Resultados e estatísticas dos jogos de preparação, informação institucional e entrevistas a diferentes membros do grupo que há sensivelmente dois meses prepara a competição na Europa têm sido postas à disposição dos interessados, num trabalho cuja utilidade e interesse público se lhe reconhecem. Nesse capítulo, a FAB tem estado à altura das expectativas do grande público e, principalmente, da midia.
Desde o princípio do corrente mês que a conta da FAB no Facebook vem passando declarações de jogadores e técnicos sobre o que será a participação de Angola na prova que termina a 5 de Setembro próximo. Nessas intervenções, há dois aspectos que saltam à vista: todos os atletas pedem a confiança dos angolanos e a maioria fala em reconquista do título. Dos oito atletas entrevistados, apenas dois não fazem referência à recuperação do ceptro perdido em Túnis 2015.
Hermenegildo Santos, Jone Pedro, Pedro Bastos, Edson Ndoniema, Aboubacar Gakou e Leonel Paulo dizem, claramente, que o objectivo é o resgate do título, enquanto Gerson Monteiro "Lukeni" e Teotónio Dó foram mais prudentes nas suas projecções. Curiosamente, na equipa técnica, o "adjunto" Miguel Lutonda foi mais desabrido que o seu chefe, Josep Clarós, e que o seu par, Aníbal Moreira, apontando também para a reconquista. Do modo como funciona a comunicação institucional da generalidade das organizações desportivas (e não só), é razoável inferir que o "alinhamento" demonstrado pelos intervenientes obedeceu a um plano de comunicação.
Angola, que se prepara há já largas semanas, participa pela 20.ª vez na prova, tendo iniciado nessas lides em Marrocos"80, com o invejável pecúlio de 11 campeonatos ganhos. Isso quer dizer que, desde a sua presença inaugural nas lides continentais, conquistou mais títulos que todos os restantes países juntos, o mesmo que dizer 55% dos "Afrobaskets" por si disputados. Essa é uma obra verdadeiramente monumental.
A história de Angola na competição, que se iniciou no Egipto"62, ninguém a apaga e muito dificilmente será igualada tão cedo por qualquer outro país. O "cinco" nacional reinou imperial durante mais de três décadas no pódio africano, no qual subiu pela primeira vez em Alexandria"83 (Egipto). Nenhuma outra selecção permaneceu tanto tempo no estrado da glória. Por esta razão, mas, sobretudo, pelos troféus erguidos, Angola vai liderar por muito tempo, provavelmente por décadas, o quadro de medalhas do basquetebol continental (11 de ouro, 4 de prata e duas de bronze) na classe masculina.
Esta Angola dominadora e temida por toda África, inclusive por selecções que alinhavam com jogadores da supercompetitiva NBA, já não existe. A Angola que se ergueu como "Dream Team de África" durante muitos anos eclipsou-se quase totalmente, ou seja, desapareceu há já algum tempo por várias razões, que não serão escalpelizadas para já neste espaço. Como se diz, estas são contos de outros rosários... que as pessoas mais atentas conhecem de ginjinha...
O quadro real é preocupante. Tão inquietante que, em quase 30 anos de domínio, Angola chega a um "Afrobasket" sem ser a principal candidata ao título maior do basquetebol africano. Desde Túnis"87 que isto não acontecia. E no último campeonato disputado em Rades"17, quando caiu com estrondo do pódio para o sétimo lugar, Angola era ainda a principal favorita à subida ao degrau mais alto do pódio de honra. Afinal, dois anos antes, em Túnis"15, havia chegado à final, que perdeu para a Nigéria (65-74), depois de ter feito uma trajectória algo ziguezagueante, mas que corrigiu de forma assertiva nos "quartos" e nas meias-finais, batendo, respectivamente, o Egipto por elásticos 20 pontos de diferença (83-63) e a anfitriã Tunísia por 58-51, mesmo tendo o público todo contra si.
As promessas de resgate do título feitas por grande parte dos jogadores da Selecção Nacional não nos parecem muito avisadas. Na verdade, dão-nos a impressão de que essa determinação de reconquista se estriba apenas na abastada história do "cinco" angolano, esquecendo-se de que o basquetebol doméstico parou no tempo e não acompanhou a dinâmica de crescimento registada nos principais centros da modalidade no continente. Em tese, os jogadores estão a colocar pressão desnecessária sobre si próprios...
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