Foi um momento sublime em que o Presidente Agostinho Neto discursou e declarou que "África parece um corpo inerte, onde cada abutre vem debicar o seu pedaço".
Jantámos nesse dia e apesar da diferença das nossas idades, germinamos uma boa amizade.
Angola não tinha altos funcionários nos órgãos das Nações Unidas e da Organização de Unidade Africana. França Van-Dúnem já era um quadro de referenciação da nossa diplomacia naquela época imberbe da nossa Independência.
Cimentámos a nossa amizade em Luanda, nas suas visitas ao País.
O Embaixador França Van-Dúnem foi um insigne diplomata que participou de todo o processo de negociações com os Americanos, Cubanos e Sul- africanos no âmbito da implementação da Resolução 435/78 sobre a Independência da Namíbia.
Esteve presente com a sua sagacidade na arquitectura dos Acordos Quadripartidos de Nova Iorque que proclamaram a implementação da Resolução 435/78 do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a Independência da Namíbia, tendo todo esse percurso e desempenho levado à sua prestigiante nomeação como Primeiro-Ministro do Governo de Angola em 1991.
Como Primeiro-Ministro, cruzei-me com ele, em Portugal, na minha qualidade de Embaixador em Lisboa e acertámos estratégias para a resolução dos problemas sensíveis com os bolseiros e doentes em Portugal.
Enquanto Professor Doutor, França Van-Dúnem foi um catedrático que industriou novas gerações no ofício da advocacia, bebendo da sua sapiência como se edifica a jurisprudência e ciências jurídicas de uma nova Nação.
Registo com muito orgulho o seu testemunho no Prefácio do meu livro "ANGOLA-EUA, Os Caminhos do Bom Senso" em que vagueia pelas suas ricas e históricas vivências do complexo processo negocial com os Estados Unidos da América e África do Sul para a abolição do Apartheid, na África do Sul, Independência da Namíbia e início da resolução da guerra em Angola.

Com a morte de Fernando França Van-Dúnem apaga-se mais uma enciclopédia do conhecimento, da política e da diplomacia, cuja ausência será muito sentida, mas a memória sempre viva e perene.

*Embaixador de carreira