes da Nossa Era, quando Tsai Lun terá apresentado as primeiras tiras de papel ao imperador Han Ho Ti. Do rolo, que era a forma comum de armazenamento do papiro e do pergaminho, passou-se para o livro.
Se, nos primórdios, a necessidade económica e mística esteve na origem dos registos escritos, estes foram tendo a sua utilização cada vez mais alargada e essencial para a propagação das ideias. Não é por acaso que as religiões mais importantes são as que tiveram um Livro com a Palavra do(s) seu(s) Deus(es). Os Upanishads, os Vedas, o Tripitaka, a Torá, a Bíblia, o Alcorão.
Histórias fantásticas uniram o passado e o presente, como a Ilíada e a Odisseia, Ramayana e Mahabharata, A Divina Comédia ou Don Quixote. E o livro passou a ser um elemento fundamental na transformação das sociedades. Sócrates só existiu pela pena de Platão.
A apropriação individual do que viria a ser a forma mais poderosa de comunicação entre os humanos, a escrita, veio a tornar-se uma marca da sua individualidade, expressa, finalmente, na assinatura que utilizam profusamente para se comprometer. Um sinal da sua existência.
Os países ganham outra dimensão através dos livros que os seus autores produzem. E Angola não é excepção. A União dos Escritores Angolanos, no entanto, tem vindo a viver uma situação extremamente difícil. Precisa de apoio urgente. É caso para parafrasear um outro livro que fez História alimentando movimentos que transformaram sociedades:
- Escritores do Nosso País, Uni-vos!
No princípio era o verbo, mas é o livro que o consagra. E torna perene. Que essa instituição, a primeira a ser criada no pós-independência, tenha longa vida. E, para isso, precisa de atenção. Agora.