A polémica em torno do Novo Aeroporto de Luanda, que recebeu o nome de António Agostinho Neto, levou a que se questionasse o Executivo de João Lourenço em relação aos critérios para a atribuição ou indicação de nomes e títulos. Agostinho Neto tem já um Aeroporto Internacional em Ponta Negra (Congo - Brazzaville), um memorial, a maior universidade pública tem o seu nome, tem o Aeroporto 17 de Setembro (data do seu nascimento) em Benguela, tem uma estátua no Largo da Independência e vários bustos pelo País, tem um prémio literário, a mais alta condecoração nacional, tem ainda o dia 17 de Setembro como o dia consagrado ao Herói Nacional.

Eu defendo que era a altura de se discutir uma data para os heróis da nossa Pátria, não é aceitável que Angola tenha apenas um herói nacional, era tempo de os historiadores olharem e incluírem outras figuras que também merecem o estatuto de heróis nacionais e que possam ter uma data, um dia em que são honrados e homenageados, ao exemplo do que acontece nalguns países do nosso continente. Também é importante que líderes de diferentes movimentos que tiveram importante papel na luta de libertação nacional tenham espaço, sejam conhecidas e discutidos.
Outro dado importante é que, a nível do próprio MPLA, pouco se fala ou se discute sobre a figura dos fundadores do partido. Durante anos, caíram no esquecimento, raramente eram exaltadas nos congressos do MPLA. Grande parte dos seus militantes desconhece os "Pais fundadores" do partido. Há tempos falava com dois militantes do MPLA, e eles não conheciam os fundadores do partido e tinham a ideia de ter sido Neto o seu fundador e primeiro presidente. Lúcio Lara, Viriato da Cruz, Hugo Azancoth de Menezes, Mário Pinto de Andrade, Eduardo Macedo dos Santos e Matias Miguéis são figuras cuja história e trajectórias deviam ser mais divulgadas internamente e pelo País. É um sinal de que algum trabalho deve ser feito, e alguma discussão deverá começar a ocorrer.

Não sou "eduardista", nem acredito numa alegada corrente ou alas com este nome. José Eduardo dos Santos governou os angolanos durante 38 anos e, como tal, cometeu também excessos. Criou um sistema que acabou por ser mais forte do que ele e que o "engoliu". Alimentou o nepotismo, promoveu a bajulação e enriqueceu os seus camaradas e companheiros do MPLA. Falhou em muitas situações, mas também teve mérito noutras. É indiscutivelmente a maior figura política e diplomática das últimas quatro décadas em Angola. Conduziu o País para a transição ao multipartidarismo, garantiu a defesa da soberania nacional, união e integridade territorial. Conduziu-o para um processo de paz, unidade e perdão nacional. É estranho e injusto que hoje seja praticamente "apagado" da história e seja visto como um "leproso político".

José Eduardo dos Santos foi o primeiro ministro das Relações Exteriores de Angola e, até hoje, o 12 de Novembro, o Dia do Diplomata Angolano, é em homenagem ao primeiro dia de trabalho do primeiro titular do MIREX (12 de Novembro de 1975). Hoje, o MIREX tem uma academia com o nome de Venâncio de Moura, um auditório Afonso Van-Dúnem "Mbinda", uma sala com o nome de Paulo Teixeira Jorge, mas nem tem um corredor com o nome daquele que foi o seu primeiro titular e figura que esteve presente nos momentos mais importantes da nossa diplomacia.

Penso que não há necessidade de agir na estratégia de "excesso" de Neto para "apagar" JES, quando ambos têm espaço e papel na história. Faz lembrar a recente visita de um Presidente ao nosso País, várias vezes a convite de JES, e a quem ele destacou como a sua maior referência política, mas que não se cansou de fazer várias citações de poemas de Agostinho Neto e esqueceu-se literalmente de José Eduardo dos Santos. Essa é a Pátria de Neto e também de muitos outros.